Os efeitos da maconha no cérebro a longo prazo
O consumo de maconha é um assunto com muitas controvérsias. Dezenas de estudos tentaram determinar seus benefícios e efeitos adversos. Hoje, vamos falar especificamente sobre os efeitos da maconha no cérebro a longo prazo.
À medida que esta substância é legalizada em cada vez mais países, os especialistas se perguntam até que ponto a cannabis e seus derivados são úteis para o uso medicinal, e em que medida são prejudiciais.
Como droga recreativa, a maconha é muito popular. Seu uso terapêutico está bem estabelecido. Produtos derivados da cannabis ou óleos essenciais são usados no tratamento da dor crônica ou da epilepsia.
No entanto, um novo estudo adverte que o consumo da cannabis a longo prazo pode danificar o cérebro.
O consumo de cannabis a longo prazo pode danificar o cérebro
Recentemente, cientistas da Universidade de Lisboa, em Portugal, e da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, realizaram um estudo sobre o uso a longo prazo da maconha e seus possíveis perigos.
Os resultados, publicados no Journal of Neurochemistry , indicam que existe um perigo importante: o consumo regular de maconha pode danificar a memória.
Os pesquisadores se concentraram em um composto semelhante aos canabinoides chamado WIN 55,212-2 e observaram seus efeitos no cérebro. Utilizando ratos como cobaias, os pesquisadores descobriram que, após uma exposição contínua a esta substância, os roedores mostraram “prejuízo significativo da memória”.
Na realidade, eles não podiam distinguir entre um objeto com o qual deveriam estar familiarizados e um objeto com o qual não deveriam.
Chegando a este ponto, façamos um esclarecimento antes de continuar. Os canabinoides são todas aquelas substâncias químicas, independentemente de sua origem ou estrutura, que se ligam aos receptores de canabinoides do organismo e do cérebro, e que têm efeitos semelhantes aos produzidos pelas planta cannabis sativa (maconha).
Efeitos da maconha no cérebro
Através do uso de técnicas de neuroimagem, os pesquisadores também viram que essa substância derivada da cannabis afeta regiões do cérebro envolvidas nos processos de aprendizagem, armazenamento e acesso a memórias.
A exposição crônica a essa substância afeta ainda mais o cérebro, o que impacta a comunicação entre as regiões do cérebro que impulsionam a aprendizagem e a memória, explicam os pesquisadores.
“Nosso trabalho mostra claramente que a ingestão prolongada de canabinoides, quando não utilizada por razões médicas, tem um impacto negativo na função cerebral e na memória”, explicam.
Ana Sebastião, autora principal do estudo, explica que “é importante entender que o mesmo medicamento pode restaurar o equilíbrio sob certas condições de doença, tais como a epilepsia ou esclerose múltipla, mas pode causar desequilíbrios consideráveis em indivíduos saudáveis”. Lembra, por sua vez, que “as terapias baseadas em canabinoides não só têm ações benéficas relacionadas à doença, mas também efeitos colaterais negativos”.
É possível reduzir os efeitos colaterais da maconha para uso medicinal?
Os resultados desta pesquisa são derivados de um estudo prévio realizado pela equipe de Sebastião.
Naquela ocasião, também foi encontrado como um dos efeitos da maconha no cérebro que o uso de canabinoides a longo prazo afeta a memória de reconhecimento. Esse é o tipo de memória que nos permite lembrar de pessoas ou objetos com os quais estamos familiarizados.
Nesse outro estudo, os pesquisadores também sugeriram uma maneira de compensar esse resultado negativo: através de uma droga relacionada à cafeína.
“Esses resultados são muito importantes para o desenvolvimento de estratégias farmacológicas destinadas a diminuir os efeitos colaterais cognitivos das terapias à base de canabinoides utilizadas atualmente, que demonstraram sua eficácia contra vários distúrbios do sistema nervoso”, diz Sebastião.
Olhando para o futuro, os cientistas esperam que uma melhor compreensão dos efeitos nocivos dos medicamentos canabinoides leve ao desenvolvimento de estratégias para neutralizá-los.
Nesse sentido, Neil Dawson, coautor do estudo, explica: “Este trabalho oferece uma informação nova e valiosa sobre sobre a forma como a exposição a longo prazo aos canabinoides tem um impacto negativo no cérebro”.
“Entender esses mecanismos é fundamental para compreender como a exposição aos canabinoides a longo prazo aumenta o risco de desenvolver problemas de saúde mental e problemas de memória, já que somente sua compreensão permitirá mitigar os efeitos”.