Nikola Tesla, a solidão do gênio da luz

Nikola Tesla, a solidão do gênio da luz

Última atualização: 27 junho, 2017

Dizem que Nikola Tesla foi o gênio que iluminou o mundo, e para imaginar nossa vida sem seu legado bastaria simplesmente apagar a luz. No entanto, sua figura é sempre associada à solidão e à incompreensão que comumente acompanham as grandes mentes: sempre complexas, sempre fascinantes.

Uma das frases mais conhecidas de Tesla é aquela que os jornalistas da época imortalizaram e de certa maneira serviu também para perfilar um pouco mais seu estilo veemente e sempre animoso: o presente é de vocês, mas o futuro é meu”.

Talvez tivera razão. Não faltam aqueles que afirmam que sem ele nosso mundo teria os restos de um cenário enigmático, como o bosque silencioso da Bela Adormecida. Um território às escuras, sem rádio, sem televisão, sem gigantescas indústrias e sem o rugido eterno de nossas cidades modernas.

A Tesla devemos a bobina de indução que inaugurou a era do rádio. Também foi ele o artífice do sistema de transmissão que transporta a energia elétrica a nossas casas, o controle remoto, a telegrafia sem fios, os raios de luz violenta, a ressonância magnética. Tudo isso sem citar sua obra de engenharia mais sonhada, porém posteriormente falida, esquecida e até destruída, o projeto “Wardenclyffe”, que tinha como finalidade proporcionar energia livre e sem cabos a todo o mundo .

Para muitos, este homem de origem sérvia sofreu o castigo do esquecimento por ter enfrentado o poder da indústria de sua época e tentar oferecê-la ao povo mais humilde. Seja como for, algo que não se fala tão frequentemente é da personalidade do próprio Tesla, sobre sua psicologia e sobre este universo mais íntimo e pessoal que existia por trás do gênio.

Convidamos você a conhecer um pouco mais sobre sua figura a seguir.

Criatividade e disciplina: a mente complexa de Nikola Tesla

Existem diversos livros que abordam este universo mais profundo e pessoal de Nikola Tesla. “Relâmpagos” de Jean Echenoz é um deles, assim como “Nikola Tesla, personalidade e neurose” do médico sérvio Zarko Trebjesanin. Foi sempre uma pessoa brilhante e com um alto quoeficiente intelectual. Sua genialidade se nutria através de todo um mecanismo que o próprio Tesla começou a praticar desde pequeno: uma disciplina férrea e obstinada.

Quando em sua mente surgia uma ideia, não a abandonava até que lhe dava forma ou simplesmente ficava desmembrada. Sabe-se que dormia pouco, que comia menos e que desde cedo associou que a criatividade exigia regras rígidas, duros horários e um enfoque onde as emoções ficavam obrigatoriamente relegadas. Sua ciência tinha uma vontade de ferro até o ponto em que quis converter-se em um asceta, evitando toda relação afetiva; segundo ele, estes tipos de relações lhe fariam perder a objetividade em seu trabalho criativo.

Isso foi, sem dúvidas, algo de que mais tarde se arrependeu, e em uma entrevista ele acabou se lamentando sobre sua solidão. Admitiu que a tarefa criativa tem muito de paixão, mas que ao mesmo tempo sua mente faminta era também sua grande inimiga: sempre estava cheia de múltiplas ideias e de complexos projetos que o atacavam como tormentas, como relâmpagos aos quais deveria obedecer à força.

Nikola Tesla

Nikola Tesla chegou em 1885 a Nova Iorque. Levava apenas uma caderneta cheia de cálculos, milhares de ideias em sua mente, alguns poemas e quatro centavos em seu bolso, mas sabia muito bem o que queria conseguir. Só um ano depois já havia vendido a patente do motor de corrente alternativa a George Westinghouse e estava imerso no que se conheceu como a “guerra das correntes”, vinculada a seu arqui-inimigo Thomas Edison.

Entretanto, esta mente foi habitada por infinitas ideias, complexos mundos carregados de eletricidade e de sistemas que se conectavam de forma invisível através da distância, que não chegaram a tomar forma no geral. Não pelo menos como ansiava Tesla. Tropeçou em dois grandes rivais: um sistema ferrenho e uma política interessada que não harmonizava com as ideias “arriscadas” de Tesla. Além disso, padeceu de um transtorno obsessivo-compulsivo que lhe tirou o ânimo e a saúde no final de sua vida.

Uma mente nobre, uma mente obsessiva

Os últimos anos de vida de Nikola Tesla foram especialmente complexos. Seu transtorno obsessivo-compulsivo chegou a condicionar muito suas rotinas. Vivia em hotéis, onde sempre pedia 18 toalhas. Quando comia ou jantava, que eram poucas vezes, exigia ter na mesa 18 guardanapos.

Nikola Tesla

O quarto onde se hospedava era sempre o 207 porque este número era divisível por 3. Sua estranha obsessão pelo número 3 e pela ideia de oferecer energia de forma gratuita ao mundo e sem cabos foi lhe tirando a saúde e o equilíbrio pessoal. Seu nível de exigência a si mesmo era tão alto que a neurose alcançou limites incomensuráveis. Os sons lhe causavam dor, se tornou hipersensível. Além do mais, ficou sem dinheiro, porque Tesla não tinha nenhuma ambição empresarial.

Vendeu todas suas patentes e faleceu na mais extrema pobreza, deixando uma infinidade de trabalhos e documentos com os quais outros se tornariam ricos. Nos dias de hoje o nome de Tesla recuperou seu brilho e a luz que não só quis nos trazer o progresso, mas que também tinha um raro altruísmo de alguém que jamais buscou enriquecer, apenas colocar a ciência a serviço da humanidade.


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