Precisamos da escuridão para ver melhor?

Precisamos da escuridão para ver melhor?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 21 novembro, 2017

Pense nessa situação: você está andando por um lugar muito iluminado e alguém se aproxima de você, mas você não consegue reconhecê-lo porque o sol, com sua força e seu brilho, o cega. É possível que nesse momento você decidisse cobrir o sol e fazer sombra. Você precisava de um momento de escuridão para ver melhor. E é nesse momento que você o reconhece. Soube discernir se ele era um amigo, ou se era um estranho pedindo instruções. Ou mesmo alguém que o confundiu.

Quando você soube quem era, pôde escolher se o cumprimentaria com um abraço, se o orientava gentilmente ou simplesmente esclarecia a confusão e continuava seu caminho sem olhar para trás.

Ver melhor nos permite escolher mais sabiamente

Imagine um mundo em que houvesse apenas luz. Se você nunca tivesse experimentado a escuridão, como poderia compreender e apreciar a luz? É o contraste entre luz e escuridão que leva a um conhecimento mais profundo. Estamos em um mundo de dualidades: para cima e para baixo, quente e frio, bom e mau.

Precisamos da escuridão para ver melhor?

A dor nos permite apreciar melhor a alegria. O caos da Terra aumenta nossa apreciação da paz. O ódio que podemos encontrar aprofunda a nossa compreensão do amor. Por isso mesmo, as dificuldades da vida são um meio especialmente poderoso para criar sentimentos vitais para o nosso autoconhecimento.

Quanto mais nuances conhecemos, mais sabiamente podemos decidir. Assim, a escuridão é uma oportunidade para a reflexão, mais do que para ver melhor por fora, mas para ver melhor por dentro. A vida é uma viagem que vai desde a cabeça até o coração. As dificuldades de nossa vida facilitam essa viagem, para abrir nossos corações e assim poder conhecê-los e valorizá-los melhor. Em suma, a escuridão nos dá a possibilidade de descobrirmos a nós mesmos e sermos coerentes com o que há em nosso mundo interior.

A fábula da música

Imagine que você vem de um lugar onde soa a música mais bonita já criada. É uma música arrebatadora, deslumbrante. Você sempre a ouviu durante toda a sua vida. Nunca esteve ausente nem nunca esteve presente outra música. Um dia você percebe que, como sempre a ouviu, nunca a escutou realmente. Ou seja, você nunca a valorizou porque nunca conheceu outra coisa. Por isso, você decide que gostaria de valorizar essa música.

Você decide fazer isso de forma desafiadora e que pode lhe dar acesso a uma grande recompensa. Você poderia obter um conhecimento realmente profundo se fosse a um lugar onde a música de seu lar não soasse, e uma vez ali você tentaria recriá-la, mas somente depois que tivesse sido diluído o eco de como ela soava. A experiência de lembrar e, depois, compor a extraordinária sinfonia de seu lar produziria o melhor conhecimento de sua grandeza.

Você vai para esse lugar. Lá você ouve uma música que, ao carecer de memória, acredita que é a única que você já ouviu. Algumas músicas são adoráveis, mas outras golpeiam seus ouvidos com suas dissonâncias. Esses tons desagradáveis ​​promovem o desejo em seu interior e, finalmente, a resolução: criar uma música original (para a qual essa escuridão foi muito necessária).

Precisamos da música para ver melhor

O reconhecimento

Logo você começa a escrever suas próprias composições. No começo, a música estridente deste novo lugar o distrai. No entanto, ao longo do tempo, à medida que você se afasta do ruído externo e ouve as melodias do seu coração, suas criações musicais se tornam mais bonitas. Finalmente você compõe uma obra-prima, e quando termina, se lembra de algo: a obra-prima que você escreveu é a mesma música que tocava em seu lar.

E essa memória desencadeia outra: você é essa música. Não é algo que você ouviu fora de você; a música é você, e você é a música. E, ao “se criar” em um lugar novo, você passa a se conhecer de uma maneira que não teria sido possível se não tivesse se arriscado fora das fronteiras conhecidas. Você sabe que, se não tivesse experimentado essa escuridão, não teria conseguido valorizar realmente a maravilhosa música que o rodeia.

Assim, as dificuldades da vida existem para que possamos descobrir quem não somos, antes de nos lembrarmos de quem realmente somos. Ou seja, exploramos os sons discordantes e os momentos de escuridão antes de recriar as sinfonias de nosso lar. Precisamos da escuridão para poder ver melhor. Precisamos dessa escuridão para poder escolher melhor a direção e valorizar a luz.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.