Psicoestimulantes, o remédio para crianças hiperativas

Psicoestimulantes, o remédio para crianças hiperativas

Última atualização: 22 abril, 2017

É fácil que, em um mundo no qual a prioridade é sempre chegar a tempo, possa ser perturbador uma criança começar a pular sobre uma poça de água. Então é fácil que, com qualquer comportamento, seja facilitado o diagnóstico em massa de crianças com hiperatividade.

Já dissemos várias vezes: não existe criança difícil, o difícil é ser uma criança num mundo de gente cansada, sem paciência e com pressa. O normal é que uma criança corra, pule, grite, experimente e faça de tudo o que está a sua volta um parque de diversões. O normal é que uma criança, pelo menos em idades menores, se comporte exatamente como uma criança é, não como o adulto que querem que ela seja.

No entanto, há adultos que não sabem desfrutar de uma criança e que, por consequência, as educam para que sejam algo mais parecido a um “móvel” do que a uma verdadeira criança. Obviamente esta “preocupação em massa” sobre os comportamentos perturbadores e desatentos dos pequenos geram diagnósticos em massa nos serviços de saúde mental infanto-juvenil.

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TDAH e psicoestimulantes: crianças hiperativas medicadas com anfetaminas

O aumento do diagnóstico de TDAH a nível mundial ativou os alarmes, principalmente nos setores relacionados com a infância e a adolescência. A verdadeira existência do  Transtorno por Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)  é muito questionável, pelo menos na forma como foi concebido.

Assim, atualmente considera-se que é como se fosse uma gaveta na qual se amontoam diversos casos, que vão desde problemas neurológicos até problemas de comportamento ou de falta de recursos e habilidades para lidar com o seu entorno.

 ** Pode ser que o leitor especializado goste de saber que o diagnóstico de TDAH ou seu equivalente em outras classificação é quatro vezes maior se for utilizado o DMS-IV do que se for utilizado o CIE-10. Isso dá uma ideia do quão especulativo pode ser o diagnóstico dessa “doença”.  

Não por coincidência, desde os anos 90 a prescrição de psicoestimulantes disparou em países como a Espanha (cujo consumo multiplicou-se por 20) e Estados Unidos (o qual, sendo o maior consumidor mundial, multiplicou em apenas quatro vezes seu consumo).

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Nós devemos saber que quando falamos de psicoestimulantes o fazemos, acima de tudo, recorrendo ao metilfenidato , a substância com estrutura química similar às anfetaminas mais utilizada mundialmente para o tratamento do TDAH.

Para avaliar a boa (ou má) relação entre os psicoestimulantes e a melhoria da chamada TDAH diagnosticada em crianças hiperativas, foram realizados inúmeros estudos de duvidosa rigidez, que marcaram a história a favor da medicalização (como o MTA).

Acontece que a declaração posterior de seu coordenador, Peter S. Jensen, não é tão difundida. É uma pena, porque nela ele reconhece ter recebido honorários “debaixo dos panos” de várias multinacionais farmacêuticas que vendem psicoestimulantes nos EUA.

No entanto, nosso objetivo aqui não é começar a analisar a fundo essa questão, mas sim favorecer distintos argumentos que nos façam olhar com mais desconfiança para um hábito preocupante: o uso e o abuso de psicoestimulantes por nossos filhos.

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Devemos saber que os psicoestimulantes foram empregados há muito tempo para diminuir o cansaço, aumentar o rendimento físico e intelectual e melhorar o estado de ânimo. O café, o chá, o tabaco, a cocaína… todos eles são elementos naturais com um longo histórico de uso (e abuso) com o objetivo de estimular nosso organismo.

Pegando um salto histórico que justificaria a conexão entre a medicação psicoestimulante e a aparição do TDAH, devemos saber que as anfetaminas, a nível de jurisprudência, estão totalmente proibidas em alguns países. No entanto, há uma forma de anfetamina – lisdenxanfetamina-  que é liberada para o tratamento do TDAH de crianças e adolescentes.

Isso nos leva a pensar sobre como é possível que os medicamentos psicoestimulantes desse tipo sejam autorizados e prescritos com tanta regularidade. A curto prazo, este tratamento diminui os sintomas próprios do TDAH em aproximadamente 70% dos casos. No entanto, os efeitos dos psicoestimulantes são idênticos em crianças diagnosticadas e em crianças não-diagnosticadas, o que não sugere um efeito específico.

Esse efeito também não é duradouro, pois observa-se uma cronificação de certos problemas. É altamente preocupante a avaliação, a longo prazo, dos efeitos de psicoestimulantes no cérebro infantil. Somente dentro de alguns anos vamos saber exatamente o que estamos fazendo com os nossos filhos e o que realmente é o TDAH.

** Recomenda-se a leitura do livro: Volviendo a la normalidad. La invención del TDAH y del trastorno bipolar infantil. De: Fernando García De Vinuesa, Héctor González Pardo e Marino Pérez Álvarez


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