Pessoas sem filtro: a sinceridade mal-entendida

Pessoas sem filtro: a sinceridade mal-entendida
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

As pessoas sem filtro não sabem inibir seus sentimentos, pensamentos ou emoções. Por isso, soltam a primeira coisa que lhes vêm à cabeça, sem contemplar as consequências do que compartilham. Com frequência usam sua sinceridade incorruptível como escudo, mas cuidado! Não se deve confundir a verdade com julgar os demais de maneira desagradável, sem fundamento algum e sem que ninguém tenha pedido sua opinião.

É bem verdade que a base de toda relação pessoal duradoura é a sinceridade. Ser honesto implica dizer o que se pensa, mas com respeito, carinho e no contexto adequado. Por exemplo, se você não gosta do novo corte de cabelo de seu melhor amigo, é preferível dizer “Ficou muito bem em você, mas o antigo te favorecia mais” do que um “Não gostei, preferia o outro”. São duas maneiras de dizer a mesma coisa, mas uma pode ferir sensibilidades..

Características das pessoas sem filtro

Falam e depois pensam

As pessoas sem filtro não passam suas palavras pela peneira da reflexão. Soltam sua verdade e depois já observam o alcance de suas consequências. Se machucam os outros, se resguardam no que consideram sua principal virtude: dizer a verdade sempre. São adultos que não têm dúvidas de sua palavra e que levam a sinceridade a níveis extremos. Quando existe uma situação embaraçosa, eles a tornarão ainda mais incômoda.

Por isso, raramente mordem a língua e tampouco costumam ficar com vontade de dizer algo. Seu tinteiro está vazio. Costumam ser muito ativas, extrovertidas, e não suportam os silênciosElas os quebram dizendo a primeira coisa que lhes passa pela cabeça.

Casal discutindo na mesa

Sua sinceridade é valorizada e temida

Quando alguém precisa de um amigo que lhes diga as coisas claras, sempre estão no topo de sua lista. Existem ocasiões em que é fundamental escutar alguém que nos diga o que a maioria realmente pensa. Nestes casos, as pessoas sem filtro são muito apreciadas, principalmente porque o resto do grupo costuma confiar em sua honestidade.

No entanto, se diante de um momento delicado e doloroso elas não medem suas palavras, podem acabar nos machucando. Tendem a fazer lenha da árvore caída. Por isso, como vemos, sua sinceridade é muito valorizada em alguns casos, mas também muito temida em outros. 

Costumam ser muito radicais em suas decisões

Para as pessoas sem filtro não existem meios-termos. Tudo é branco ou preto. Além disso, buscam que os demais sejam igual a elas; na verdade, não entendem que sejam de outra forma. Expressam sua opinião abertamente, sem temor do que os outros possam pensar. Mas, além disso, interpelam os demais para que manifestem sua postura com a mesma sinceridade. Quanto antes, melhor. De alguma maneira, o resto se vê forçado a dizer algo que, sem essa pressão, não diria.

Sempre querem ter a última palavra

Se alguma vez você quiser propor algum plano, tente fazer com que as pessoas sem filtro estejam de acordo. Porque, infelizmente, elas costumam ter a última palavra nas decisões que são tomadas. E se não concordam, manifestam sua discordância e tentam colocar todos de lado. Costumam dominar a manipulação, porque se saem bem em ambientes sociais. É bom tê-las como aliadas, mas são temíveis como inimigas.

Amigos discutindo no trabalho

Como agir diante de pessoas sem filtro?

As pessoas tímidas costumam ter medo delas. Ficarão caladas frente às suas inclemências e assumirão qualquer decisão que for tomada por elas. Por isso, para evitar tal intimidação, é necessário realizar um exercício supremo de diplomacia.

As pessoas sem filtro não prestam muita atenção aos detalhes. Sua atenção tende a se localizar muito rápido naquilo que para elas é o importante. Por isso, funciona bem fazê-las acreditas que são as que têm a última palavra em uma decisão; mesmo que, na verdade, tenha sido outra pessoa que a tenha tomado previamente e implicitamente.

Além disso, é bom fazê-las ver que uma conversa está nos incomodando ou que não queremos fazer algo que ela está nos obrigando. Não se trata de evitar o contato com essas pessoas, e sim de confrontá-las com respeito e mesura. Por exemplo, “Acredito que agora não é o melhor momento para falar sobre isso, resolvemos em outra ocasião”. “Prefiro pensar tranquilamente e depois comunicar minha decisão”.

Não é recomendado se colocar no mesmo nível, porque chegaríamos em um grau de barbaridades conhecido comumente como “sincericídio”. Algo como morrer matando, através da sinceridade mal-entendida.

Na verdade, toda pessoa faz um exercício prévio antes de falar. Dura milissegundos, mas é essencial para avaliar o que vamos dizer. Se nossas palavras não trazem nada agradável nem bom, é melhor se calar. Porque às vezes a ausência das mesmas é melhor e mais gratificante do que uma frase totalmente inadequada.


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  • Walker A. The Ideal of Sincerity. Mind. 1978; 84(348): 481-497.

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