Nunca é tarde se o momento é bom

Nunca é tarde se o momento é bom

Última atualização: 24 abril, 2017

Parece cada vez mais aceito que o tempo se constrói momento a momento, acumulando experiências que nos moldam e impulsionam por correntes circunstanciais. O professor de física e cientista alemão Georg Lichtenberg chegou a afirmar que nada nos faz envelhecer com mais rapidez do que pensar incessantemente que já somos velhos.

Pensar que é tarde para alguma coisa é dar asas ao “nunca” e matar oportunidades e ventos de mudança em diferentes âmbitos de nossas vidas. Pense que não é uma questão a analisar em função do tempo que nos resta no dia, na semana ou na vida. É algo que é preciso analisar em função do momento no qual nos encontramos.

“Cuide dos minutos e as horas cuidarão de si mesmas.”
-Lord Chesterfield-

As eternas coisas pendentes

Neste ponto, sempre podemos nos lamentar pelo tempo perdido, o ócio sacrificado ou o hobby abandonado. Tudo isso pode nos provocar uma certa ansiedade. Uma ansiedade que nos leve a remoer pensamentos como “eu não deveria ter largado”, “depois de todo o esforço que eu fiz”, “quando vou ter um tempo para isso”. Por outro lado, propostas inatingíveis podem nos fazer sentir decepcionados com nós mesmos por não conseguirmos alcançar o objetivo definido por estar fora das nossas possibilidades atuais.

mulher-escrevendo-diario

Por outro lado, na hora de definirmos os nossos propósitos, estes costumam girar em torno da incorporação de novas atividades. Isso não é má ideia. Contudo, também é verdade que podemos olhar ao nosso redor, para o que já fazemos ou temos, e virar o jogo.

Trabalhar para melhorar, ampliar a visão a respeito e se aprofundar nisso. Talvez, seguindo este caminho – aparentemente mais modesto – obtenhamos um aprendizado mais rico do que perseguindo objetivos que estão fora de nossas possibilidades a curto prazo, por mais que a princípio pareçam mais atraentes.

“Quando falamos que o passado foi melhor, estamos condenando o futuro sem conhecê-lo.”
-Francisco de Quevedo-

Reinventando um “momento” conhecido

Reinterpretar algum dos elementos que ocupam nosso dia a dia pode trazer muitas coisas se mudarmos o ponto de vista.

Muitas vezes o crescimento não está tão longe quanto pensamos. De fato, simplesmente mudando a perspectiva sob a qual olhamos muitos dos elementos que ocupam nossa vida diária – relacionamentos, condutas, objetos, etc. – podemos fazer grandes descobertas.

Uma infinidade de capacidades e habilidades podem ser potencializadas se mudarmos a abordagem. Para exemplificar, vou me basear em uma experiência pessoal. Durante a época do Natal, em que tive mais tempo livre, comecei uma proposta de reinvenção. Me concentrei em uma atividade que até esse momento fazia de forma automática: a cozinha. Com esta mudança de perspectiva sobre uma atividade que fazia “sem consciência”, percebi que podia trazer para a minha vida mais elementos do que uma simples gostosa e variada dieta.

bancada-cozinha

A cozinha é um elemento que, embora possa ser motivante para alguns, pode ser um pesadelo para outros. Normalmente o reduzimos a algo que serve para socializar, para obter nutrientes e para ativar o paladar. Mas por trás disso existem outras possibilidades que não exploramos ainda, e que tive a sorte de colocar em prática e melhorar.

Muito além do óbvio

Por trás de cada atividade existem qualidades ocultas que podemos obter de cada momento. No meu caso em particular, com a cozinha, descobri várias delas:

  • Criatividade: uma coisa importante na cozinha é a mudança: se atrever a imaginar novos pratos, cozinhá-los e experimentá-los. Essa vantagem está presente nesta disciplina. É verdade que às vezes é melhor se ater a uma receita em especial – principalmente no que se refere a doces – mas isso é uma parte do processo. Pense que este não se finaliza até que não encontre um paladar que deguste o prato. Então, por exemplo, podemos desenvolver a nossa imaginação na hora de criar uma disposição dos elementos ou simplesmente decorar aquilo que tivermos feito.

“Toda semana acontece um desastre na minha cozinha. O alarme de incêndio toca várias vezes, mas isso não me impede de ser aventureiro.”
-Paul O’Grady-

  • Disciplina: a outra cara da moeda. A precisão e os tempos são elementos importantes para muitas tarefas, de forma que para que o resultado seja bom, ambos os elementos precisam estar controlados. Aprender a medir e trabalhar com instruções e passos organizados é uma disciplina que dará uma “boa base” para a nossa criatividade.
  • Paciência: neste caso, existem duas vias. A de ter paciência consigo mesmo e a de ter paciência com a própria disciplina. Respeitar os tempos tanto da aprendizagem em si, como dos processos que realizarmos, é uma parte imprescindível para obter o êxito. De fato, é fácil que a pressa e a vontade de acabar sejam dois fatores que influenciam de forma negativa o resultado final. Além disso, pense que a cozinha, como qualquer atividade de lazer, precisa ser levada em um ritmo diferente do que levamos para enfrentar nossas obrigações cotidianas.

“Não tenho tempo para ter pressa.”
-John Wesley-

  • Memória: podemos colocá-la como um desafio. Ao tentar memorizar as receitas, proporções ou ingredientes treinamos e colocamos à prova nossa memória de curto e longo prazo.
  • Planejamento: atualmente é um elemento fundamental no nosso dia a dia. Saber quando, como e o que fazer em cada momento nos ajudará a focar nosso tempo nas atividades que estamos realizando e não estar de forma constante dando voltas na nossa agenda mental. Então, ter uma agenda estruturada e ao mesmo tempo flexível irá liberar recursos mentais que podemos destinar para melhorar a própria experiência da atividade na qual estamos mergulhados.
  • Tolerância à frustração: falhar. Treinar e continuar falhando. Pensar que não sabemos ou não podemos é um demônio que espreita a todo momento e em qualquer circunstância. Nesta disciplina erramos, começamos novamente, e provavelmente falharemos outra vez. Tudo depende de alinharmos nossas expectativas, analisarmos as falhas e trabalharmos para ir melhorando pouco a pouco.
mulher-feliz

Não gostaria de finalizar sem apontar mais um objetivo: a desconexão do nosso próprio ritmo de rotina e, muitas vezes, de ansiedade. Estar focado em alguma coisa que nos prenda, que faz com que não pensemos em mais nada. Tanto se escolhermos o caminho de se reinventar na cozinha, quanto se escolhermos o restauro de móveis da casa, o scrapbooking… dá na mesma. Encontrar uma atividade com a qual podemos mudar o ritmo é fundamental para o nosso bem-estar.

Olhe ao redor, procure, pare, reinvente, erre, aprenda e desligue.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.