Por que há tanta violência no futebol?

A violência entre os torcedores de futebol é um fenômeno que observamos com muita frequência. Por que esse comportamento acontece? Neste artigo, vamos nos aprofundar em algumas teorias que abordam o tema.
Por que há tanta violência no futebol?
Francisco Javier Molas López

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Javier Molas López.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Por que há tanta violência no futebol? Mais especificamente entre os torcedores. Com muita frequência vemos notícias terríveis sobre acontecimentos entre torcidas rivais. O último evento violento foi visto na final da Copa Libertadores, em que as equipes argentinas River Plate e Boca Juniors se enfrentavam.

Como resultado da violência entre vários grupos de torcedores, a final, em vez de ser jogada na Argentina, teve que ser disputada na Espanha. Muitas pessoas mostram sua perplexidade e espanto diante desse tipo de comportamento coletivo e não entendem as razões que levam a ele.

No entanto, a psicologia estuda o comportamento social dos grupos há muitos anos. Neste artigo, tentaremos esclarecer o que está por trás desses comportamentos violentos e agressivos.

Violência no futebol a partir do processo de desindividualização

Não existe uma única teoria que reúna todas as razões que explicam esses fatos, mas existem teorias que as abordam. Em primeiro lugar, para explicar a violência no futebol, abordaremos o processo de desindividualização. Esse processo não explica a violência em si, mas o comportamento em grupo.

Violência no futebol

Imagine que estamos assistindo a uma partida de futebol e um jogador da equipe rival está perto de nós. Se temos intenção de insultá-lo, mas estamos cercados por torcedores do time adversário, provavelmente não vamos fazê-lo. Agora, o que aconteceria se estivéssemos cercados por torcedores do mesmo time?

Se os torcedores que nos cercam são da mesma equipe e sua intenção também for insultar, acabaremos atacando verbalmente o jogador da equipe rival. Qual é a diferença entre as duas situações? O anonimato e a responsabilidade.

“A violência é o último recurso do incompetente”.
-Isaac Asimov-

Como destacado por Moral, Gómez e Canto (2004), “nessas situações, o anonimato, o grupo e a autoconsciência individual reduzida levariam as pessoas a ter comportamentos desinibidos, impulsivos e antinormativos”.

Quando nos escondemos no anonimato, nos tornamos mais propensos a ações violentas. Se ninguém souber que somos nós que insultamos, faremos isso com maior frequência do que quando somos o centro das atenções. Estando em grupo, a autoconsciência diminui, isto é, nossa responsabilidade é transferida para o grupo. Deixamos de ser nós mesmos e nos tornamos o grupo, então podemos pensar “não sou só eu que insulto, e sim o grupo”.

Processo de conformismo

O conformismo é outro processo que poderia explicar a violência no futebol. Este processo consiste na modificação da resposta de um indivíduo que se aproxima do que a maioria das pessoas expressa. Ou seja, mudar nosso comportamento para adaptá-lo ao grupo.

Como indicado por Paéz e Campos (2003), “conformismo é a mudança de comportamentos ou crenças devido à pressão de um grupo, que modifica as pré-condições do sujeito na direção da norma estabelecida pelo coletivo em questão”.

Nos grupos podemos encontrar vários tipos de normas, como a norma descritiva, que se refere a como se age dentro do grupo, e a norma prescritiva, que alude a como se espera que se atue.

O conformismo é um tipo de influência normativa, já que o indivíduo é capaz de mudar seu comportamento pessoal para adaptá-lo ao do grupo. Ele é até mesmo capaz de realizar comportamentos totalmente opostos àqueles que seriam realizados individualmente.

“A vitória obtida pela violência equivale a uma derrota, porque é momentânea”.
-Gandhi-

Portanto, se nosso grupo de referência se comportar de forma violenta, não seria estranho adotarmos esse comportamento. Esse conformismo cresce à medida que os níveis de controle de grupo sobre seus membros e a interdependência entre eles aumentam. Também cresce quando há uma certa incerteza ou ambiguidade, isto é, “quando não sei o que fazer, adoto o comportamento do grupo”.

O conformismo aumenta quando há semelhanças entre o grupo e o indivíduo. Se alguém se sente muito identificado com um time de futebol e com a ideologia violenta de um grupo de torcedores, estará mais de acordo em realizar um comportamento violento.

Torcida e violência no futebol

Reflexão final

A violência no futebol é uma realidade que vivemos com muita frequência. Expectativas excessivas em estímulos externos nos levam a depositar nossa felicidade em eventos como um jogo de futebol.

Se não recebemos uma educação adequada e estamos acostumados a resolver as diferenças pelo caminho da violência, não será difícil agirmos agressivamente diante de uma desavença. Portanto, uma educação correta e respeitosa com os outros é uma base importante para evitar esse tipo de comportamento.

Um mundo interior rico e uma mente aberta e reflexiva também nos dará força e reduzirá nossa necessidade de fazer parte de um grupo. Por trás dessa necessidade, muitas vezes se esconde uma falta de autoestima que tentamos aliviar pertencendo a um grupo.

O sentimento de pertencimento nos dá a sensação de plenitude emocional, de modo que buscamos fora a realização pessoal que não desenvolvemos em nosso interior.

Conhecer a si mesmo será essencial para evitar cair em grupos em que a violência é uma das máximas. Afinal, quanto menor é nossa autoestima e quanto mais “forte” é o grupo, mais precisamos pertencer. Então, se começarmos a respeitar a nós mesmos e aos outros, esse tipo de evento será coisa do passado.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.