Por que nos sentimos mal quando erramos?

Por que nos sentimos mal quando erramos? Culpa, vergonha, frustração consigo mesmo... Essas são algumas das emoções que surgem. Descubra o que está por trás de tudo isso e por que às vezes é difícil admitir que estamos errados.
Por que nos sentimos mal quando erramos?
Laura Ruiz Mitjana

Escrito e verificado por a psicóloga Laura Ruiz Mitjana.

Última atualização: 01 outubro, 2022

Todos nós cometemos erros em algum momento de nossas vidas; na verdade, em muitos deles. E isso, inevitavelmente, pode gerar um sentimento de culpa, desconforto ou frustração. Mas exatamente por que nos sentimos mal quando cometemos erros?

Autoexigência, busca da perfeição, intransigência… são algumas das razões por trás dessa situação. Refletimos sobre tudo isso e também falamos sobre por que às vezes nos é difícil reconhecer um erro.

As razões pelas quais nos sentimos mal quando cometemos erros

O que significa se sentir “mal”? Pode ser tantas coisas. Quando erramos, podemos nos sentir culpados, tristes, frustrados…

Dependendo da narrativa que façamos desse erro (como o interpretamos) e de nossa personalidade, a emoção derivada é uma ou outra. Falamos sobre por que nos sentimos mal quando cometemos erros.

Mulher experimentando culpa
A concepção que tenhamos dos erros junto com nossa personalidade nos favorecerá a vivenciar uma emoção ou outra.

1. Orgulho e ego

Orgulho e ego são dois conceitos que explicariam, em parte, por que nos sentimos mal quando cometemos erros. O que exatamente queremos dizer?

O orgulho é definido como “o excesso de estima por si mesmo e pelos próprios méritos pelo qual a pessoa acredita ser superior aos outros”. E também como “o sentimento de satisfação em relação a algo próprio ou próximo que é considerado digno de mérito”.

Orgulho e ego são primos em primeiro grau e andam de mãos dadas. No caso do ego, falamos dessa instância psíquica que nos permite reconhecer-nos como indivíduos independentes com identidade própria. No entanto, na linguagem coloquial, o ego refere-se a uma avaliação excessiva que fazemos de nós mesmos, de pensar apenas em nós mesmos.

Com um ego elevado, é mais provável que nos seja difícil reconhecer nossos erros ou que sintamos um desconforto intenso quando os cometemos e acabamos por reconhecê-los.

Se acrescentarmos o orgulho a esse ego, é normal que o desconforto seja duplo; dessa forma, em geral, quanto mais orgulhosos somos:

  1. É mais difícil reconhecer nossos erros.
  2. Podemos nos sentir pior ao cometê-los.

2. Autoestima, controle e poder

Intimamente relacionados ao ego encontramos três conceitos interessantes: autoestima, controle e poder. Podemos nos sentir mal depois de cometer erros, porque reconhecer que estávamos errados pode prejudicar nossa autoestima. E como queremos protegê-la, não podemos evitar a tentação de não admitir nossos erros.

Em consonância com isso, um estudo (2012) publicado no European Journal of Social Psychology afirma que as pessoas que erram e não se desculpam depois, possuem mais autoestima e acreditam ter mais controle e poder, se as compararmos com as pessoas que assumem seus erros e pedem desculpas.

De acordo com Tyler Okimoto, um dos autores do estudo, “de certa forma, as desculpas dão a quem as recebe uma sensação de poder”. E ele dá um exemplo: se pedimos desculpas ao nosso parceiro por algo que fizemos de errado, esse pedido de desculpas permite que o outro escolha entre diminuir nossa dor nos perdoando ou intensificá-la retendo o perdão. Daí o poder que eles têm, e que as pessoas que optam por não se desculpar por seus erros sentem que são elas que têm poder e controle (o que os leva a evitar pedir desculpas).

3. Autoexigência e rigidez

Pessoas altamente exigentes se sentem muito mal quando cometem um erro. Por quê? Porque elas sentem que estão “falhando” a si mesmas. Mas tome cuidado, pois essas pessoas podem perceber o erro de forma diferente das pessoas que não são tão exigentes.

