Pessoas viciadas em relacionamentos: escravos do apego afetivo
O mal dos amores existe, é real e as vítimas podem ser contadas aos milhares. Existem pessoas viciadas em relacionamentos que deixam diariamente sua dignidade e amor próprio na área de achados e perdidos, praticando um apego afetivo ao mesmo tempo tóxico e destrutivo. São perfis caracterizados por uma clara imaturidade emocional com a qual o amor se transforma, de repente, em um amargo substituto com graves efeitos colaterais.
As pessoas viciadas em relacionamentos nunca terão um vínculo saudável e feliz, porque elas são reféns dos relacionamentos que têm. Estes casais constroem no dia a dia um cenário de cativeiro, um tipo de ringue de sofrimento no qual são sacrificados todos os valores, todo tipo de princípio moral, emocional e inclusive psicológico.
Assim, e como costuma acontecer em qualquer outro tipo de vício, não é nada fácil romper com um hábito alimentado por essa feroz necessidade: a de ser parte de alguém, a de nos grudarmos aos pés de alguém para nos sentirmos completos, nutridos, realizados.
Quando o cérebro se acostuma com esta dinâmica, com este substituto de amor ruim ou de droga envenenada, acaba sendo muito difícil se desapegar da tão conhecida rotina.
“É preciso amar sendo livre: ‘Eu não preciso de você, mas escolho você.'”
– Walter Riso –
Como são as pessoas viciadas em relacionamentos?
As pessoas viciadas em relacionamentos amorosos são como qualquer outra. Têm seus trabalhos, seu grupo pessoal, seus gostos, suas paixões, suas virtudes, seus defeitos, etc. Com isso queremos expressar uma ideia simples: o vício em amor não tem idade, status, não discrimina e pode acontecer com muitos de nós sem que percebamos. Não nos damos conta, mas o relacionamento no qual estamos pode ter componentes claramente viciantes.
Entretanto, se nos aprofundarmos nas camadas deste músculo que forma a essência das nossas necessidades afetivas, nos daremos conta de algumas coisas. A primeira é de que existem dois tipos de viciados em relacionamentos:
O tipo 1 define aquelas pessoas que sempre precisam ter um parceiro. Seu princípio se resumiria a: “A pessoa não se apaixona por quem quer, e sim por quem ama, mas o importante é amar, ter alguém”.
O viciado tipo 2 age como uma armadilha. Assim que iniciam um relacionamento, ficam presos a ele. Não deixaram o relacionamento acabar, mesmo que seja um relacionamento ruim, mesmo que machuque todos os seus princípios de dignidade.
Assim, esses dois tipos de viciados apresentam características comuns: medo da solidão, falta de uma identidade clara sobre eles mesmos, falta de autoestima, busca constante de afeto e validação do outro. Esses viciados têm comportamentos extremos com o fim de manter o relacionamento, e apresentam uma extrema ansiedade quando percebem que algo não vai bem.
Toda essa sintomatologia que envolve as pessoas viciadas tem o mesmo padrão que um transtorno causado por abuso de substâncias. O cérebro precisa desta dose de apego obsessivo, este nutriente que a presença do outro proporciona, mesmo vindo de um amor problemático e tóxico.
Dessa forma e, pouco a pouco, a pessoa acaba sendo incapaz de regular seu próprio comportamento a ponto de chegar a situações extremas: transtornos de ansiedade, transtornos de alimentação, tentativas de suicídio, etc.
O que as pessoas viciadas em relacionamentos podem fazer para acabar com esta dinâmica?
É muito difícil parar de fumar quando ainda temos um cigarro nas mãos. Por isso, é igualmente complicado deixar um relacionamento vicioso quando a pessoa continua se alimentando das mesmas ideias, de uma nicotina afetiva que destrói o amor próprio.
Há quem chegue à terapia se queixando de que sempre acaba se apaixonando pelas pessoas erradas, pelas pessoas que mais lhes fazem mal. É como se seus cérebros estivessem programados para cair nas mesmas dinâmicas ruins: em vez de aprender com o tempo e com as más experiências vividas, acabam novamente em situações semelhantes. Por que isso acontece? Por que é tão difícil acabar com este comportamento?
Basicamente, porque elas ainda não entenderam a repercussão desta “dependência amorosa”. Porque são vulneráveis, com baixa autoestima, com uma necessidade de apego pouco saudável, e porque precisam trabalhar uma série de aspectos fundamentais. São os seguintes.
Como enfrentar o meu vício afetivo
- É preciso reconhecer o próprio vício nas relações afetivas e as consequências do mesmo. Sejamos honestos com nós mesmos e reconheçamos que algo não vai bem. Precisamos abrir os olhos e praticar o realismo afetivo.
- É preciso entender que o tendão psíquico e emocional de toda relação é o respeito pelo outro e por si mesmo. Sem ele não merecemos amar nem ser amados, porque o que não se respeita, se descuida e despedaça.
- Dessa forma, é importante entender outro aspecto. O apego, a necessidade obsessiva de ter alguém ao nosso lado a qualquer preço e em qualquer situação, por mais mal que ela cause, nos corrompe como pessoas, nos degrada, destrói todo o nosso potencial.
- Frequentemente, fazemos de nossos desejos uma necessidade. Por trás da frase “desejo de ser amado” se escondem muitas necessidades que precisam de exploração e entendimento. Se preciso de reconhecimento, validação ou quero me defender da solidão a todo custo, não tenho porque buscar reféns que satisfaçam os meus desejos. Essas necessidades devem ser saciadas por mim mesmo.
As pessoas viciadas devem dar o primeiro passo e fazer a si mesmas a simples pergunta: O que eu prefiro: um mal de amores ou uma saúde forte? Se a escolha for pela segunda opção, existe apenas um caminho, um simples de aparência, mas que requer um profundo trabalho interno.
Trata-se de trabalhar a própria autoestima, de construir uma dignidade forte, corajosa e reluzente capaz de nos libertar, de criar laços enriquecedores onde não existam reféns: apenas pessoas livres que se escolhem para construir um projeto em comum.