O erro do adivinho: você sabe o que é?
Todos nós trabalhamos com certas expectativas e, por isso, estamos condenados ao erro do adivinho. Certamente você já pensou que algo iria acontecer de uma determinada forma ou que você iria se sentir de um certo modo.
Além disso, é provável que você já tenha feito prognósticos relativos ao comportamento de alguém. A verdade é que fazemos isso constantemente, todos os dias, a toda hora.
Nós passamos a vida fazendo previsões sobre o futuro. Por vezes temos certeza de que certas coisas vão dar errado sem sequer termos uma base racional para isso. E logo aparece a angústia, tudo por causa do erro do adivinho.
O erro do adivinho é um tipo de distorção cognitiva, um “erro de pensamento”, um “deslize mental” que todos nós acabamos por ter. Por sua vez, as distorções cognitivas têm sido bastante analisadas no contexto da psicoterapia cognitivo-comportamental, especialmente na terapia racional emotiva comportamental. Vejamos no que ela consiste.
A terapia racional emotiva comportamental
A terapia racional emotiva comportamental (TREC) é pioneira em muitas das ideias que apresenta e uma das principais terapias cognitivo-comportamentais. A base teórica e conceitual deste tipo de terapia está na psicologia cognitiva e no behaviorismo.
Este tipo de terapia é uma escola psicológica composta por vários autores que compartilham o uso de uma metodologia científica e alguns princípios básicos. Alguns destes princípios são os seguintes:
- Os indivíduos respondem às representações cognitivas (interpretações, percepções e avaliações) dos acontecimentos ambientais.
- A cognição disfuncional (pensamento errôneo) media a perturbação emocional e comportamental.
- A alteração cognitiva provoca transformações emocionais e comportamentais.
- As cognições ou pensamentos podem ser avaliados e registrados.
O termo cognitivo-comportamental é muito genérico e refere-se a terapias que incorporam tanto técnicas cognitivas quanto comportamentais. Elas têm uma base empírica (observável) e requerem a participação ativa do paciente.
Como dissemos anteriormente, o erro do adivinho é uma distorção cognitiva identificada no âmbito da terapia racional emotiva comportamental. Existem outras distorções cognitivas, mas neste artigo iremos nos concentrar nesta.
Segundo a TREC, quando cometemos estas distorções cognitivas estamos distorcendo a realidade. Como consequência, podemos nos sentir tristes ou ansiosos.
O erro do adivinho segundo David Burns
O psicólogo David Burns inclui o erro do adivinho dentro de outra categoria mais ampla de distorção cognitiva: as conclusões precipitadas. Segundo Burns, as conclusões precipitadas acontecem quando tiramos conclusões que não correspondem necessariamente aos fatos.
Estas conclusões geralmente surgem pela tendência que o nosso cérebro tem de economizar energia no processamento da informação, ou então pela pressa que o contexto em que estamos inseridos pode representar para alcançar essa mesma informação.
Dois exemplos de conclusões precipitadas são a leitura de pensamento e o erro do adivinho. David Burns define o erro do adivinho da seguinte forma:
“É como se estivesse diante de uma bola de cristal que prevê apenas tristeza. Você imagina que algo ruim vai acontecer, e assume esta previsão como um fato consumado (quando efetivamente não o é). Imagine, por exemplo, a bibliotecária de uma escola do ensino médio que repete para si mesma a mesma frase durante os seus ataques de ansiedade: ‘vou desmaiar, vou enlouquecer’.”
Estas suposições não eram realistas pois ela nunca havia desmaiado nem “ficado louca”. E nem sequer tinha qualquer sintoma grave que sugerisse uma iminente e absoluta perda de controle.
Outro exemplo: numa sessão de terapia, um paciente que padecia de uma depressão aguda me explicou por que estava desistindo da sua profissão: “Percebi que estarei deprimido durante toda a minha vida. Minha angústia irá continuar, e estou absolutamente convencido de que este tratamento ou qualquer outro estão destinados ao fracasso”.
Esta previsão negativa sobre seu prognóstico fazia com que ele se sentisse sem esperanças. As melhorias que teve pouco depois de ter começado a terapia mostram o quanto sua profecia estava errada.
Nós não somos adivinhos, então por que insistir em tirar conclusões precipitadas?
Todos nós já tiramos conclusões precipitas para responder ao que nos pediam ou então porque estávamos sem paciência… e logo percebemos o erro que cometemos. Agora, imagine que você liga para um amigo, ele não atende e também não retorna a chamada depois de algum tempo.
Isso faz você se sentir triste quando diz a si mesmo que o seu amigo provavelmente viu a chamada, mas não teve qualquer interesse em retorná-la. Qual é a distorção cognitiva que você estaria cometendo ao fazer isso? A resposta é a seguinte: ler o pensamento dos outros.
Ao se sentir triste, você decide não tentar ligar novamente nem averiguar o que aconteceu. Você diz a si mesmo: “Ele vai pensar que sou um chato se eu ligar de novo. Vou fazer papel de bobo”. Por causa dessas previsões negativas (erro do adivinho), você evita o seu amigo e se sente humilhado.
Três semanas depois, você fica sabendo que o seu amigo não viu a chamada. O que acontece é que toda aquela confusão existiu somente na sua cabeça. Você tomou como certas conclusões que estavam erradas e, por sua vez, fez deduções que estavam ainda mais erradas.
Como acabamos de ver, o erro do adivinho consiste em tirar conclusões precipitadas acerca de fatos sem ter uma base sólida que as sustente. Quando fazemos isso, somos vítimas de uma distorção do pensamento que certamente nos fará sofrer.