A preocupação obsessiva de manter as crianças em segurança

A preocupação obsessiva de manter as crianças em segurança
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 02 fevereiro, 2018

Quando se é pai ou mãe, manter as crianças em segurança é uma prioridade que nasce e se instala entre as motivações mais poderosas. Embora saibamos que é uma missão impossível, muitos pais não desistem de proteger as crianças de todos os perigos reais, prováveis e improváveis que podem se aproximar. Dessa maneira, proteger os pequenos do sofrimento e das carências se transforma também em uma necessidade.

O normal é que muitos desses pais vão compreendendo que manter seus filhos a salvo de qualquer ameaça, especialmente quando eles começam a adquirir autonomia, é uma missão impossível. Por mais cuidadosos que possam ser, haverá sofrimentos que os pais não podem nem devem afastar dos filhos porque farão parte dos estímulos necessários para que cresçam.

“As pessoas falam da maioridade. Isso não existe. Quando uma pessoa tem um filho, ela está condenada a ser pai durante a vida toda. São os filhos que se afastam dos pais. Mas os pais não conseguem se afastar deles”.
-Graham Greene-

Alguns pais, no entanto, decidem não aceitar esse fato. Eles também assumem uma posição, digamos, onipotente frente à vida dos filhos. Acreditam que se estiverem presentes, nada de ruim vai acontecer. Como se isso fosse verdade. Como se não existissem milhares de perigos impossíveis de evitar, inclusive para uma mãe ou um pai que dedicam todos os seus recursos a esse fim.

Manter as crianças em segurança se transforma, então, numa obsessão. Isso se traduz, principalmente, em uma vigilância constante que pouco a pouco os deixa esgotados. Ao mesmo tempo, esse tipo de pai ou mãe costuma manter uma atitude de desconfiança em relação aos outros e ao mundo.

Mãe superprotetora

Manter as crianças em segurança: um desafio que implica censura

Sem perceber, um pai ou uma mãe que se encaixa no retrato que estamos delineando começa a se transformar em uma voz de censura. A palavra “não” aparece em todos os momentos e quase sempre vem acompanhada de uma ameaça. “Não faça isso… porque pode acontecer aquilo”.

Da mesma maneira, e muitas vezes sem querer, pelo menos de maneira consciente, o pai ou a mãe começa a limitar as experiências das crianças. “Melhor não ir ao parque porque está muito frio e você pode pegar um resfriado”. “Não fique muito tempo fora de casa porque a rua está cheia de perigos”.

Os animais transmitem doenças, o fogo queima, a água molha… O mundo todo se transforma num grande perigo. Transmite-se a ideia de que a única coisa capaz de fazê-los sumir é a presença desse pai ou dessa mãe. Às vezes, a criança acredita que isso é verdade.

Obsessão e controle

Um pai ou uma mãe obcecados em manter as crianças em segurança vão dizer que querem apenas proteger. E mais, que o fazem pelo bem dos pequenos. Se alguém questionar esse comportamento, eles têm uma lista de bons argumentos para defender suas atitudes, que muitas vezes envolvem acusações. Fulano deixou o menino sozinho, por isso ele caiu e quebrou um dedo. Ciclano não cuida dos seus filhos e olhe como eles são malcriados.

Esses pais chamam de “proteção”, mas na verdade se trata de algo muito menos apresentável. A palavra correta é “controle”. São pais controladores, que não têm nenhum problema em dirigir e proteger a vida dos filhos até chegar ao extremo. Eles querem vigiar cada passo que os pequenos dão. Realizar uma intervenção direta em cada projeto que seus filhos empreenderem. Estar presentes o tempo todo, como uma sombra onipotente. Essa atitude costuma se prolongar uma vez que os filhos tenham deixado a infância para trás.

Pais com sua filha chorando

O que está por trás da obsessão

Todo pai e toda mãe, em algum momento, sente a tentação de agir em relação ao filho como se fosse um objeto que lhe pertencesse. Os pais que entram nessa situação de obsessão não são pessoas más. Ver o filho nascer e ser responsável por ele cria um vínculo muito estreito. Nem todo mundo está preparado para ter afetos tão íntimos e, ao mesmo tempo, saber que deve assumir o risco intrínseco que implicam.

Muitos dos pais ou das mães obcecados em manter as crianças em segurança no fundo desejam outra coisa. Pode ser que queiram prolongar esse laço tanto quanto for possível. Não renunciar à ideia de que as crianças vão sempre precisar dos pais para tudo afasta o pensamento que faz parte da lei natural da vida que é os filhos seguirem suas vidas sem precisarem mais dos pais incondicionalmente. O que existe é o medo de admitir que se trata de uma relação destinada à mudança, a uma separação progressiva.

É muito provável que esses pais obsessivos não tenham tido boas experiências com perdas. Talvez ainda tenham algumas dores para resolver. Eles se enchem de medo frente à possibilidade de que seus filhos não precisem mais deles tanto quanto precisam agora e saiam conquistar o mundo, sozinhos. Então, se encarregam de assustar os filhos. De mostrar tudo de ruim que pode acontecer com eles quando estiverem sem o manto protetor dos pais.

Às vezes, o cuidado excessivo também encobre uma rejeição. O pai ou a mãe não ama tanto a criança quanto gostaria, e se defende desse sentimento inconsciente exagerando nos cuidados. De qualquer maneira, por trás dessas formas obsessivas de proteção sempre existe alguma coisa que não vai bem e que deve ser objeto de análise.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.