O que é a personalidade?
Somos seres únicos e irrepetíveis, e a nossa psicologia é tão individual e idiossincrática quanto a nossa personalidade. Tudo o que vivemos faz a diferença, embora existam experiências que nos marcam mais do que outras. Atualmente, sabe-se que a personalidade possui componentes genéticos e hereditários, além de ambientais.
Mas o que realmente é a personalidade? Tem a ver apenas com as nossas ações ou também com o nosso mundo interior (pensamentos, memórias…)? A verdade é que ela tem a ver com tudo isso e muito mais, e a psicologia da personalidade se encarregou de estudar esse construto. Como? Vamos ver a seguir.
“Todas as nossas experiências se misturam à nossa personalidade. Tudo o que nos aconteceu é um ingrediente”.
– Malcolm X –
O que é a personalidade?
Este conceito já recebeu várias definições. É entendido como um construto hipotético que inferimos do comportamento das pessoas, e engloba uma série de traços característicos do indivíduo. Inclui também o modo de sentir ou pensar, e vai se formando ao longo da vida graças às nossas experiências, principalmente na infância e na adolescência.
Uma das definições mais completas para este conceito é a proposta por Bermúdez (1996), que ao define da seguinte forma: “personalidade é uma organização relativamente estável de características estruturais e funcionais, inatas e adquiridas sob condições especiais do seu desenvolvimento, que constituem os requisitos específicos e definidores do comportamento com que cada indivíduo enfrenta as diferentes situações”.
Para que ela serve? Além de nos definir como as pessoas únicas que somos e nos ajudar a construir a nossa própria identidade, a personalidade nos permite nos adaptarmos com sucesso ao ambiente. Ou seja, possui determinadas características adaptativas.
A psicologia da personalidade
É a disciplina encarregada de estudar o efeito das diferenças individuais de personalidade sobre o comportamento. Especificamente, é um ramo da psicologia que se aprofunda no estudo desse construto e como ele varia entre as pessoas (diferenças individuais).
Um dos autores mais relevantes nesta disciplina é Gordon Allport (1897-1967), psicólogo norte-americano e autor de The Personality (1936). Na verdade, Allport é considerado um dos fundadores deste ramo da psicologia, e colocou uma ênfase especial no caráter único de cada indivíduo e na importância do contexto presente (vs. história passada).
Quais elementos este construto inclui?
A partir desta disciplina, propõe-se que o conceito de personalidade inclua dois grandes grupos de comportamentos ou características do indivíduo. Esses comportamentos incluem:
- O comportamento manifesto (por exemplo, quais ações a pessoa realiza ou quais comportamentos ela tem).
- A experiência privada (ou seja, os desejos, memórias, pensamentos, necessidades, opiniões…).
Assim, a personalidade é um construto distinto de cada pessoa, o que a torna única e irrepetível. No entanto, também é verdade que existem padrões específicos de personalidade (tendências a ser de uma determinada forma), que por sua vez incluem os chamados transtornos de personalidade.
Ou seja, embora cada pessoa seja de uma determinada maneira, existem padrões que podem ser compartilhados por muitas pessoas. Isso é o que chamamos de características, amplamente estudadas pela psicologia da personalidade.
Como podemos estudá-la?
Encontramos três grandes modelos para estudar esse construto. Esses modelos se concentram em estudar o comportamento para estabelecer hipóteses, uma vez que o comportamento nos diz muito a respeito de como alguém é. Existem três tipos de modelos:
- Internistas: o comportamento é determinado por variáveis pessoais.
- Situacionistas: as causas do comportamento são externas ao indivíduo (enfatizam o comportamento).
- Interacionistas: o comportamento é o resultado da interação entre variáveis pessoais e do contexto.
Traços de personalidade e o Modelo Big Five
Os traços de personalidade são o conjunto de características comuns que constituem certos tipos de personalidade. Exemplos de traços seriam: positivismo, alegria, sinceridade, transparência, pessimismo, introversão…
Um dos modelos mais importantes nesta área é o Modelo Big Five, desenvolvido por Raymond Cattell, que considera que existem 5 grandes fatores de personalidade (cada fator inclui uma série de traços de personalidade). Os 5 fatores são os seguintes:
- Extroversão (vs. introversão).
- Neuroticismo (vs. estabilidade emocional).
- Consciência ou responsabilidade (vs. irresponsabilidade).
- Abertura para novas experiências (vs. fechamento).
- Amabilidade (vs. insensibilidade).
Esses 5 fatores (e seus opostos) receberam nomes diferentes, mas todos eles se referem ao mesmo significado. No entanto, de acordo com o modelo, através desses 5 fatores (e seus traços correspondentes) poderíamos definir a personalidade de qualquer pessoa.
Transtornos de personalidade
Como já dissemos, embora cada pessoa seja única, existem padrões que podem ser repetidos com frequência, moldando diferentes tipos de personalidade. Quando esses tipos de personalidade incluem traços extremos, disfuncionais, desadaptativos ou normativamente desviados, então falamos de transtornos de personalidade (TP).
Além disso, para diagnosticar um TP, este deve causar desconforto ao indivíduo ou interferir no seu funcionamento. Os diferentes TPs estão incluídos no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e na CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). Dependendo das suas características, os TPs podem ser agrupados em três grandes grupos (ou clusters: A, B e C):
- A: TP paranoide, TP esquizoide e TP esquizotípica.
- B: TP antissocial, TP limítrofe, TP histriônica e TP narcisista.
- C: TP evitativo, TP dependente e TP obsessivo-compulsivo.
Reflexão final
A personalidade é algo que se constrói, especialmente durante a infância, embora chegue um momento na vida em que a ela se torna especialmente estável (e para sempre). Segundo o psicólogo Luis Muiño, podemos mudar pequenas coisas na nossa maneira de ser, mas a personalidade é o que é.
Ela tem uma base genética, mas também é construída a partir do aprendizado, do contexto, dos relacionamentos e das situações que vivemos. Inclui tudo o que somos por dentro, mas também como nos comportamos externamente.
“A personalidade começa onde as comparações terminam”.
– Karl Lagerfeld –
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- American Psychiatric Association (2014). Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales (DSM-5). Editorial Panamericana.
- Bruno, D. S. (2021). Hacia la integración del enfoque de rasgos y la perspectiva situacional. Revista Electrónica de Psicología Política, 19(47). https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/166588
- Bermúdez, J. (2003). Psicología de la personalidad. Teoría e investigación (vol. I y II). Madrid: UNED
- Boyle, G., Stankov, L., Martin, N., Petrides, K., Eysenck, M., & Ortet, G. (2016). Hans J. Eysenck and Raymond B. Cattell on intelligence and personality. Personality and Individual Differences, 103, 40-47. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0191886916302872
- Cloninger, S. (2003). Teorías de la personalidad. Pearson Education.
- Dweck, C. (2017). From needs to goals and representations: Foundations for a unified theory of motivation, personality, and development. Psychological review, 124(6), 689-719. https://psycnet.apa.org/doiLanding?doi=10.1037%2Frev0000082
- Gordon, A. (1985). La personalidad: su configuración y desarrollo. Herder.
- Librán, E. C. (2015). Manual de psicología de la personalidad. Club Universitario.
- Lim, A. (2023). Big Five Personality Traits: The 5-Factor Model Of Personality. SimplyPsychology. Consultado el 24 de julio de 2023. https://www.simplypsychology.org/big-five-personality.html