O porquê da maldade de Voldemort
Voldemort, cuja verdadeiro nome era Tom Riddle, é o principal antagonista da saga Harry Potter. Um perfeito vilão que semeia o terror e a escuridão por onde passa. Ele é a antítese de Harry em relação a funções, mas se nos aprofundarmos nos personagens, vamos perceber que não são tão diferentes assim.
É como se Voldemort não pudesse existir sem Harry e, ao mesmo tempo, como se Harry não existisse sem Voldemort. São opostos. Mas, assim como os polos opostos dos ímãs, é impossível separá-los. São duas faces de uma mesma moeda: não existe herói sem vilão e não existe vilão sem herói.
Além disso, nesse caso, nos deparamos com certas peculiaridades, certas circunstâncias que nos fazem nos perguntar o que teria acontecido se as coisas tivessem sido diferentes para ambos. E se Voldemort tivesse crescido em um lar feliz? E se ele tivesse descoberto o que é o amor? A maldade nasceu com ele ou é fruto de uma série de circunstâncias?
Ao longo da saga, vamos descobrindo o passado do Lorde das Trevas, esse personagem que é muito mais do que apenas “malvado”. Nos filmes, não vemos muito sobre o seu passado, mas podemos conhecer mais nos livros, nos quais J.K. Rowling dedica episódios inteiros a lembranças da vida de Voldemort antes de se transformar em “Você-Sabe-Quem”.
Esse personagem despertou tanta fascinação entre os fãs de Harry Potter que, inclusive, conta com um filme próprio, uma produção italiana realizada por fãs que recebeu o título de “Voldemort: a origem do herdeiro”.
São muitas as coisas escondidas na saga Harry Potter, e muito mais poderíamos dizer sobre Voldemort. Neste artigo, tentarei compilar alguns dados importantes para nos aprofundarmos em sua personalidade, no porquê desse personagem e de sua maldade.
Influências
J.K. Rowling estudou francês e Filologia Clássica. Ela não teve uma vida fácil – nem econômica nem profissionalmente – até fazer grande sucesso com Harry Potter. Na saga, Rowling deixou impressas suas influências clássicas: nomes de feitiços e personagens, seres mitológicos… Tudo parece estar impregnado com a marca deixada por seus conhecimentos de cultura greco-latina, mas também por suas experiências pessoais. Assim, em mais de uma situação, confessou que personagens, como Hermione, foram inspirados nela.
Também não é uma casualidade que o dia do aniversário de Harry seja o mesmo que o dela, nem o fato de os dementadores absorverem a alma das pessoas, assim como a depressão fazia com ela. No caso do Voldemort, a própria Rowling indicou que seu nome vem do francês: vol de mort (voo da morte) e reconheceu ter se inspirado na figura de Adolf Hitler.
Se pararmos para pensar, ambos acreditavam na existência de uma raça superior. Voldemort queria exterminar todos que não fossem “sangue-puros”, ou seja, que não fossem filhos de bruxos. Ele defende que os “sangue-ruins” (filhos de trouxas – originalmente muggle, aqueles que não eram bruxos) deveriam ser exterminados e não poderiam ter acesso a Hogwarts. Em outras palavras, para ambos, a pureza é importante e existe uma raça inferior que deve ser exterminada por ser a origem dos males do mundo.
Chama a atenção que Voldemort, na verdade, também não era sangue-puro, pois seu pai era trouxa; assim como Hitler tinha ascendência judia. Talvez um complexo de inferioridade, o medo da rejeição e o desejo de poder tenham levado ambos a cometerem atos totalmente atrozes e irracionais. Ao mesmo tempo, Voldemort era um jovem brilhante, de quem se esperava um grande futuro como bruxo; Hitler, por sua vez, gostava muito de pintura.
Outra similaridade com nossa história está na existência de duas guerras bruxas. A primeira na qual Voldemort e seus comensais da morte tiraram a vida de muitas pessoas, entre elas os pais de Harry. Entretanto, Voldemort perdeu a guerra e teve que desaparecer. A segunda leva ao fim de uma era, o fim de Voldemort e seus seguidores. A Alemanha perdeu ambas as guerras mundiais, assim como os comensais da morte.
