Qual é o efeito Vênus?

Para quem olha a Vênus no espelho nas pinturas de Velázquez ou Veronese? Para ela mesma? Para você? Ou para o reflexo do pintor? Saiba mais sobre o efeito Vênus.

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Equipe Editorial

Última atualização: 29 agosto, 2024

Se você já se perguntou por que tantos artistas usaram espelhos em suas pinturas, não é por acaso. Os efeitos ópticos em obras de arte foram, e são, um recurso amplamente utilizado. Com eles, os artistas pretendem estimular os nossos sentidos para nos debruçarmos ainda mais sobre as suas obras; e um desses recursos é chamado de efeito Vênus.

Porque é um recurso técnico, mas que conseguiu transcender e ir além do simples fato de causar uma impressão ao fazer parte da chamada psicologia da percepção, uma forma que os artistas tinham de manipular qualquer observador de suas obras para criar uma percepção errônea sobre algo.

E o que vemos refletido num espelho nem sempre é o que parece ou o que esperamos ver manifestado nele. O que exatamente é o efeito Vênus?

Superestimar o que vemos no espelho

Os espelhos são objetos muito particulares em si, inspirando reflexões e também insinuando mistérios. Todos os dias nos vemos neles e também vemos o que nos rodeia. É justamente nessa réplica que reside boa parte do seu enigma, nem tudo é o que parece, e o ser humano tem algumas crenças errôneas sobre esse objeto simples e cotidiano como o espelho.

No final, a nossa compreensão da sua física e do seu funcionamento é algo deficiente, ou pelo menos é o que afirma um estudo publicado no European Journal of Cognitive Psychology (The tendency to overestimate what is visible in a planar mirror amongst adults and children ), sobre a tendência humana de superestimar o que é visível no espelho.

Aparentemente, antecipamos o nosso reflexo na imagem, antes mesmo de estarmos diante dela. Ou seja, podemos estar em um ângulo específico e não diante do espelho, mas esperamos nos ver refletidos, desenvolvemos hipóteses e percepções sobre o que vemos ou não.

E isso, segundo o estudo, é conhecido como um erro precoce, ou seja, em vez de compreendermos a importância do ponto de vista, tendemos a acreditar que o espelho só pode refletir a parte da sala que é igual à largura do espelho. Um conceito um tanto ambíguo, que se refere ao tamanho daquilo que um espelho projeta.

Existem diversas pesquisas que têm prestado atenção ao fenômeno. Uma delas, publicada no NIH (National Library of Medicine), afirma que os artistas manipulam deliberadamente as imagens para criar a impressão que temos quando nos olhamos no espelho.

Alguns pesquisadores sugeriram que as cabeças das Vênus nos espelhos são muito grandes em proporção ao tamanho de seus rostos, o que seria impossível se o observador estivesse em pé, relativamente próximo delas. As Vênus devem ter pelo menos metade do tamanho do espelho.

Quem as Vênus observam?

O efeito Vênus é uma representação visual de um espelho em que a sua imagem aponta para nós em vez de apontar para o protagonista da pintura em questão. Esse curioso efeito foi utilizado por artistas como Velázquez, em A Vênus do Espelho, e Ticiano, em A Vênus com um Espelho ou A Vênus com um Espelho de Veronese.

Da mesma forma, a nossa compreensão dos reflexos nos espelhos nas pinturas é igualmente falha e errônea. No final das contas, o Efeito Vênus refere-se ao egocentrismo de supor que o que o sujeito de uma pintura vê no espelho é a mesma imagem que o observador vê.

A ideia mais comum é pensar que as Vênus estão olhando para o seu próprio reflexo, e a segunda tendência é que estão olhando para você, mas nenhuma das opções acima é correta, porque na realidade estão olhando para o reflexo do pintor.

Assim, e na pesquisa anterior concluem que, se os artistas tivessem realmente pintado essas imagens tal como as viam, o efeito poderia ter sido menos realista. Sem dúvida, um efeito surpreendente que tem sido utilizado em diversas artes, como o cinema e a televisão. Além de tudo isso, geram em nós falsas percepções, criam em nós emoções e nos fazem refletir sobre até que ponto o que vemos em uma pintura e em um espelho é real ou verdadeiro.