Como pensam as mentes mergulhadas em um conflito sem fim?

Como pensam as mentes mergulhadas em um conflito sem fim?

Última atualização: 19 fevereiro, 2017

Você se imagina vivendo em um conflito? Acordar todos os dias pensando que existe uma alta probabilidade de que ele poderia ser o último? Infelizmente, há pessoas que não precisam nem imaginar. Essas pessoas são aquelas que vivem dia a dia imersas em um conflito que parece não ter fim.

Chamamos de conflitos intratáveis os conflitos ou guerras que se mantêm ao longo do tempo e para o qual a solução não parece chegar. A solução para esses conflitos é difícil de se obter e sua permanência no tempo produz um grande desgaste sobre as pessoas que vivem neles diretamente, seja em uma posição neutra ou em um dos lados opostos.

Aqueles que são forçados a viver nesta situação por um longo período de tempo acabam por desenvolver estruturas mentais que lhes permitam reduzir as consequências do conflito em suas vidas. O lado negativo é que essas estruturas também dificultam o alcance da paz.

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O que é um conflito intratável?

Os confrontos, para serem considerados intratáveis, devem apresentar certas características. Algumas delas são:

  • Têm um caráter violento. A violência pode ser física, estrutural ou simbólica.
  • Apresentam uma longa duração temporal.
  • O conflito deve ser centralizado e total. A vida é afetada pelo desenvolvimento do conflito; ele é uma preocupação constante e faz com que a satisfação das suas necessidades só se cumpra quando o conflito permite.
  • A segurança é uma necessidade constante nas vidas dos que estão envolvidos no conflito.
  • Há uma percepção de soma-zero. As partes litigantes não reconhecem as necessidades dos seus adversários.

Você conhece algum conflito com estas características? Claro que sim. No momento, a guerra na Síria e no Iraque se encaixa perfeitamente nessa definição, embora não sejam os únicos.

A evolução da mente nos conflitos

A psicologia das pessoas que são afetadas por esses conflitos sofre mudanças. As experiências negativas que têm que enfrentar fazem com que sua estrutura sociopsicológica seja diferente. Esta estrutura é constituída por três elementos que são interligados entre si:

  • A memória coletiva: são as crenças sociais relacionadas à história do conflito e que descrevem o início, a progressão e os eventos mais importantes que ocorrem durante o curso do conflito. É uma memória seletiva que se lembra apenas dos eventos que beneficiam a sua causa. Essa memória coletiva inclui diferentes tipos de memória como a memória popular, a memória oficial, a memória autobiográfica, a memória histórica e a memória cultural. Sua retransmissão é realizada através das notícias.
  • O ethos do confronto: são as crenças compartilhadas sobre as características da sociedade e do significado da identidade social. É uma visão organizada do mundo, que permite que os membros da sociedade entendam o contexto do conflito em que vivem e que guia seus comportamentos. As principais crenças são a justiça dos objetivos do grupo, uma imagem positiva, a vitimização, a deslegitimação do adversário, o patriotismo e a unidade.
  • A orientação emocional coletiva: é a tendência para expressar emoções específicas. As emoções mais comumente expressas são o medo, a raiva e o ódio, mas também a humilhação, o orgulho e a esperança.
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Os conflitos a partir do sofá

Esta estrutura fornece uma explicação clara, holística e significativa da razão pela qual o conflito começou, por que é mantido e por que não vai ser resolvido. No entanto, nós, que vemos tudo da tranquilidade das nossas casas, não temos essa mesma estrutura sociopsicológica.

Nossos pontos de vista sobre o conflito serão diferentes daqueles que estão imersos nele, porque as consequências para alguns e para outros são distintas. É importante compreender essa estrutura na hora de julgar as opiniões das pessoas que vivem o dia a dia imersas em um conflito, a fim de compreender que a resolução do mesmo não será fácil se essas estruturas não mudarem.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.