Um novo amor cura um coração partido?

Um novo amor cura um coração partido?
Daniela Alós

Escrito e verificado por a psicóloga Daniela Alós.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Quando passamos por um término de uma relação amorosa, a dor e o sofrimento que sentimos podem ser muito intensos. Essas sensações podem inclusive nos levar a pensar que o fim da relação é uma situação insuportável, para a qual precisamos de uma solução efetiva e rápida. Algumas pessoas escolhem buscar um novo amor e iniciar uma nova relação para curar seu coração partido e tentar afastar o mal-estar que sentem.

Será que iniciar uma relação imediatamente após um rompimento é a melhor opção? Um novo amor cura um coração partido? Deixar outra pessoa entrar em nossa vida será a cura para todos os males? Devido a consequências inesperadas que essa situação pode ter, não podemos generalizar a resposta. No entanto, esta é uma opção que deve ser analisada com muita cautela. Vejamos a seguir.

Os términos dos relacionamentos

O fim de uma relação amorosa é algo muito comum. Na verdade, eles ocorrem diariamente, por diversos e diferentes motivos. Ciúmes, fim do amor, inseguranças, desconfiança, caminhos de vida distintos, modos diferentes de pensar, falta de tolerância no casal… Existe uma infinidade de razões que podem levar ao fim de um relacionamento.

Mulher na beira de lago

A sociedade muda ao longo do tempo, e ela certamente mudou muito nas últimas décadas. Com isso, os tipos de relacionamento também mudaram. Hoje em dia não é estranho encontrarmos pessoas que trocam de namorado o tempo todo. Em muitos casos, elas o fazem sem parar para pensar e entender o que pode estar acontecendo com elas.

Ainda que, por sorte, não sejam tantas as pessoas que ficam pulando de relacionamento em relacionamento, podemos observar que essa velocidade em que ocorrem as mudanças, inclusive no campo dos relacionamentos, é algo muito característico da nossa época. É possível que esse seja o motivo de terem criado essa crença popular de que um novo amor cura um coração partido.

Agora, ter que enfrentar tudo que o rompimento de uma relação implica é difícil. Pode até ser terrível, mas infelizmente é necessário. No fim das contas, trata-se de um processo de luto e isso implica dar um passo de cada vez, com diversas fases ou etapas que temos que atravessar para conseguir alcançar novamente um equilíbrio emocional.

O que acontece quando uma relação termina?

Angústia? Medo? Solidão? Todas essas emoções e muitas outras aparecem de forma desorganizada quando passamos por um término. O que acontece é que uma ruptura dessas causa, necessariamente, mudanças nas nossas vidas. Precisamos lidar com a incerteza que surge e com a dor que o coração partido provoca. As coisas não serão mais como antes… A rotina diária será diferente e estará impregnada de memórias da outra pessoa, o que tornará obrigatório enfrentar sua ausência na nossa nova realidade.

Quanto terminamos um relacionamento, perdemos o lugar que ocupávamos anteriormente na vida da outra pessoa. Há uma parte da nossa identidade que se perde com esse término, enquanto em nosso interior aparece um novo vazio, com o qual não sabemos o que fazer. A dor de um coração partido nos leva a agir sem pensar.

Por esse motivo, muitos de nós acabamos optando por iniciar uma nova relação ou até mesmo uma aventura na tentativa de fazer algo com essa profunda sensação de vazio. Essa é uma forma de enfrentar a realidade que pode trazer uma diminuição da dor do rompimento e uma distração das memórias que insistem em aparecer, sejam elas bonitas ou dolorosas.

“A dor de um coração partido pode nos levar a agir de maneira impulsiva na tentativa de curar a dor”.

A dor do término pode diminuir se a ignorarmos com um novo amor?

Iniciar uma relação pouco tempo após um término pode ser um analgésico para a dor que estamos sentindo. Não necessariamente, no entanto, a estratégia vai funcionar como uma cura para o coração partido. Imaginemos que o rompimento amoroso é como se fraturássemos uma perna. Se nós tomarmos um analgésico sentiremos menos dor, mas não estaremos tratando o verdadeiro problema.

Quando decidimos estar com outras pessoas mas ainda não esperamos o tempo necessário para assimilar o acontecido, podemos levar muitos aspectos e dificuldades da antiga relação para a nova. Podemos ver defeitos onde eles não existem. Ao contrário, se passarmos por todo o processo de luto corretamente, poderemos rever todo o papel que aquela relação cumpriu na nossa vida, o que podemos aprender, e liberar os sentimentos que ficaram presos com a perda para assim começar uma nova relação da forma mais saudável possível.

Um exemplo de levar os problemas da relação antiga para a nova são as comparações que podemos acabar fazendo entre o nosso amor anterior e a pessoa que estamos conhecendo. Também podemos ter medo de que a história se repita, levando junto conosco a desconfiança e os ciúmes. Tudo isso será consequência de não esperar o tempo necessário para realmente se curar, para voltar a se sentir seguro e para poder se entregar novamente.

Se não dermos um tempo entre as duas relações, rapidamente começarão a aparecer a tristeza e a mágoa, pois inevitavelmente teremos lembranças da antiga relação. Podemos ficar com raiva e repetir padrões do que aconteceu de errado no relacionamento anterior. Resumidamente, começaremos a viver o processo de luto que não foi vivido, mas estando com uma outra pessoa. Isso, longe de favorecer a nova relação, pode transformá-la em um laço tóxico ou de dependência.

Homem olhando pela janela

O fim de um relacionamento causa um processo de luto que deve ser respeitado. Superar o fim não implica esquecer o ex, e sim lembrar sem dor. Só assim poderemos iniciar uma nova relação de forma saudável, sem que isso cause um desespero para ficar com alguém de forma a fugir do vazio e da sensação de perda.

Na prática, dificilmente um coração partido será curado com uma nova relação. O mais provável é que apenas o tempo e a reconstrução de si possam curá-lo. Uma pessoa nunca lhe fará superar outra. Precisamos entender a perda e as emoções derivadas dela. Só assim estaremos prontos para deixar uma nova pessoa entrar em nossas vidas.

 “O homem tem duas caras: não pode amar sem se amar”.
-Albert Camus-


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.