Por que compartilhamos informações falsas nas redes sociais?

Que meios usamos para nos informar? Eles realmente nos ajudam a estar mais informados ou tornam as coisas mais complicadas para nós? Por que a tecnologia às vezes parece não nos ajudar? Neste artigo lhe contamos!
Por que compartilhamos informações falsas nas redes sociais?
Sara González Juárez

Escrito e verificado por a psicóloga Sara González Juárez.

Última atualização: 27 dezembro, 2022

Não é contraditório que seja mais difícil obter informação em um século em que o acesso ao conhecimento é tão fácil e barato? Não lhe parece que, com tanta tecnologia, passamos mais tempo verificando se as notícias são falsas do que descobrindo? Tudo isso é ampliado com as redes sociais, o meio que a maioria das pessoas usa para se manter atualizado hoje.

A questão das fake news e, em geral, da desinformação, é ampla, complexa e, mesmo assim, um mal que precisa ser erradicado. No entanto, conhecê-la a fundo exige tempo e estudo, por isso vale a pena gastar tempo aprendendo como se proteger de informações falsas e, principalmente, como não contribuir para sua disseminação.

Neste espaço você encontrará os principais motivos pelos quais as pessoas compartilham boatos nas redes sociais, tanto intencionalmente quanto inconscientemente, e como lutar contra isso. O primeiro passo é sempre tomar consciência da realidade, então vamos em frente.

Mulher assustada pelo celular

Divulgação intencional de informações falsas nas redes sociais

Quem se dedica a influenciar pessoas para manipular seu comportamento, seja para fins comerciais ou criminais, sabe que existem formas eficazes de tirar vantagem das pessoas. Vamos ver algumas deles:

  • Ocultação intencional e seletiva de informações: os meios de comunicação são empresas com ideologia própria. Isso obviamente elimina a imparcialidade, mas é necessário dar uma aparência dela. A melhor maneira de manter essa fachada é dar informações verdadeiras, mas editadas.
  • Clickbates: umas das fake news mais abundantes na web são esse tipo de manchete. Eles apelam para a emotividade dos leitores com manchetes atraentes para impedi-los de usar o pensamento crítico. Um exemplo são os típicos anúncios com títulos como “você não vai acreditar que esse alimento faz você perder 10 quilos em uma semana”.
  • Correntes e trotes: tanto nas redes sociais quanto nas mensagens instantâneas, é comum encontrar correntes de mensagens que tentam alertar sobre perigos que não são reais. O objetivo geralmente é coletar dados dos usuários, enganá-los ou espalhar informações falsas de forma massiva.
  • Humor manipulado: embora seja verdade que a sátira sempre existiu como arma política, há uma diferença com seu uso para desinformação. Assim, as pessoas que querem influenciar a opinião dos outros espalham piadas, memes ou publicações humorísticas que incluem intencionalmente informações falsas.
  • Deepfakes: esse tipo de montagem audiovisual digital requer programas de inteligência artificial. Eles são incrivelmente reais, tornando-os ferramentas úteis para quem quer espalhar mentiras quase irreconhecíveis.

Propagação não intencional

Tudo o que foi mencionado acima coloca o leitor em uma posição clara: como evitar ser o veículo de divulgação de informações falsas nas redes sociais se alguém tiver meios de me enganar?

O primeiro passo para isso será, como sempre, detectar sobre quais mecanismos mentais esses boatos tentam operar. Vamos ver isso.

Atalhos mentais (heurísticos)

Diante de uma enorme quantidade de informações sobre eventos que não são vivenciados, a mente utiliza atalhos cognitivos que permitem processar o máximo possível sem ficar saturada. Ou seja, dado o fluxo infindável de dados e notícias que nos chegam através das redes sociais, nossa capacidade de processamento é regulada pelos seguintes mecanismos:

  • Viés de representatividade: classificar alguém em uma categoria com base em novas informações. Por exemplo: “O coronavírus é culpa dos chineses porque comem morcegos”.
  • Heurística de disponibilidade: uma pessoa faz um julgamento sobre a probabilidade de um evento acontecer com base em sua própria experiência e conhecimento, sem levar em consideração o restante das informações. “Uma vez que um homem tocou minha bunda em uma boate, então se eu for a um bar gay, todos os homossexuais vão me assediar.”
  • Viés de ancoragem: formar opiniões e tomar decisões com base nas primeiras informações recebidas. Um exemplo disso são os números da imigração ilegal, que muitas vezes são apresentados como uma invasão de milhões de pessoas malvadas, quando na verdade são poucas e inofensivas, e as pessoas não param para buscar os dados reais.

Falta de atenção

O design atual das plataformas de mídia social é baseado em bombardear o usuário com grandes quantidades de informações. A capacidade de reagir a ele imediatamente e compartilhá-lo com um único movimento do dedo também incentiva as pessoas a automatizar a propagação sem verificá-la.

Ilusão de conhecimento

Com certeza se você domina qualquer assunto acima da média, já deve ter percebido que as pessoas que menos sabem sobre o assunto são geralmente as que têm mais certeza de seu conhecimento. Esse paradoxo é conhecido como ilusão do conhecimento e é perigoso, pois grande parte das informações falsas que circulam pelas redes tentarão fazer com que os usuários acreditem que o que elas oferecem é tudo o que é preciso saber sobre um assunto.

Homem trabalhando no computador

O que fazer para evitar a disseminação de informações falsas nas redes sociais?

Em primeiro lugar, nunca desative o pensamento crítico. Se alguma informação o incomodar, compare-a. E se não incomodar, compare também. Simplesmente, trata-se de automatizar a verificação em vários meios caso os dados coincidam.

Por outro lado, é preciso viver mais devagar. É verdade que o sistema se esforça muito para que a gente não consiga, mas basta parar um segundo antes de cada frase chamativa e fazer a pergunta “isso é verdade?”. A própria busca pela verificação envolve esforço e tempo que, além disso, protege você de continuar consumindo informações sem filtro.

Sempre houve desinformação, sensacionalismo e manipulação das massas. O problema atual não é tanto a sua existência (que também é), mas sim que a informação falsa encontrou um canal de distribuição ilimitado nas redes sociais e, em geral, na Internet. Em um mundo onde os verdadeiros filtros têm que ser pessoas individuais e diversas e a regulamentação oficial ainda é uma piada, a única ferramenta útil é a responsabilidade.


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