Os gigantes da adolescência

Os gigantes da adolescência
Anet Diner Gutverg

Escrito e verificado por a psicóloga Anet Diner Gutverg.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A lenda de Davi e Golias conta a história de um adolescente que enfrentou um gigante enquanto o resto de seu povo tremia na sua presença. Essa narrativa é, de certa forma, uma metáfora para os gigantes da adolescência. Os adultos representam o povo, que têm medo do gigante e não o enfrentam, enquanto David representa nossos filhos adolescentes, que devem enfrentar o gigante Golias, querendo ou não.

A adolescência é uma época de transições e mudanças. Se nossos filhos conseguem superá-la, veremos como resultado adultos mais capazes de encarar esse mundo, de solucionar as dificuldades que aparecerem e de desfrutar a vida. Mas antes, existem alguns gigantes contra os quais será preciso lutar.

Quais são os gigantes da adolescência?

“A adolescência é a conjunção da infância e da vida adulta”
– Louise J. Kaplan

O gigante do corpo

É um dos gigantes mais barulhentos. Os adolescentes vão passar por mudanças nos ossos, na altura e na estatura, no peso e na massa muscular. Os órgãos internos também vão crescer e as características primárias e secundárias vão se desenvolver. Um grande número de mudanças acontece em um curto período de tempo. De certa forma, por causa disso, os adolescentes se sentem desajeitados e inseguros. Eles veem seus corpos como novos e estranhos e precisam de tempo e paciência para se acostumar com isso.

Atualmente, a maioria dos pré-adolescentes tem disciplinas que tratam da sexualidade e das transformações pelas quais vão passar. Por outro lado, também é importante sentar com eles e conversar sobre isso, dando-lhes uma perspectiva fora do âmbito escolar e sempre respeitando o tempo certo de cada um: não queremos que eles deixem de nos considerar uma fonte válida de consulta, e sim o oposto.

Esse gigante tem a ver com o corpo, os hormônios, a fantasia. Encarar esse gigante implica que provarão sua atratividade, idealizarão o amor, sofrerão decepções e se apaixonarão e deixarão de amar com muita intensidade. A outra face desse gigante é o da identidade sexual.

Adolescente com flores no cabelo

O gigante da definição

Na adolescência, nossos filhos sofrerão uma crise na identidade sexual e precisarão se definir de alguma maneira para se sentirem reconhecidos nessa definição. Nela, uma parte será o autoconceito e as emoções que desperta (autoestima). Dentro dessa definição também se encontram os valores, sobre os quais se irá comprovar que há circunstâncias nas quais, sejam elas quais forem, não é fácil ser fiel a eles.

É necessário descobrir diferentes aspectos da identidade:

  • Identidade ocupacional: o trabalho ou profissão que vão desenvolver
  • Identidade social: as amizades e pessoas das quais vão se aproximar
  • Identidade sexual: seu papel social como mulher ou homem, bem como suas preferências sexuais

Nessa fase, nossos filhos começam a compartilhar seus problemas e dúvidas com outras pessoas: professores, irmãos e inclusive jovens da mesma idade ou um pouco mais velhos com os quais é provável que se sintam mais à vontade para conversar. Da nossa parte, como pais, é importante que tentemos entender e respeitar isso. Criar um ambiente aberto em casa faz com que eles se sintam confiantes de que não vamos bombardeá-los com perguntas ou repressões, que vamos ouvi-los quando nos pedirem e que ajudaremos da melhor forma que pudermos.

“Conseguimos perceber que uma criança está crescendo quando ela deixa de perguntar de onde viemos e começa a parar de dizer aonde vai”.
– Anônimo

O gigante da família

A batalha com esse gigante pode ser muito complicada quando os grandes conflitos, brigas e mudanças acontecem. Muitos pais reclamam que perderam seus filhos, que agora são rebeldes, que discutem e passam a manifestar suas dúvidas sobre rotinas e pensamentos até então bem estabelecidos na dinâmica familiar, aspectos que, até aquele momento, não haviam questionado.

Os filhos continuam morando na casa, mas de alguma maneira começam a dar passos de gigante em direção à independência. Uma independência que eles geralmente conquistarão experimentando e errando, independentemente da quantidade de avisos que receberem. É um período de transição no qual eles já não aceitam as ordens dos pais, questionam e buscam novas identificações e seu próprio lugar no mundo.

Para ajudá-los, é importante ter paciência e oferecer um ambiente ao qual possam se sentir seguros para voltar. É importante confiar na educação que lhes foi dada até aquele momento e reforçar suas autonomias, deixando que eles sejam responsáveis por várias tarefas ou confiando que saberão se comportar adequadamente onde quer que estiverem.

“Os jovens sempre tiveram que lidar com o mesmo problema: como ser rebelde e se conformar ao mesmo tempo”.
– Quentin Crisp  –

Mãe apoiando filha adolescente

O gigante dos amigos

Para os adolescentes, os amigos são fundamentais. São as pessoas com as quais eles podem simpatizar, uma vez que também questionam o mundo dos adultos e estão passando pelas mesmas mudanças. Com os amigos, pode-se falar abertamente de todos os temas, sem medo de se sentir ridicularizado ou deslocado. Nesse momento, as amizades são mais intensas e lançam as bases da intimidade na vida adulta.

Os adolescentes são bastante influenciáveis e tendem a adotar tendências como formas de se vestir, música, atividades e até mesmo posições políticas. Ter amigos acaba sendo tão relevante que muitas vezes acabam perdendo a própria voz e personalidade, preferindo seguir o fluxo e não dar opinião para não se sentirem sozinhos. Isso pode gerar problemas na busca pela própria identidade.

Dentro dos grupos, os vícios também podem se propagar devido à pressão social. Os grupos jogam muito com a habilidade de isolar ou rejeitar aqueles que não querem seguir as “regras do jogo”. Os jovens tímidos ou com problemas de personalidade podem passar por muitos conflitos e se tornar muito dependentes. O grupo lhes projeta valores e impede que reflitam de forma individual, pressiona-os e pode fazer com que a responsabilidade pessoal desapareça.

Como pais, devemos incentivar as relações sociais de nossos filhos, ensinando habilidades para se relacionarem melhor. Permita que possam ir à casa de amigos ou que eles venham a sua própria casa para, assim, conhecê-los melhor. Saiba quem são as pessoas com quem seus filhos convivem e demonstre confiança de que seus filhos podem escolher bem suas amizades. Seja tolerante quando não gostar de algum amigo, desde que não veja atitudes de risco.

“O conflito entre a necessidade de pertencer a um grupo e a necessidade de ser visto como único e individual é a principal luta da adolescência”.
– Jeanne Elium

Adolescentes na praia

Embora Davi tenha tido que lutar sozinho contra Golias, não é necessário que nossos filhos o façam. É importante confiar neles e em nós mesmos, confiar que temos as ferramentas para ajudá-los a lutar essa e mais outras mil batalhas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.