Os Doze Macacos: uma distopia atual

'Os Doze Macacos', lançado como uma distopia, não poderia ser mais atual. O filme parecia prever um futuro que nos lembra muito o nosso presente.
Os Doze Macacos: uma distopia atual
Leah Padalino

Escrito e verificado por Crítica de Cinema Leah Padalino.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

A realidade sempre acaba superando a ficção. Nós nunca teríamos pensado que essa frase faria tanto sentido quanto agora e, certamente, se há poucos meses nos tivessem dito que, no século 21, viveríamos uma situação de saúde tão crítica, não teríamos acreditado. Hoje, resgatamos um filme que alertava para um futuro inóspito como consequência de um vírus: Os Doze Macacos (Gilliam, 1995).

A ficção foi superada a tal ponto que a distopia não nos surpreende mais; nem mesmo Charlie Brooker – o criador de Black Mirror – quer dar continuidade à sua série. No entanto, apesar das circunstâncias, nunca é demais revisar aqueles filmes que pareciam prever o que estava prestes a acontecer.

Os Doze Macacos: ficção científica distópica

Já comentamos em outras ocasiões que a distopia, como um ramo da ficção científica, parece nos alertar sobre futuros desoladores e inóspitosFuturos que, por outro lado, podem ser uma consequência direta do nosso presente se não tomarmos as medidas necessárias para evitá-lo.

Assim, a distopia se tornou um gênero especialmente prolífico no século 21 e no final do século 20, já que muitos parecem ter previsto as consequências negativas de um avanço tecnológico sem precedentes.

Hoje, entre todas essas distopias, Os Doze Macacos parece muito mais real do que era esperado. Aquele futuro em que a humanidade foi condenada a viver no subsolo como resultado de um vírus faz mais sentido hoje do que nunca.

O cineasta Terry Gilliam, que já havia saboreado o mel do sucesso com o grupo Monty Python, se inspirou no filme francês La Jetée (Marker, 1962) para criar o conhecido Os Doze Macacos.

Bruce Willis brilha no papel principal, interpretando um homem que, nascido no final dos anos 1980, vê o mundo que conhecia desaparecer devido a um vírus. Condenado a viver no subsolo com o resto dos humanos, ele é enviado em uma série de missões que visam corrigir os erros do passado. Ou seja, entender a origem do vírus e obter amostras que permitam aos cientistas desenvolver uma vacina.

Como antagonista, encontramos um jovem Brad Pitt, que já queria se dissociar do papel do “bonitão” e nos proporciona uma ótima interpretação da loucura. O submundo em que James Cole (Bruce Willis) habita aparece diante dos nossos olhos como sujo, escuro, inóspito e sombrio.

A encenação é tão peculiar quanto o cineasta que assinou o filme. As viagens temporais enquadram um filme que nunca ganhou tanta relevância quanto hoje.

A ficção científica não tem apenas máquinas e viagens no espaço, mas também viagens ao passado (ou presente) a partir de uma perspectiva agonizante e sombria. O futuro pode ser assustador se não agirmos da forma certa no presente.

Longe de se deixar levar pelos efeitos especiais, Gilliam opta por uma abordagem de suspense, em que o protagonista deve desvendar todas as ações que levaram ao que aconteceu para obter a cura ou interromper o avanço do problema.

Como toda distopia, ela nos deixa com um final bastante ambíguo, embora facilmente compreensível, no qual o inevitável parece ser mais forte do que o avanço científico e tecnológico.

A representação da loucura

Não há nada que eu goste mais em Os Doze Macacos do que sua visão da espécie humana através das paredes de um hospício. O personagem interpretado por Brad Pitt, Jeffrey Goines, assume uma especial relevância nessas sequências. De alguma forma, o fato de submeter o herói enviado do futuro, James Cole, a uma situação como o hospício deixa a nossa espécie em bastante evidência.

Da mesma forma, o manicômio se mostra um caos completo diante dos nossos olhos; um lugar que parece excluir todas aquelas pessoas que se distanciam do estabelecido e que, longe de reinseri-los, acaba separando-os completamente da sociedade.

O espectador sabe perfeitamente que James Cole é são, mas o mundo não parece vê-lo da mesma forma e, por isso, ele está sujeito a um ambiente quase mais inóspito e caótico do que o próprio apocalipse.

A exclusão do “louco” remete-me a Foucault e a sua História da loucura nos tempos clássicos, obra em que observa como o “louco” mudou ao longo do tempo e como, da mesma forma, se viu condenado à exclusão.

A representação da loucura no cinema

Não há solução

Por fim, apesar das viagens no tempo e das múltiplas tentativas de Cole de mudar o passado, parece que a mensagem de Os Doze Macacos é clara: não há solução, nem mesmo tentar mudar o passado, pois a história se repete como um ciclo.

A humanidade, de alguma forma, estava condenada a sofrer as consequências do vírus. Portanto, a única solução era procurar uma vacina ou algum medicamento que pudesse aliviar a doença.

Nesse sentido, o papel feminino no filme é interessante, principalmente do ponto de vista atual. A distopia parece ser um gênero que puniu fortemente as mulheres, como vemos em The Handmaid’s Tale ou em V de Vingança. A mulher, por ser frequentemente excluída, parece se encontrar em uma posição de maior vulnerabilidade nas distopias.

O que acontece em Os Doze Macacos? A única personagem feminina relevante é a Dr. Railly, uma psiquiatra que ajudará Cole na sua investigação. O que chama a atenção – como dissemos, a partir dos dias atuais – é o fato de a personagem ser construída em torno de um homem. Um homem que a sequestra e com quem ela acaba desenvolvendo uma história de amor. Mas eram os anos 90, e não vamos questionar esse enredo numa época em que esse tipo de história estava ‘na moda’.

Deixando essa questão para trás, estamos diante de um filme que caminha na falta de esperança, que parece nos deixar com um gosto agridoce e que acaba nos dizendo que “sem remédio, não há solução”. Assim, a humanidade parece estar condenada ao desastre, à inevitabilidade daquele inimigo invisível que nos manteve presos ou, como no filme, escondidos.


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