A nostalgia é afeto em essência

A nostalgia é afeto em essência

Última atualização: 14 janeiro, 2016

A nostalgia é uma sensação que se debate entre a tristeza e a plenitude. Tristeza pelo que já não está. Plenitude ao reviver a lembrança do que foi. A palavra vem do grego e significa algo como “dor pela volta para casa”.

A nostalgia é a pena por se sentir ausente.

Embora a palavra nostalgia seja de uso comum, ela foi inventada pelo médico Johannes Hofer em 1688. Em sua tese de doutorado, ele analisou os casos de um estudante e um empregado com graves problemas de saúde.

Os dois chegaram a agonizar mas, por diversas razões, cada um foi levado para sua casa para morrer junto com sua família. Milagrosamente ambos melhoraram.

Naqueles tempos, a nostalgia foi considerada um sintoma grave. Se um soldado apresentava esse sentimento, imediatamente era enviado para casa. O mesmo acontecia com os marinheiros.

“Só posso notar que o passado é belo porque a gente nunca compreende uma emoção no seu momento. Ela se expande mais tarde e, portanto, não temos emoções completas em relação ao presente, só em relação ao passado”
– Virginia Wolff –

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O lar e a nostalgia

Ao que parece, a nostalgia sempre está associada a elementos ou sentimentos daquilo que podemos chamar de lar. Na realidade, a palavra “lar” pode ser muito mais complexa do que parece à primeira vista.

Lar é a infância com suas brincadeiras e a constante surpresa frente ao mundo. Lar são todas aquelas pessoas e situações que nos acolhem profundamente, como se estivéssemos em casa. Lar é também a pátria, esse lugar onde não nos sentimos estrangeiros.

Mais que um lugar específico, o lar é um estado da alma. Ele se caracteriza porque possui uma atmosfera de confiança, de paz e de plenitude.

A nostalgia e a memória

A memória é, principalmente, uma função afetiva. Raras vezes lembramos das pessoas e das coisas como elas realmente foram, e sim como sentimos que eram. Nossa memória não é como a dos computadores, que armazenam dados sem modificá-los.

Muito pelo contrário, a memória humana é bastante moldável. Ela nem sempre se ajusta aos fatos como ocorreram, e lhes outorga diferentes significados segundo as circunstâncias.

Esse simples ato cobra novos significados e, por isso mesmo, às vezes atribuímos gestos ou palavras que talvez nunca aconteceram, mas que complementam essa memória afetiva que construímos.

A nostalgia e a saudade

Como nos lembra Milan Kundera, a nostalgia tem uma palavra prima: a saudade.

A nostalgia também pode ser entendida como o sofrimento que vem como resultado da ignorância. Não saber onde está, ou como alguém está. É o que acontece no caso de morte: as pessoas que amamos se vão e algo dentro de nós deseja saber mais delas.

Quem acredita vai querer saber se alcançaram o paraíso ou não. Quem não acredita vai tentar decifrar o significado filosófico ou existencial da morte, dar a ela um lugar no mundo simbólico dos que já não estão.

O amor

Nostalgia e criatividade

Uma universidade norte-americana fez uma experiência com 175 participantes. Todos deveriam criar uma história com base em uma lembrança que lhes produzisse nostalgia.

A história devia incluir uma princesa, um gato, um carro de corrida, ou começar com a frase: “Uma fria manhã de inverno, um homem e uma mulher se espantaram pelo som de um alarme que vinha de uma casa próxima”.

O resultado foi que todos aqueles que conseguiram evocar um evento nostálgico com maior clareza obtiveram uma pontuação significativamente superior a daqueles que não conseguiram trazer para a memória um evento que lhes gerasse grande nostalgia.

Os pesquisadores concluíram que a nostalgia favorece a criatividade. Isso se deve ao fato de que ela desata sentimentos de segurança, pertencimento e significado, o que constitui um excelente apoio para dar lugar à imaginação.

Imagem cortesia de Claudia Plebani.


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