A pirâmide da radicalização
A pirâmide da radicalização é um modelo teórico que nos ajuda a interpretar e compreender por que as pessoas se radicalizam. Segundo esta teoria, a radicalização é o resultado do extremismo de crenças, sentimentos e comportamentos em apoio a um conflito entre grupos e à violência. A radicalização pode acontecer a partir de diferentes ideologias, desde crenças religiosas até políticas.
Segundo a pirâmide da radicalização, existem duas formas de radicalização. Uma seria a radicalização da narrativa ou da ideologia e, a outra, a radicalização da ação. Além disso, os processos de radicalização poderiam ocorrer através de níveis diferentes: a nível individual, quando uma pessoa se radicaliza por sua conta; a nível grupal, quando um grupo de pessoas se radicaliza; e a nível de massa, quando é um conjunto maior de pessoas que se radicaliza.
Enquanto a radicalização das ações é um fenômeno individual ou de grupos pequenos, a radicalização da narrativa é um fenômeno de massas. Um país inteiro pode chegar a radicalizar sua narrativa e pensar que está em guerra e tem que derrotar um inimigo, mas aqueles que vão lutar serão só uma pequena parte desta população.
A pirâmide da radicalização da narrativa
As pirâmides usadas como metáfora para explicar a radicalização são como as pirâmides demográficas, onde a maioria das pessoas se encontra na base da pirâmide. Em contrapartida, no cume estão apenas poucas pessoas em comparação com o total da população. Por sua vez, as pirâmides contam com quatro níveis.
No caso da pirâmide do artigo, o primeiro nível é constituído pelos neutros. Nesse grupo entrariam as pessoas que não seguem uma ideologia radical e constituiriam a base da pirâmide. Se subimos um nível, encontramos os simpatizantes, os quais aceitam algumas ideias radicais, como a crença de que existe um conflito do qual são vítimas.
Na sequência estariam os justificadores, os que acreditam que as ações dos radicais são justificadas normalmente e por sua ideologia. Finalmente, no cume da pirâmide se situam aqueles que acreditam que é um dever individual apoiar e participar das ações radicais, aqueles que têm uma obrigação moral pessoal. Estes últimos pensam que a ameaça sob a que vivem justifica uma obrigação individual de agir.
A pirâmide da radicalização da ação
Por outro lado, a pirâmide da ação faz referência aos atos que as pessoas realizam, ao seu comportamento. Enquanto a pirâmide da narrativa só faz referência às crenças das pessoas e à narrativa que usam, a da ação só se refere aos comportamentos. Do mesmo modo que a pirâmide anterior, a pirâmide da radicalização da ação conta com quatro níveis.
No primeiro nível, que corresponde à base, estão os inertes/inativos. Aqui encontramos a maioria das pessoas, as que não agem, não fazem nada a favor de uma ideologia radical. Escalando a pirâmide encontramos os ativistas. Os ativistas são os que realizam ações legais e não violentas. Comumente, estas ações são greves e manifestações que estão dentro da legalidade de cada país e nas quais não ocorrem atos violentos.
No nível seguinte da pirâmide estão os radicais. São os que realizam ações violentas e, portanto, ilegais. São aquelas pessoas que destroem bens públicos ou inclusive agridem outras pessoas. O último nível, o do cume da pirâmide, é integrado pelos terroristas, que seriam aqueles que realizam ações ilegais e violentas, assim como os radicais, porém estando integrados em uma organização qualificada como terrorista, cujo objetivo são os civis.
A relação entre as duas pirâmides
Escalar uma pirâmide não implica que se escale automaticamente a outra. Uma pessoa pode justificar um conflito sem chegar a agir. Encontramos muitos exemplos em instituições que promovem ideias radiais, mas que não realizam ações. O polo oposto, o de pessoas que se transformam em terroristas sem ter uma ideologia radical, é mais complicado, mas não é impossível. Realizar ações radicais e se transformar em terrorista requer uma justificativa que evita a dissonância cognitiva.
Porém, o comum é que a escalada das duas pirâmides ocorra ao mesmo tempo. Que o que alguém pensa vá de acordo com o que faz. Além disso, participar de um grupo radical faz com que se aprenda a narrativa e a ideologia radical, ainda que essa não seja necessária para iniciar uma ação radical.
Por último, encontramos outra peculiaridade, a de que para escalar a pirâmide, pode-se pular degraus. É possível que alguém inerte, que não realiza nenhum tipo de ação em defesa de seu grupo, passe a realizar ações radicais. Por isso, é preciso ter em conta os perigos que uma radicalização tão rápida pode representar.