A ascensão de Voldemort se dá pouco a pouco, a partir das sombras, até que, por fim, consegue controlar todo o Ministério da Magia (equivalente ao nosso sistema político).
Harry viria para colocar um fim nessa era de terror e escuridão, como se se tratasse de um Jesus Cristo. Influências da Bíblia também estão presentes na saga. A figura da serpente como símbolo do mau e da tentação vinculada a Voldemort, que seria a personificação do mal. E Harry, o salvador, o escolhido (incluindo uma profecia) capaz de dar sua vida para salvar a todos.
O passado de Voldemort
Voldemort foi uma criança órfã, fruto de uma armadilha por parte de sua mãe para seu pai. Uma criança gerada sem amor, que cresceu sem o calor de um lar. Sua família materna era descendente de Salazar Sonserina (fundador da casa Sonserina e fiel defensor da pureza do sangue). Assim como o ancestral, todos os membros da família eram capazes de falar a língua das serpentes.
Essa obsessão pela pureza levou a família a anos e anos de endogamia – casamentos entre familiares – que fizeram com que Mérope Gaunt (mãe de Voldemort) e sua família vivessem na extrema pobreza e sofressem algum tipo de deficiência intelectual. Mérope era maltratada pelo pai e pelo irmão. Eles abusavam psicologicamente dela e a chamavam de squib (pessoa filha de bruxos incapaz de fazer magia).
O pai e o irmão de Mérope foram presos em Azkaban e ela, ao ficar livre, conseguiu, por fim, deixar sua magia florescer. Mérope se apaixonou por um rico trouxa chamado Tom Riddle e decidiu enfeitiçá-lo para que se casasse com ela.
Quando engravidou, Mérope talvez tenha pensado que Riddle tinha se apaixonado por ela e, assim, poderia colocar fim ao feitiço. No entanto, Riddle a abandonou. Mérope deu à luz em um orfanato e morreu após o parto. O pequeno Tom Riddle cresceu sem conhecer o amor, nem sua família. Somente anos depois, quando Dumbledore foi buscá-lo, ele descobriu que era bruxo e que poderia desenvolver suas habilidades em Hogwarts.
Na Escola de Magia, ele se destacou como um dos melhores bruxos de todos os tempos, mas sua ambição de poder e sua paixão pelas artes das trevas o fizeram se transformar no bruxo mais temido. Assim como Harry, Voldemort foi órfão e cresceu sozinho, sem o carinho dos pais. Hogwarts foi sua salvação.
Existe uma forte conexão entre ambos os personagens que vai além da sua relação antagônica. Eles não são tão diferentes assim. No entanto, a principal diferença é que Voldemort nunca conseguiu amar, nunca conseguiu ter uma verdadeira amizade. Ele foi cruel inclusive com seus seguidores mais fiéis. Sendo tão parecidos, cabe perguntar por que cada um deles escolheu enfrentar a vida de forma tão diferente. Também ficam outros questionamentos, como se Voldemort era mau por natureza ou devido a suas experiências; se seu ódio pelos trouxas era real ou motivado pelo abandono do pai e pela vergonha que sentia de seu passado.
Tanto Harry quanto Voldemort tiveram que enfrentar uma profunda solidão na infância, o abandono e a falta de afeto. No entanto, perante uma situação muito similar, cada um decidiu lidar da sua maneira.
Rowling nos apresenta um personagem carregado de traumas, de sentimento de abandono, complexado e muito mais profundo do que poderia parecer no início. Um personagem complexo que nos recorda a importância da infância e das consequências que o abandono pode exercer sobre uma pessoa, algo que não justifica sua maldade, mas ajuda a nos aproximarmos um pouco do porquê dela existir.
“Não precisamos de magia para mudar o mundo. Temos todo o poder de que precisamos dentro de nós”.
-J.K. Rowling-