Uma nova visão da natureza da psicose
A psicose é um transtorno mental grave que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. Tradicionalmente, ela costuma ser concebida como uma doença ou condição médica em si, mas a perspectiva transdiagnóstica sugere que podemos entender a natureza da psicose como um sintoma comum em uma série de doenças mentais.
É esta abordagem que vamos tratar neste artigo, atendendo, portanto, a concepção do termo psicose como a forma de designar o fato de que um indivíduo tem experiências sensoriais com coisas que não existem ou crenças sem base na realidade.
Durante um episódio psicótico, o indivíduo pode experimentar alucinações ou delírios; pode ver ou ouvir coisas que não existem. Isso pode ser incrivelmente assustador para a pessoa e, portanto, também para aqueles ao seu redor.
Sintomas da psicose
Os sinais e sintomas clássicos da psicose incluem alucinações, delírios, desorganização, pensamento desordenado, catatonia (falta de resposta) e dificuldade de concentração. Dependendo da causa, a psicose pode aparecer rápida ou lentamente.
O mesmo acontece no caso da esquizofrenia. Embora os sintomas possam se iniciar lentamente e começar com uma psicose mais branda, algumas pessoas podem experimentar uma transição rápida para a psicose se deixarem de tomar sua medicação. Os sintomas iniciais mais leves da psicose podem incluir:
- Sentimentos de suspeita.
- Ansiedade geral.
- Percepções distorcidas.
- Depressão.
- Pensamento obsessivo.
- Problemas para dormir.
As alucinações podem afetar qualquer um dos sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) da pessoa com psicose, mas em cerca de dois terços dos pacientes com esquizofrenia as alucinações são auditivas: eles ouvem coisas e acreditam que são reais quando, na verdade, não existem.
Natureza da psicose: uma nova visão
A psicose é classicamente associada a transtornos do espectro da esquizofrenia e, embora existam outros sintomas, um dos critérios que definem a esquizofrenia é a presença de psicose.
Um relatório recente apresentado pela Sociedade Psicológica Britânica (outubro de 2017) oferece uma visão sobre a natureza da psicose que desafia o conhecimento comum sobre esta doença mental.
O relatório fornece uma visão geral acessível do estado atual do conhecimento, e suas conclusões têm profundas implicações tanto para a maneira como entendemos a “doença mental” quanto para o futuro dos serviços de saúde mental.
Muitas pessoas acreditam que a esquizofrenia é uma doença cerebral aterrorizante que torna as pessoas imprevisíveis e potencialmente violentas e que só pode ser controlada com medicamentos. No entanto, este relatório sugere que esse ponto de vista é falso.
O relatório, intitulado ‘Entendendo a Psicose e a Esquizofrenia: Por que as pessoas ouvem vozes, acreditam em coisas que os outros acham estranhas ou parecem desconectadas da realidade’, levanta questões interessantes sobre essas doenças mentais. Vejamos com mais detalhes:
- Para começar, diz que os problemas que consideramos como psicose – ouvir vozes, acreditar em coisas que os outros acham estranhas ou que parecem estar fora de contato com a realidade – podem ser entendidos da mesma forma que outros problemas psicológicos, como a ansiedade ou a timidez.
- Nesse sentido, segundo o relatório, pensar neles como uma doença é apenas uma maneira de agir, e não é compartilhada por todos os profissionais nem por todas as culturas. Além disso, eles são muitas vezes, em parte ou totalmente, uma reação às coisas que podem acontecer em nossas vidas: abuso, intimidação, falta de moradia ou racismo.
- O relatório também explica que as pessoas que experimentam esses problemas raramente são violentas. No entanto, os estereótipos podem levá-las a sofrer maus-tratos da polícia e dos serviços de saúde mental.
- Outra questão interessante levantada pelo relatório é que ninguém pode dizer com certeza o que causou os problemas de uma determinada pessoa. A única maneira é se sentar com ela e tentar resolvê-los.
- Como resultado, acrescenta que os profissionais de saúde mental não devem insistir para que as pessoas vejam a si mesmas como doentes. Alguns preferem pensar em seus problemas como, por exemplo, um aspecto de sua personalidade que às vezes os coloca em problemas, mas não gostariam de ficar sem eles.
O relatório termina afirmando que é necessário investir muito mais em prevenção de acordo com a maneira como nos tratamos em nossa sociedade. Em particular, a pobreza, o racismo e a falta de moradia devem ser abordados, assim como o abuso, a negligência e a intimidação na infância.
Concentrar recursos apenas em tratar os problemas existentes é como limpar o chão, mas ignorar a fonte de um vazamento.