O desamparo aprendido

O desamparo aprendido

Última atualização: 16 dezembro, 2017

Quando o abuso se torna um hábito

Quando o assunto é o abuso à mulher, nos questionamos: por que não fugir? No filme “Dormindo com o inimigo”, protagonizado por Julia Roberts, onde ela simula ser vítima de um naufrágio, parece fácil. Porém, para uma pessoa que sofre constantes abusos físicos e mentais, não é tão simples assim. O psicólogo Seligman, por volta dos anos 60 utilizou o termo desamparo aprendido para explicar esse fenômeno.

O que é desamparo aprendido?

Se alguém experimenta situações desfavoráveis por muito tempo, sente-se impotente para lidar com elas. As experiências anteriores mostram que não há como mudar a situação. Seligman, após uma série de estudos com animais em laboratório, submetidos a choques elétricos dos quais não podiam fugir, concluiu que eles aprendiam que suas ações não faziam diferença e eram incapazes de reagir para escapar aos maus-tratos. Depois de algum tempo, mesmo tendo como escapar, os animais ficavam passivos porque aprenderam que era impossível fugir. Esse comportamento passivo se tornou um hábito.

O desamparo aprendido une as vítimas aos seus algozes. Isso não acontece somente em relações amorosas, mas entre pais e filhos, nas relações de trabalho, amigos, etc. Juan José Millás em seu livro “Hay algo que no es como me dicen” diz: Os seres humanos são como peixes coloridos, apesar da beleza alguns agem como canibais. Neste livro o autor narra o assédio sexual sofrido por Nevenka, pelo seu chefe o Alcaide Ismael Alvarez.

“Porque você não se defendeu quando Ismael a assediou? – perguntaram a Nevenka. […]. O processo existencial pelo qual passou Nevenka não deve ser muito diferente do processo do peixe colorido […]. Um dia, logo após o início do relacionamento, o peixe colorido se aproximou e mordeu uma barbatana. Foi um ataque inesperado[…]. O assédio não acontece de repente, é um processo lento. Cada dia uma nova agressão. Quando acontece, você está indefeso e não tem o controle da situação. Você não perdeu as barbatanas, perdeu a vontade, a autoestima e acaba sendo conivente com tudo que lhe acontece.

Como reagir ao desamparo aprendido?

O que fazer quando o desamparo aprendido já dominou sua vida e todas as tentativas se mostraram inúteis?

Não é fácil sair desse círculo vicioso. O desamparo aprendido se caracteriza por uma baixa autoestima. A repetição das  perguntas “porque não fugir”? confundem as vítimas que estão convencidas que é inútil reagir. É uma construção psicológica que permite a manipulação das pessoas, por isso é difícil escapar.

O primeiro passo é reconhecer o desamparo aprendido e procurar ajuda. Os psicólogos comportamentais podem nos ajudar. Todo reflexo condicionado  pode ser apagado. Com ajuda profissional, usando técnicas como a dessensibilização sistemática, vamos apagando esse condicionamento passo a passo. Essa aprendizagem deve ser acompanhada por um grande desejo de recuperar a autoestima, voltando a acreditar em si mesmo. Se podemos aprender algo que acaba nos fazendo mal, podemos aprender coisas que nos fazem bem.

Fotografía cortesía de Abraham Pérez


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.