Pessoas que se sentem alvo de abuso

Há pessoas que percebem o abuso constante das pessoas ao seu redor: bombardeadas por mensagens que machucam e as fazem "sangrar". Aqui estão algumas chaves para tratar esse problema.
Pessoas que se sentem alvo de abuso
Gorka Jiménez Pajares

Escrito e verificado por o psicólogo Gorka Jiménez Pajares.

Última atualização: 09 janeiro, 2023

Você espera que as pessoas ao seu redor te machuquem ? Neste artigo discutiremos sobre como antecipar-se quando ficamos expostos a sermos feridos, humilhados, ridicularizados ou manipulados de uma forma consciente e intencional. Nesse sentido, algumas pessoas acabam acreditando que são alvo de constantes abusos por parte de outras pessoas; uma crença que tem um custo emocional muito alto.

No início dos anos 2000, Jeffrey Young desenvolveu a terapia de esquema (TE). Estamos a falar de uma intervenção especialmente indicada para clientes que têm problemas em definir o que sentem e o que lhes acontece, porque estão bloqueados. Para Young, uma característica dessas pessoas são os padrões de enfrentamento de seus problemas baseados na evitação.

Mulher sentindo rejeição de amigos
A TE é utilizada principalmente para intervir em problemas ligados à personalidade, mas também pode ser aplicada em muitas áreas, como a depressão ou os distúrbios alimentares.

O que é um esquema?

Para este formato de intervenção, um esquema é um padrão aprendido, internalizado e inconsciente de maneiras de processar informações do ambiente. Especificamente, são pacotes de sequências de emoções, pensamentos, memórias, formas de se relacionar com o universo participativo, etc.

Os esquemas podem produzir dor e sofrimento, ou apenas “ruído”. O objetivo da terapia é alcançar a cura do esquema, ou pelo menos fazer com que o esquema produza apenas ruído, em vez de desconforto.

Padrões que produzem dor são chamados de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EID). Você já se sentiu como se tivesse se auto sabotado? É assim que os EIDs funcionam.

O papel do esquema de desconfiança em pessoas que se sentem alvo de abuso

Para Young, existem até 18 tipos diferentes de EIDs. Hoje queremos nos concentrar em um: o esquema de desconfiança e abuso. Este esquema implica desconexão e rejeição com os outros.

As pessoas têm necessidades básicas e universais que devemos satisfazer e, quando isso não acontece, surgem esquemas como o de que estamos tratando hoje. Entre as necessidades que a nível psicológico é importante que cumpramos estão:

  • A necessidade de saber que pertencemos a um grupo, de nos relacionarmos de forma íntima, segura e estável. Além disso, saber que as relações são baseadas em laços mútuos de afeto, amor e carinho. Implica a certeza de saber que somos aceitos por aqueles que amamos.
  • A capacidade de expressar o que pensamos e as emoções que sentimos de forma espontânea, e a capacidade de fazê-lo livremente e sem medo.
  • A certeza de que somos seres autônomos. Em outras palavras, apesar de desfrutar de laços com outras pessoas, nossa identidade é apenas isso: nossa. Implica saber que somos seres individuais e nos sentirmos, neste aspecto, competentes.

Seus laços íntimos são laços seguros ? Você sente a proteção e o calor das relações íntimas e que é livre para dizer e pedir o que quiser e sem medo? Você é independente ou codependente? Estas são algumas das perguntas que podemos nos fazer em relação ao esquema de abuso.

Como se trabalha com o esquema de abuso?

A prática psicoterapêutica da terapia do esquema é complexa. Nesse sentido, vamos dar algumas pinceladas sobre o processo e as técnicas de mudança que podem ser usadas nesse esquema específico:

Mudança no nível cognitivo

A cognição é entendida na psicologia como a maneira pela qual as pessoas processam as informações que vêm do nosso contexto. Refere-se à forma como raciocinamos sobre os acontecimentos que nos acontecem, sobre as memórias que temos a esse respeito e sobre como somos capazes de resolver problemas.

As pessoas que foram vítimas de abuso desenvolvem uma sensibilidade especial. Elas são mais hábeis em detectar ameaças ambientais, por menores que sejam: são hipersensíveis.

O objetivo aqui reside no fato de ajudá-los a reduzir o monitoramento excessivo do meio ambiente.

O objetivo é oferecer pontos de vista alternativos sobre a intencionalidade dos outros nos comportamentos que realizam.

Mudança emocional

As lembranças que essas pessoas têm de situações abusivas passadas são angustiantes. Às vezes, elas são tão dolorosos que, quando a pessoa se lembra delas, sente uma raiva muito intensa. Principalmente quando se lembram dos agressores.

O objetivo aqui é promover a expressão dessa raiva oculta para permitir que ela venha à tona. Para tanto, muitas vezes são utilizadas estratégias narrativas, como a redação de cartas.

paciente em terapia
Para que tudo isso seja possível, é fundamental que, antes, a relação terapêutica se torne uma relação de confiança.

Mudança no nível comportamental

Ser gradual é a chave. O processo de voltar a confiar nas pessoas está longe de ser fácil. Ela precisa ser feita aos poucos e, principalmente, com certeza.

Nesse sentido, trabalhamos a partir de comportamentos que implicam intimidade. Por exemplo, compartilhar memórias e segredos com pessoas com quem nos sentimos confortáveis. Também é fundamental ensinar a colocar limites nos aspectos que nos prejudicam.

Você se defende? Saber se defender é importante quando nos sentimos alvos de abusos. Para isso podemos fazer uso da comunicação assertiva. O fato de estabelecer limites implica também assumir que haverá momentos em que, se os limites são repetidos e deliberadamente ultrapassados, teremos de refletir sobre se vale a pena continuarmos a manter aquele vínculo específico com aquela pessoa específica.

Se você se sente alvo de abuso constante e está longe de saber como resolvê-lo, é provável que seu psicólogo ou psiquiatra de confiança possa ajudá-lo.


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