Por que o ladrão julga por sua condição?

Por que o ladrão julga por sua condição?
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Edith Sánchez

Última atualização: 13 abril, 2023

Ninguém é mais infiel do que um ciumento. Pode até ser infiel apenas no desejo, sem chegar a concretizá-lo em ações, mas a verdade é que na sua mente não cabe a ideia de fidelidade, e é por isso que questiona seu parceiro, mesmo que não haja motivos. Por ações e esquemas de pensamento como este, diz-se que o ladrão julga por sua condição.

Isso não se aplica apenas aos ciumentos. O ladrão julga por sua condição toda vez que alguém atribui a outro o que na verdade aplica para si mesmo. Ou, em outras palavras, quando vê os outros como se estivesse olhando para um espelho. Então, nota neles as características que na verdade estão em si mesmo. Ele atribui aos outros seus próprios defeitos ou virtudes.

“A maneira como tratamos a nós mesmos é também a maneira como tratamos os demais”.
-Miguel Ruiz-

Quando dizemos que o ladrão julga por sua condição, na verdade estamos falando de um mecanismo de defesa inconsciente. Esse mecanismo recebe o nome de “projeção“. Consiste precisamente em ver nos outros o que não queremos admitir em nós mesmos.

Barco com vela de rosto

Os mecanismos de defesa

Os mecanismos de defesa são estratégias, em grande parte, inconscientes. Seu objetivo é proteger a consciência de pensamentos ou emoções que são desagradáveis ​​ou intoleráveis. É como se houvesse um botão que se ativa automaticamente. Esse botão faz com que um véu caia sobre o que não queremos ver. E então deixamos de ver aquilo, mesmo que esteja lá.

Todas as pessoas têm mecanismos de defesa. Alguns são formados em idades muito precoces e outros mais tarde. Eles nos ajudam a manter o equilíbrio e não são em si mesmos ruins ou bons. Algumas pessoas são mais conscientes dos mecanismos de defesa que usam, enquanto para outras é mais difícil reconhecê-los.

A projeção é um desses mecanismos de defesa. Evita o desconforto de ter que prestar atenção nas realidades pessoais que rejeitamos de forma consciente. É por isso que, de forma involuntária, colocamos essas realidades para fora. Nós as atribuímos ao outro. É quando o ladrão julga por sua condição.

Mulher com pássaro na cabeça

Como o ladrão julga por sua condição

De uma forma ou de outra, todos nós estamos projetando permanentemente. Nós vemos o mundo à nossa maneira. Fazemos uma leitura particular da realidade, por mais objetivos que queiramos ser. Vemos alguns aspectos e deixamos de ver outros. Enfatizamos alguns detalhes e não outros. Quando falamos do mundo, em grande parte estamos falando sobre nós mesmos.

O mecanismo de projeção opera de maneiras diferentes. Estes são alguns exemplos:

  • Projeção afetiva. Dizemos que alguém nos odeia, embora na realidade sejamos nós que odiamos esse alguém. O mesmo vale para o amor e para todos os sentimentos.
  • Projeção emocional. Quando dizemos que a lua está romântica ou que o mar está em silêncio. A lua é um satélite que não tem em si nenhum sentimento. O mesmo vale para o mar. Nós os vemos assim, nós lhes damos uma outra conotação.
  • Projeção de uma necessidade. É um pouco mais difícil de detectar. Acontece quando, por exemplo, uma pessoa dá conselhos a todos, sem que lhe peçam. Provavelmente procurando alguém para lhe dar orientação.
  • Projeção de características pessoais. Acontece quando recriminamos os comportamentos de outras pessoas nos quais também incorremos. Como o pai fumante que chama seus filhos de “viciados” quando os vê com um charuto na boca. É o caso típico que se aplica quando o ladrão julga por sua condição.

A projeção não permanece apenas em fatos isolados. Às vezes construímos verdadeiras teorias que revelam características muito particulares. Foi o que aconteceu com a humanidade egocêntrica que não podia aceitar que era a Terra que girava ao redor do Sol.

Mulher com castelo nos cabelos

Tornar as projeções conscientes

Se você consegue tomar consciência das projeções, aumenta significativamente o conhecimento de si mesmo. Para conseguir isso, o mais eficaz é tomar uma certa distância e tentar se observar de forma desprevenida. A ideia é capturar o que realmente se sente.

Quando você fizer um julgamento sobre alguém de forma espontânea, tente fazer uma pausa. Examine o conteúdo desse julgamento e o que você experimenta em relação a ele. Avalie os motivos que você tem para julgar essa pessoa dessa maneira. Tente decifrar quais são os sentimentos negativos que acompanham esse raciocínio.

É muito possível que, ao fazer este pequeno exercício, você comece a perceber como você projeta. Comece a entender o que significa dizer que o ladrão julga por sua condição. Encontre em si mesmo os traços daquilo que lhe parece insuportável nos outros.


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