Prozac, uma droga milagrosa?

Prozac, uma droga milagrosa?
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Maria teve problemas com as pessoas durante a maior parte de sua vida adulta. Ela brigou com seus pais, seus vizinhos, seu marido… Esta mulher de 39 anos sofreu de depressão e bulimia, dependência de drogas e tentou suicídio duas vezes. Um psiquiatra lhe prescreveu o antidepressivo doxepina, mas ela não gostou dos efeitos desta droga. Há dois anos, seu psiquiatra lhe propôs experimentar um novo medicamento: Prozac. Foi o que Maria fez.

Depois de um mês, Maria já havia substituído sua psicoterapia pela escola e um emprego em tempo integral. Ela também descartou os tranquilizantes e outros medicamentos da farmácia. Ela disse que se sentiu “100% melhor”. “Agora, mantém um bom relacionamento com seus pais. Ela sente que é apreciada no trabalho e não passa o dia pensando em coisas negativas. “Eu não mais tenho ataques de raiva. Meu casamento é cinco vezes melhor do que era” (Cowley, 1990a, p.39).

Prozac, a droga que saiu na capa de uma revista

Quando o uso de um medicamento gera depoimentos favoráveis ​​daqueles que experimentaram seus efeitos e chega a aparecer na capa da revista Newsweek, é necessário que paremos para analisá-lo profundamente. Mas, ignorando a reação da mídia, será que ele  é tão revolucionário quanto afirmam aqueles que o defendem?

Em alguns aspectos, parece que o Prozac merece sim os elogios que recebeu. Introduzido em 1987, é atualmente o medicamento antidepressivo mais prescrito. Embora seja muito caro, a verdade é que parece ter mudado a vida de milhares de pessoas deprimidas. No entanto, embora a patente do Prozac tenha expirado em 2001 nos EUA, ainda há debates sobre sua relevância terapêutica.

Mulher com sintomas de depressão

Houve um tempo em que a depressão era majoritariamente tratada por psiquiatras, que usavam para esses tratamentos os conhecidos antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, clomipramina). Os efeitos colaterais desses medicamentos, em muitos casos, eram tão desagradáveis quanto desconhecidos, portanto muitos pacientes e médicos abusaram de seu uso sem medir as consequências do consumo elevado e recorrente.

Quando o Prozac apareceu, era praticamente tão eficaz quanto as drogas existentes, mas aparentemente com menos efeitos colaterais, então os médicos de atenção primária começaram a receitá-lo. Assim, de alguma forma, o medo de usar antidepressivos diminuiu, embora, a princípio, os profissionais não fossem a favor de prescrevê-lo.

O que é o Prozac?

Prozac é o nome comercial de um antidepressivo: fluoxetina. O Prozac funciona bloqueando a recaptação da serotonina. É um inibidor seletivo da recaptação de serotonina ou ISRS. Ao contrário de outras drogas antidepressivas, o Prozac parece ter poucos efeitos colaterais e a probabilidade de uma overdose é muito remota. Assim, descobrimos que muitas pessoas que não responderam a outros tipos de medicamentos antidepressivos os usaram antes do Prozac.

Por outro lado, é necessário ressaltar que é possível que o Prozac tenha seu lado obscuroDe fato, algumas pessoas que fazem uso do Prozac experimentam intensa agitação e tremores. Outras pessoas desenvolvem ideias suicidas. Por fim, outros pacientes afirmam que o Prozac os torna propensos a ataques de violência. É verdade que advogados de defesa em vários processos judiciais de homicídio usaram-no como uma estratégia de defesa. Eles alegam que a droga causou o comportamento homicida (Marcus, 1991).

Medos infundados?

Muitos profissionais formados não aceitam as conclusões desses relatórios. Um grupo de especialistas do governo dos Estados Unidos, reunido a pedido da Food and Drug Administration, não encontrou evidências que mostrassem os efeitos colaterais do Prozac (FDA, 1991). No entanto, alguns especialistas sugerem que até 15% dos consumidores têm algum tipo de efeito colateral. Infelizmente, o entusiasmo do público pelo Prozac representa um problema para os profissionais de saúde.

A grande quantidade de publicidade sobre o medicamento aumenta a possibilidade de que pacientes que passam por episódios de tristeza ou desânimo não considerem a adoção de medidas alternativas mais apropriadas. Um desses tratamentos alternativos com eficácia clínica comprovada é a psicoterapia.

Homem fazendo terapia com psicólogo

Embora o Prozac possa nos fazer sentir melhor, a verdade é que podemos acabar pagando o preço da melhora de nosso humor para além da farmácia, em nosso próprio corpo e nossa própria saúde. Assim como com o resfriado comum, ainda não há uma cura “mágica” para a depressão em um futuro imediato.

Eficácia questionada

O prozac, o antidepressivo consagrado como um símbolo do século 21, com 40 milhões de consumidores em todo o mundo, é seriamente questionado. De acordo com os resultados de uma metanálise publicada pela PLoS Medicine, a fluoxetina, o ingrediente ativo da chamada “pílula da felicidade”, tem o mesmo efeito que tomar pílulas feitas de açúcar.

Isto é o mesmo que dizer que o Prozac é um placebo (quando se trata de pessoas que sofrem de depressão leve e moderada). O mesmo aconteceria com outros dois antidepressivos mais vendidos, venlafaxina (Efexor) e paroxetina (Serotax). O estudo conclui que eles só teriam os efeitos que são exigidos deles quando a depressão é muito profunda.

Então, estamos diante de um medicamento antidepressivo eficaz ou se trata apenas de um placebo? Não vamos nos esquecer de que existem milhões de pessoas que afirmam que ele as ajudou. Segundo Spiegel, 1989 “embora os medicamentos antidepressivos causem efeitos colaterais, sua margem global de sucesso é muito boa.” De uma forma ou de outra, antes de dar um passo em direção à medicação, o ideal é se consultar com um especialista disposto a oferecer diferentes alternativas, porque como já foi dito, não existe nenhuma cura mágica para a depressão.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.