Dessa forma, como estão constantemente em busca da perfeição, qualquer coisa que não seja essa “perfeição” (o que é inatingível, na verdade, o que os leva a sentir que sempre podem fazer melhor), eles entendem isso como um erro. E cometer um erro as leva a se sentirem frustrados consigo mesmas.

Assim, as emoções que essas pessoas mais comumente sentem quando cometem um erro são a frustração e a raiva. São pessoas duras e rígidas consigo mesmas, o que muitas vezes se traduz em um diálogo interno intransigente baseado na autorrecriminação.

4. Sentimento de culpa

Quando cometemos erros, também nos sentimos culpados porque fizemos algo “diferente” do que supostamente “deveríamos ter feito”. Em um nível emocional, falamos de culpa com uma emoção que sentimos quando fazemos (ou fizemos) algo que não está certo, ou quando prejudicamos um terceiro.

De certa forma, há pessoas que se sentem culpadas porque, inconscientemente, a culpa é uma forma de “compensar” o dano causado. Ao nos sentirmos culpados, “nos punimos” e “pagamos o preço” por ter cometido um erro ou machucado alguém.

Logicamente, tudo inconscientemente. O que acontece é que, na realidade, a culpa é um sentimento muito inútil, pois não nos leva à ação, mas muitas vezes à vitimização. Por isso, é importante começar a trocar a culpa (passiva) pela responsabilidade (ativa), pois por meio da segunda, o diálogo com nós mesmos pode ser muito mais amigável e construtivo, ao contrário do que acontece com a culpa, que nos leva à ter pena de nos mesmos e a nos fustigar..

É difícil para nós admitir nossos erros?

Podemos nos sentir mal quando cometemos erros, mas os reconhecemos? Ou nos é difícil fazer isso? Essa é outra questão interessante que nos permite refletir, por exemplo, ou nos perguntar, se o fato de nos ser difícil reconhecê-los, nos leva a mais ou menos desconforto.

Por um lado, se não os reconhecemos, podemos abrigar um sentimento de culpa que acabamos reprimindo e que nos magoa; mas, por outro, ao não contar, podemos esquecê-lo e, portanto, o desconforto não aparece.

O fato de reconhecer ou não tais erros depende da pessoa, logicamente. E também fatores como orgulho, ego, a capacidade de apreciar que realmente erramos, o medo de decepcionar os outros, etc.

Mas, além disso, existem dois outros elementos-chave que influenciariam nossa decisão de reconhecer nossos erros ou não: o chamado viés de confirmação e a capacidade que temos (ou não) de mudar nosso comportamento.

1. Viés de confirmação

O viés de confirmação (Plous, 1993, citado em uma revisão de Scott, 1994) é a tendência que as pessoas têm de favorecer, buscar, interpretar e lembrar de informações que confirmam nossas próprias crenças ou hipóteses. Por outro lado, consideramos em menor proporção tudo o que “contraria” essas crenças e hipóteses.

Bem, esse viés pode dificultar o reconhecimento de nossos erros. Por quê? Porque se procuramos sempre ideias que sustentem o que pensamos, é difícil reconhecermos que às vezes erramos (porque não procuramos informações que sustentem os nossos erros, mas as nossas crenças).

2. A capacidade de mudar o comportamento

Por outro lado, em um estudo (2014) realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford, descobriu-se que as pessoas são mais propensas a aceitar seus erros quando acreditam que são capazes de mudar seu comportamento, se não for assim, é muito mais difícil para elas.

homem pensando devagar
Quando percebemos que o que estamos fazendo (mesmo que nos leve ao erro) não podemos mudar, é muito mais difícil para nós reconhecer esse erro.

Errar: algo humano

Sentir-se mal por estar errado é humano, acontece com todos nós. Não se sinta mal por isso. No entanto, pode ser interessante se perguntar o que está por trás dessas emoções, se esse erro pode ser evitado e como você pode agir da próxima vez.

Conhecer os motivos que o levaram a agir assim, e também aqueles que o levaram a se sentir mal após esse comportamento, faz parte do processo de autoconhecimento e crescimento pessoal de cada um, uma jornada que, na realidade, dura a vida toda.

“Aprendi que os erros muitas vezes podem ser uma experiência de aprendizado tão boa quanto o sucesso.”

-Jack Welch-[


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