Qualquer comparação tem uma parte detestável

Qualquer comparação tem uma parte detestável

Última atualização: 24 agosto, 2017

Se você quer ser feliz de verdade, não caia na tentação de comparar esse momento com outros do passado, os quais, por sua vez, você não soube valorizar porque estava comparando-os com os momentos que ainda estavam por vir. Nesse sentido, a comparação é a arte de estragar a vida. Não há maior perda de tempo que comparar os momentos passados com os atuais.

A frase que diz que “qualquer momento passado foi melhor” resume em si mesma os riscos aos quais a comparação nos expõe. Segundo o neurologista e psiquiatra Alan R-Hirsch, lembramos do passado como uma combinação de muitos momentos diferentes, em cujo processo as emoções negativas perdem força. Ao nos lembrar dos momentos vividos, conservamos principalmente as emoções positivas, idealizando, assim, momentos passados que sempre serão melhores quando comparamos com o momento presente, exatamente devido à distorção que acabamos de descrever.

Para evoluir devemos escrever uma história com nossas lembranças, a nossa história. Mas não podemos permitir que nossa atenção fique presa nela. O que aconteceu conosco ontem pode ter sido grandioso, mas não significa nada se não continuamos com o nosso presente. Nossas ações não podem ser uma tentativa de recuperar o irrecuperável, mas devem se focar na criação de novos momentos.

Em um mundo no qual a comparação é um costume, classificando-nos como mais ou menos inteligentes, mais ou menos bonitos, com mais ou menos sucesso, não é fácil acreditar em um amor que faz a mesma coisa.

Por que nos comparamos?

Segundo a teoria da comparação social de Festinger, determinadas características da situação, como sua ambiguidade, seriam muito relevantes na hora de nos motivar a fazer comparações. Ele chegou a essa conclusão através da observação de um princípio que regula todas as comparações sociais: a conformidade.

Mulher com máscara de lobo

Essa teoria explica como nós, pessoas, avaliamos nossas próprias opiniões e capacidades utilizando as informações que obtemos por meio da comparação com outras pessoas. A comparação corresponderia, assim, à necessidade que nós temos de obter nossas próprias avaliações.

Nesse sentido, quando estamos em uma situação na qual interagimos com outras pessoas, podemos preservar ou afirmar nossa autonomia e identidade nos diferenciando dos outros. Quando uma pessoa sente que sua identidade está ameaçada, uma das respostas mais prováveis é a de se diferenciar para sair dessa escala da comparação.

Nós nos comparamos porque precisamos saber qual lugar ocupamos no mundo ou em um grupo. Por exemplo, vamos imaginar dois irmãos. Um é muito estudioso e o outro não. O segundo, para proteger sua identidade e sabendo que não vai conseguir se destacar no aspecto em que seu irmão se destaca, provavelmente vai empregar seus esforços em outra área, como o esporte, por exemplo. Dessa maneira, ele consegue equilibrar uma possível comparação com seu irmão: um não é melhor que o outro, são apenas diferentes.

Não devemos comparar nossas conquistas com as de outras pessoas. Devemos apenas responder uma pergunta a nós mesmos: Eu dei o melhor de mim?

Quando a comparação apenas nos machuca

Dependendo das nossas características pessoais, nos comparamos com as outras pessoas para cima ou para baixo. Quando nos comparamos para cima, estabelecemos comparações nas quais provavelmente sairemos desfavorecidos. Em contrapartida, na comparação para baixo, avaliamos características nas quais seremos beneficiados.

A comparação com outras pessoas consideradas superiores a nós provoca mais mal-estar que a quantidade de bem-estar provocada pela comparação com pessoas consideradas inferiores. Essa descoberta provavelmente se deve ao fato de considerarmos as comparações para cima como uma ameaça.

Meninas com ursos panda

A publicidade e o marketing utilizam comparações para cima nos seus anúncios, o que costuma produzir insatisfação na população. Uma insatisfação que nos torna mais vulneráveis aos efeitos adversos de nos expor a imagens que os meios de comunicação costumam projetar. As pessoas que estão mais insatisfeitas consigo mesmas apresentam maior risco de se verem atingidas por esse tipo de publicidade que modelos retocados com programas de computador nos mostram.

O ser humano tem a capacidade única de comparar. Essa é uma importante habilidade mental, mas devemos nos lembrar de que também pode ser acompanhada de uma grande insatisfação vital.


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