O orgulho destrutivo do transtorno de personalidade limítrofe

Em muitos casos, o orgulho destrutivo do transtorno de personalidade limítrofe é somente uma máscara que pretende esconder um forte medo das críticas. Neste artigo, vamos falar da sua origem e dos seus efeitos.
O orgulho destrutivo do transtorno de personalidade limítrofe
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O transtorno de personalidade limítrofe (TPL) é uma entidade diagnóstica que engloba uma série de sintomas, como a impulsividade, a instabilidade emocional, a baixa autoestima e a sensação de vazio. Além dessas manifestações, que são as mais típicas, encontramos outras que, embora não apareçam como tal nos critérios diagnósticos, costumam estar presentes na maioria dos pacientes. Um desses elementos é o orgulho destrutivo.

Os pacientes com TPL são, em geral, pessoas que têm uma sensibilidade altíssima. A dor emocional que sentem por acontecimentos que, para a maioria das pessoas, seriam apenas incômodos, é muito intensa e avassaladora.

Como mecanismo de proteção, as pessoas com TPL decidem se disfarçar com uma “falsa autoestima”. Com esse disfarce, elas vão dando a entender que têm a verdade absoluta e que são os outros que estão errados.

Na verdade, o que está por baixo dessa máscara é um profundo medo de que alguém possa feri-las com uma opinião diferente ou uma contradição.

Portanto, elas tentam convencer as outras pessoas de que a visão delas é errada e se frustram quando não conseguem modificar ou corrigir essa perspectiva. Basicamente, elas não são capazes de tolerar opiniões contrárias porque não conseguem ser flexíveis nesse sentido.

O meio as vê como pessoas com ares de superioridade que tentam impor sua visão da realidade, sem deixar os outros se expressarem livremente. Isso, evidentemente, acaba por afastar tanto amigos quanto familiares.

Como ajudar uma pessoa com transtorno de personalidade limítrofe

Onde nasce esse orgulho destrutivo?

Normalmente, esses disfarces escondem feridas do passado, em específico da infância. Os pacientes com TPL costumam ter histórias de infância muito infelizes.

Quando pequenos, sentiam que seus pais os ignoravam, os deixavam sozinhos e até mesmo os criticavam em excesso de forma punitiva. Portanto, essa busca pela autovalorização constante por meio da desvalorização dos outros tem origem em episódios da própria infância nos quais eles eram desvalorizados.

Um ambiente altamente crítico pode ser assimilado de muitas formas pela criança, e algumas buscam compensar esse sentimento de humilhação por meio da máscara do orgulho destrutivo.

É uma maneira de projetar, sem palavras, a ideia de que ninguém vai voltar a fazer mal a elas como quando eram crianças.

Nesse sentido, é importante que o paciente com TPL entenda que esse adulto que se criou cheio de soberba e hostilidade é apenas uma criança ferida e aprisionada. A raiva não permite a cura das feridas passadas. É apenas um curativo que descola constantemente.

O que é possível fazer no presente?

Entender de onde vem o orgulho destrutivo do TPL é apenas um ponto de partida. É preciso fazer um trabalho constante e árduo no presente. Existem algumas estratégias que podem ajudar a lutar contra esse orgulho destrutivo.

Uma das técnicas consiste em solicitar cartas, whatsapps, mensagens em geral, de pessoas conhecidas dizendo ao paciente algumas qualidades positivas e outras negativas que elas acham que ele tem.

Normalmente, a necessidade de autoafirmação sempre está vinculada a uma ausência de escuta ativa das opiniões dos outros.

Portanto, essa técnica tenta fazer o paciente – sem que a outra pessoa esteja diante dele, presente – se questionar sobre coisas como: não é engraçado que cinco pessoas tenham uma mesma impressão sobre mim? Por que não consigo tolerar que alguém tenha uma visão diferente sobre mim? Qual aprendizado posso tirar disso em benefício próprio?

A ideia é que o paciente questione seu critério rígido e absolutista, e comece a repensar que talvez outras pessoas possam ter opiniões diferentes e que isso pode ajudá-lo a aprender.

Mulher na terapia

As situações improvisadas do cotidiano constituem outro aspecto para trabalhar o orgulho. O objetivo é que os pacientes adquiram consciência da ativação mental e corporal que costumam sentir (tensão, ruminação, respiração acelerada, etc.) quando recebem uma crítica.

Uma vez alcançado esse passo, o segundo objetivo vai ser esperar alguns minutos antes de dar uma resposta.

Quando tiverem conseguido, é importante não iniciar uma conversa com uma linguagem corporal agressiva ou tensa. O rosto deve permanecer relaxado, com um leve sorriso, mantendo o contato visual, mas sem intimidar. Também não é positivo mexer os braços ou as pernas em excesso, nem falar de forma rápida ou imperativa.

O paciente pode responder utilizando frases que se iniciam com “eu acho/penso/acredito que…” , e até mesmo tentar encontrar algo em comum com a crítica “concordo com você que…”. Deve-se evitar os tons absolutistas e a fala constante.

Evidentemente, a reprovação total à outra pessoa não é aconselhável, mesmo que não estejamos de acordo com ela.

Se o paciente com TPL fizer o esforço de respeitar esse processo, vai observar como as outras pessoas vão começar a se relacionar com ele de forma diferente. Elas vão se mostrar mais empáticas, mais receptivas e com mais vontade de passar um tempo junto com ele.


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