Por que a Internet pode nos tornar mais intolerantes?

Longe de nos abrir a outras realidades, a Internet pode fazer com que nos enraizemos nas nossas opiniões, minimizando as possibilidades de fazer parte de uma sociedade aberta e disposta a questionar as suas crenças para evoluir.
Por que a Internet pode nos tornar mais intolerantes?
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 19 abril, 2023

A Internet veio para mudar o mundo e, aliás, as pessoas. É uma rede que acelerou a globalização, o acesso à informação e a comunicação social constante. Isso tem uma série de vantagens, pois nos permite conhecer realidades muito diferentes e distantes da nossa. Mas, parece,  que longe de promover empatia e abertura à diversidade, a Internet nos torna intolerantes.

Atitudes discriminatórias sempre existiram. Os seres humanos tendem a apontar para o diferente. Isso pode ser observado em qualquer situação e contexto histórico. Além disso, tendemos a manter nossas crenças e ideologias, mesmo que sejam baseadas em preconceitos ou prejudiquem outras pessoas. E é que o cérebro não busca a verdade ou a justiça, mas o conforto do conhecido.

No entanto, a Internet possui uma série de características que amplificam tais tendências. Por isso, se não fizermos uso consciente dela, caímos no erro de nos polarizar. Convidamos você a continuar lendo, para descobrir o motivo.

Por que a internet pode nos tornar mais intolerantes?

As redes sociais e outras plataformas virtuais são excelentes formas de dar visibilidade a opiniões e experiências. Qualquer pessoa a partir do seu telefone pode explicar como se sente, falar sobre o que está a viver e partilhar essa opinião com milhões de internautas de todo o mundo.

Sem essa ferramenta, dificilmente a voz das minorias seria ouvida ou dificilmente poderíamos fazer-nos certas perguntas. Assim, podemos pensar que a Internet nos enriquece e amplia os nossos olhares, mas a realidade não é tão idílica.

Crimes de ódio nas redes sociais crescem a cada ano e 34% dos jovens afirmam ter sofrido abusos na internet. Tudo isso porque o mundo cibernético difere do real em muitos aspectos. Além disso, possui regras e condições próprias que nem sempre são benéficas.

Jovem estressada por bullying na internet
Enquanto na vida real existem regras que de alguma forma limitam o abuso, na internet esses comportamentos são deliberados.

O anonimato nos protege

Na vida real existe um certo controle social que nos impede de sermos abusivos, rudes, egoístas ou discriminatórios; nossas ações estão de alguma forma ligadas ao nosso nome. Se nos comportarmos de maneira inadequada, os outros responderão nos expulsando ou apontando o mau comportamento. Essa rejeição a que nos expomos nos leva a cumprir as regras de convivência e ações moderadas.

No entanto, na internet isso não acontece. Ao nos colocarmos atrás da tela, podemos despejar opiniões de ódio protegidas no anonimato, evitando suas consequências. Na verdade, poderíamos ser  “reforçados” ao receber a aprovação de pessoas que pensam da mesma forma; pessoas que, talvez, no dia a dia não iríamos cruzar ou não se atreveríamos a nos validar. Dessa forma, na virtualidade, é possível que a intolerância leve à fama.

O algoritmo confirma nossa opinião

Como dissemos, todos queremos constantemente reafirmar nossas opiniões. Para isso, buscamos informações que os apoiem e ignoremos as que os contradizem. Esse fenômeno, conhecido como viés de confirmação, é ampliado na internet pelo próprio funcionamento dos algoritmos.

Redes sociais, aplicativos e outras plataformas se configuram para entender o que gostamos, o que procuramos e como pensamos e nos mostram cada vez mais disso. Assim, a cada interação, esse ciclo de feedback aumenta e nos distanciamos ainda mais de opiniões e realidades diversas. Por fim, o conteúdo que consumimos é uma reprodução incessante do que já pensamos e só serve para nos polarizar ainda mais.

Nosso mundo, nossas regras

Por fim, a Internet nos torna intolerantes porque nos acostuma a um mundo regido por nossas diretrizes. Quando estamos online podemos acessar todo tipo de conteúdo em instantes e de qualquer lugar. Vemos o que queremos quando queremos e deslizamos ou fechamos a tela quando não gostamos. Tudo é dado de acordo com nossas preferências e desejos e acabamos nos acostumando com isso.

O resultado é que, quando encaramos a vida real, os relacionamentos, empregos e grupos que encontramos nos decepcionam porque, ao contrário da internet, eles não se encaixam no que queremos ou precisamos. Sem perceber, perdemos a capacidade de negociar, conviver e cooperar com aqueles que temos diferenças.

perseguidor virtual sem rosto
O anonimato atrás de uma tela legitima atitudes que jamais colocaríamos em prática face a face.

A Internet nos torna intolerantes se não tivermos uma atitude aberta

Tudo isso acontece quando agimos por inércia e nos deixamos levar por esses mecanismos psicológicos que operam automaticamente em todos nós.

No entanto, a Internet pode ser uma excelente ferramenta se soubermos utilizá-la; na verdade, encoraja uma mente aberta. Mas, para isso, devemos estar dispostos a sair de uma bolha, aquela que a mente e o algoritmo constroem, e nos aventurar no incômodo e no desconhecido.

Consumir conteúdo variado, aquele que desafia nossas crenças, e abordá-lo com curiosidade, pode ser muito benéfico para nos enriquecer e nos tornar mais empáticos e tolerantes. Além disso, devemos lembrar que o anonimato virtual legitima atitudes que no mundo físico jamais colocaríamos em prática. Fazer um uso respeitoso, consciente e humano das redes é o caminho para que elas nos engrandeçam.


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