O amor no espectro autista: inicio e desenvolvimento do casal
O amor é um dos temas mais tratados pelo cinema, literatura, pintura, escultura… Para resumir, poderíamos dizer que tem um pequeno espaço em todas as formas de expressão que conhecemos. Porém, raras vezes as particularidades desse sentimento e das relações foram analisadas em grupos minoritários da sociedade. É por isso que, seguindo o caminho da série que estreou recentemente na Netflix, hoje falaremos sobre o amor no espectro autista.
Dentro da gaveta dos transtornos do espectro autista estão agrupados uma série de transtornos que se caracterizam por afetar a comunicação e o comportamento da pessoa.
Graças aos métodos de diagnóstico que temos hoje, esses tipos de distúrbios costumam ser detectados em uma idade muito precoce, o que faz com que a intervenção comece mais cedo e os resultados sejam melhores. Por outro lado, o fato de já manifestarem a sua presença na infância nos leva a considerá-los como transtornos do desenvolvimento.
Voltando para a ficção, talvez um dos personagens mais icônicos nesse espectro seja Sheldon Cooper. Em praticamente todos os episódios da série, testemunhamos as dificuldades que este personagem tem para socializar. Vemos como os seus amigos às vezes têm que fazer um esforço considerável para acomodar sua maneira particular de expressar o que pensa ou sente. Este pode ser um bom ponto de partida para tentar antecipar alguns dos detalhes que o amor no espectro autista irá revelar.
O primeiro encontro apaixonado no espectro autista
O primeiro mito que a série destrói, e para o qual dá uma ênfase especial, é que as pessoas com um transtorno do espectro autista querem ter relacionamentos. Elas podem desfrutar muito de atividades solitárias, mas isso não significa que não sintam o desejo de compartilhar e se apaixonar, ou seja, dividir a sua vida com alguém ou construir uma intimidade.
Esta é, talvez, a primeira barreira que eles têm que quebrar, que os demais sejam capazes de reconhecer essa aspiração. Em outras palavras, em sua maneira de entender a afetividade, o amor se encaixa. Assim, ao longo da série podemos conhecer a história de dois casais que já deram o passo de ir morar juntos. Um caminho que, como eles mesmos dizem, não foi nada fácil.
Porém, o que mais predomina na série é a expectativa de várias pessoas com TEA sobre a possibilidade de um primeiro encontro. Neles, podemos ver um nervosismo que conhecemos e inseguranças que também são familiares, já que não são muito diferentes das nossas. Também podemos ser espectadores de como se dá este encontro e das dificuldades que eles têm que enfrentar.
A comunicação
Em alguns momentos da série-documentário Amor no Espectro, podemos assistir a algumas sessões em que rapazes e garotas com esse transtorno se preparam para esses encontros.
O primeiro ponto a ser trabalhado é o cumprimento. Essa maneira de receber o outro que todos nós temos de alguma forma internalizada é explicitada. Levantar para receber o outro ou manter contato visual durante as primeiras trocas são pontos que também afetam o restante do encontro.
Outra habilidade que geralmente é trabalhada com eles é como manter a conversa viva. Para isso, eles são incentivados a criar uma pequena lista de temas e perguntas que gostariam de fazer um ao outro.
Posteriormente, lhes é proposto que passem para um nível superior, para que a conversa passe de interrogatório para uma conversa mais real em que haja menos possibilidades do outro se sentir intimidado. Dessa forma, é trabalhada uma variação de respostas a partir de uma única pergunta, ou a partir de perguntas derivadas de uma resposta não planejada.
Em todos os casos, os especialistas procuram fazer com que entendam o encontro e a conversa como flexíveis. Uma flexibilidade que eles também ensaiam para não serem muito diretos ou fazer perguntas pessoais que estejam em um nível de intimidade que ainda não alcançaram. Vemos que este é um ponto especialmente difícil para eles.
Conclusão sobre Amor no Espectro
Diante disso, os especialistas passam uma ideia que com certeza teriam transmitido a todos nós no nosso primeiro encontro: podemos aprender a manter conversas interessantes. Por isso é tão importante que as pessoas com transtornos do espectro autista interajam com pessoas que não compartilham dos seus interesses, desconhecidos com quem eles terão que encontrar pontos em comum.
A série em si vale a pena. O fato de já existir um projeto tão corajoso merece que lhe dediquemos alguns minutos. Além disso, como pontos fortes podemos destacar a sua sinceridade: ela nos mostra que é possível que essas pessoas tenham um relacionamento, mas que este também é um objetivo difícil de alcançar.
Na verdade, o que vemos é que a maioria dos encontros acaba não dando certo. Isso nos permite testemunhar o impacto emocional sofrido, mas também como eles se recuperam e acabam se dando novas oportunidades.