Passar muito tempo sozinhos nos deixa mais assustados e agressivos

Todos nós precisamos de momentos de solidão de tempos em tempos. No entanto, não é uma boa ideia passar muito tempo sozinho. Há estudos que evidenciam um efeito negativo da solidão crônica no cérebro e, claro, no comportamento.
Passar muito tempo sozinhos nos deixa mais assustados e agressivos
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 14 março, 2019

Nas profundezas do DNA humano há um rastro de milhões de anos que nos leva a sermos sociais. O ser humano precisa de outras pessoas, física e psicologicamente, para sobreviver. Isso não significa que devemos buscar companhia a qualquer preço. No entanto, os outros, de fato, são muito importantes em nossa vida. Dessa forma, a ciência provou que passar muito tempo sozinhos afeta muito o nosso comportamento.

Diversas pesquisas chegaram à conclusão de que passar muito tempo sozinhos pode chegar até a transformar nosso cérebro. É próprio do ser humano compartilhar com os outros. Apesar disso, chegamos a um momento em que isso não é tão fácil para muitas pessoas. Curiosamente, as multidões e seus efeitos são um fator decisivo para nos tornarmos solitários.

solidão  é uma epidemia crescente em todo o mundo. O número de domicílios formados por uma única pessoa vem aumentando lentamente. Nas grandes cidades, as relações de vizinhança tornaram-se tensas e exclusivas. Já existem empresas que vendem companhia por hora. No final, todos sabemos que passar muito tempo sozinhos não é bom. No entanto, nem sempre encontramos uma maneira de romper essa bolha.

“Aquele que procura facilmente se perde. Todo isolamento é culpa”.
-Friedrich Nietzsche-

Não devemos passar muito tempo sozinhos

Um experimento interessante

Uma pesquisa do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) provou que passar muito tempo sozinhos provoca efeitos  significativos sobre o comportamento. Em um experimento com ratos, evidenciou que a solidão levava ao acúmulo de uma substância química no cérebro. Esta os tornava gradualmente mais agressivos e medrosos.

O trabalho foi publicado na revista Cell e foi tomado como um modelo aplicável aos seres humanos. Para realizar o estudo, os pesquisadores isolaram individualmente um grupo de ratos. Impediram que tivessem contato com outros membros de sua espécie por algumas semanas. Em pouco tempo, as cobaias estudadas se mostraram mais irascíveis do que o habitual. Além disso, demonstraram ter mais medo diante de outros ratos e ficaram hipersensíveis a qualquer ameaça.

Quando uma possível ameaça aparecia, os ratos isolados ficavam muito quietos. Permaneciam assim, mesmo muito tempo depois de o estímulo  ameaçador ter desaparecido. Os ratos que continuavam vivendo em comunidade recuperavam a normalidade mais rapidamente. Os primeiros sintomas de todas essas mudanças apareciam duas semanas após o isolamento.

A taquicinina

Outra pesquisa anterior havia demonstrado que a mosca Drosophila também manifestava um comportamento mais agressivo quando isolada. Na ocasião, os pesquisadores conseguiram estabelecer que havia uma substância química  envolvida em tudo isso: a taquicinina. Esta aumentava conforme o período de isolamento avançava.

Os especialistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia queriam comprovar se essa substância também aumentava nos ratos do estudo. Puderam verificar que ocorria o mesmo que nas moscas. No entanto, nos ratos a taquicinina levava à produção de um neuropeptídio chamado neuroquinina. Este era produzido no hipotálamo e na amígdala.

Assim, os pesquisadores evidenciaram que o isolamento prolongado resulta em uma maior produção de neuroquinina. Esta, por sua vez, potencializa comportamentos agressivos e nervosos. No entanto, também verificaram que a administração de um medicamento era capaz de reduzir esses níveis, embora de forma instável.

Não devemos passar muito tempo sozinhos

Há muitas razões que nos levam a nos isolarmos. Às vezes não desenvolvemos habilidades sociais suficientes. Outras vezes nos deparamos com ambientes excessivamente herméticos. Acontece também que nos trancamos tanto em nossas próprias atividades e interesses que progressivamente ficamos como ilhas isoladas. Da mesma forma, é possível que desconfiemos dos outros ou tenhamos medo de não projetar uma imagem atraente.

Passar muito tempo sozinho

Seja qual for a causa, a verdade é que passar muito tempo sozinhos não nos faz bem algum. Isso não nos torna pessoas mais autônomas ou independentes. Às vezes, de fato, acontece o contrário: nos tornamos cada vez mais vulneráveis. Uma inércia se apodera facilmente da nós e nos induz a nos isolarmos cada vez mais. Com o tempo, podemos ficar doentes.

Sempre é possível nos abrirmos para os outros. Como sempre, sair da bolha não é fácil no começo, mas vale a pena, pois é um passo que nos leva a ter uma maior saúde mental. Além disso, estabelecer vínculos com os outros é uma conquista de um valor praticamente insubstituível. Desta forma, torna-se uma necessidade e também uma fonte inestimável de crescimento.


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  • Cuenya, L., Fosacheca, S., Mustaca, A., & Kamenetzky, G. (2011). Efectos del aislamiento en la adultez sobre el dolor y la frustración. Psicológica, 32(1).

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