Todos já passamos por algo que nos mudou para sempre

Todos já passamos por algo que nos mudou para sempre

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

Cada um de nós já passou por alguma experiência que nos mudou para sempre. É como atravessar uma soleira onde olhamos para trás para descobrirmos com certa tristeza que perdemos algo. Talvez seja a inocência, ou a certeza de que a vida não leva inscrita a promessa de uma felicidade perene.

Dentro do crescimento pessoal costuma-se dizer que as pessoas nascem duas vezes. A primeira vez é quando viemos ao mundo. A segunda, quando temos que enfrentar algum evento traumático. É quando somos convidados a avançar, a crescer com base na sobrevivência emocional, na superação, na resiliência.

“Avançamos sem alegria nos nossos labirintos pessoais, até que de repente encontramos o caminho que nos leva ao paraíso em meio à confusão.”
-Mary Shelley-

Segundo Rafaela Santos, psiquiatra e presidente do Instituto Espanhol de Resiliência, as pessoas costumam passar em média por dois eventos complicados que as colocarão à prova. São experiências que fogem do nosso controle, e para as quais nem sempre estamos preparados. Ao menos aparentemente .

Porque acredite ou não, nosso cérebro tem uma estrutura perfeita que nos encoraja a sobreviver, a tirar forças das fraquezas para voltarmos a abrir o caminho entre tanto emaranhado emocional. Para encontrar a saída entre os nossos labirintos pessoais.

Mas assim como os eventos traumáticos nos obrigam a aprender e a seguir em frente, os eventos positivos também têm poder. O velho ditado que diz que “para aprender é preciso sofrer” tem ressalvas. Porque a felicidade também proporciona sabedoria, temperança e conhecimento.

As pessoas são o resultado de todas as suas experiências de vida, mas acima de tudo, de tudo o que aprendem com elas. Tudo, absolutamente tudo, nos esculpe e dá forma a nossos valores, virtudes e defeitos. O tempo, a nossa mente e a nossa vontade são os grandes arquitetos do que somos.

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Tudo o que passamos nos mudou: a escultura da vida

Diante de uma decepção afetiva temos duas opções: nos agarrarmos à esperança e perpetuar a dor ou assumir o final de um ciclo e seguir em frente. Assim, diante da perda de um ente querido, também existem dois únicos caminhos: ficar arrasado ou olhar novamente para o horizonte. Se pensarmos nisso, poucas vezes temos duas opções tão claras, mas ao mesmo tempo tão complexas.

No entanto, não basta compreender que só existe um caminho correto para que a pessoa reúna toda a sua determinação e vontade para empreender este processo de recuperação. “Entender” e “fazer” são duas dimensões muito complexas no campo psicológico. É como dizer a uma pessoa com depressão que ela deve ser mais feliz. Ela entende, não há dúvida, mas precisa de estratégias, predisposição, ajuda e reforços.

Para dar este salto de fé para o caminho adequado, precisamos de apoio e autoconfiança. Porque a forma como passamos por estas pontes da vida determinará o tipo de vida que iremos ter do outro lado. Se não o fizermos de forma adequada, vamos nos ver suspensos em uma ilha de amargura eterna, onde não há luz ou esperança no horizonte. Ninguém merece uma existência assim.

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Temos que ser capazes de assumir que a vida traz sequelas, no entanto, no fim aprendemos a viver com elas. Não seremos a mesma pessoa, disso não há dúvidas, mas daremos forma a uma pessoa diferente: alguém muito mais forte.

Ser como o bambu, ser como a argila, ser como os lobos

Na nossa linguagem coloquial, costumamos dizer muitas vezes que a desgraça nos “atingiu”. Todo evento traumático é vivenciado como um golpe, apesar de que devêssemos descrevê-lo como uma queimadura, porque é assim que o nosso cérebro o sente.

Os rompimentos de relacionamentos amorosos, por exemplo, provocam uma resposta muito intensa no córtex somatossensorial secundário e na ínsula dorsal, áreas claramente relacionadas à dor física, ao que experimentamos ao sofrer uma queimadura, por exemplo.

Assim, vamos imaginar por um momento o que implicaria perpetuar este estado. Tornar esta dor crônica por não conseguir gerenciar de forma adequada a perda, o rompimento ou esse evento chocante. Nosso cérebro estaria sujeito a um estado de estresse pós-traumático persistente onde a pessoa fica, literalmente, fragmentada.

Para reduzir o impacto dessas vivências, podemos empregar três estratégias simples que podem ser muito úteis também nas dificuldades do dia a dia.

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Três chaves ilustrativas para aprender a ser resiliente

Os recursos psicológicos envolvidos na gestão das mudanças podem ser treinados no nosso dia a dia. Se pensarmos bem, não há um dia em que não devemos enfrentar uma renúncia, alguma pequena mudança ou desafio. Todo momento é bom para adquirir competências adequadas. Só assim estaremos preparados quando a vida nos colocar à prova.

A seguir explicamos três chaves simples para conseguir fazer isso.

  • A sabedoria do bambu. Você vai gostar de saber que o bambu é a planta que cresce mais rápido no mundo vegetal. Mas esse crescimento acontece depois de uns anos em que ele se dedica apenas a favorecer um crescimento interior adequado. Criando raízes, nutrindo-as. Mais tarde, nem o vento mais feroz conseguirá derrubar o bambu. Porque ele é flexível, porque conta com um mundo interior forte e resistente.

Vale a pena imitar este tipo de processo: fortalecer os pilares da nossa personalidade e o nosso mundo emocional para adquirir esta flexibilidade que irá impedir que a adversidade nos atinja até conseguirmos vencê-la.

  • Vamos ser argila e nos adaptarmos às mudanças. Poucos materiais nos dão tantas possibilidades na hora de expressar nossa criatividade. Vamos assumir essa característica, vamos ser capazes de mudar de forma com valentia e originalidade para superar esses momentos complexos.
  • O lobo conhece seus predadores e se defende. Poucos animais são tão ávidos na hora de intuir os seus inimigos. Eles sobrevivem em condições extremas, dão tudo por sua manada, são observadores e sabem lutar.

O lobo, antes de ser feroz, é sábio. Imitar alguns dos seus comportamentos pode nos ajudar a superar esses terrenos complexos que a adversidade nos traz. Porque um coração forte é o reflexo de uma alma que conhece suas prioridades e que não hesita em dar tudo por aquilo que ama .

Imagens cortesia de Jarek Puczel.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.