Querer controlar tudo não faz bem

Querer controlar tudo não faz bem
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 13 novembro, 2017

Querer controlar tudo é uma dessas fantasias criadas pelos tempos modernos. A história do homem é a de uma conquista progressiva sobre as forças da natureza. Começou com um mamífero impotente diante dos desafios do ambiente onde vivia. De lá para cá, o ser humano deu um salto gigantesco que o levou a desvendar progressivamente os mistérios de quase tudo que o rodeia.

Vivemos tempos frenéticos. Tudo acontece a um ritmo muito mais rápido que a nossa capacidade de assimilar. É por isso que não é estranho que uma das fantasias recorrentes seja precisamente a de querer controlar tudo. No fundo há um desejo de pisar em terreno sólido, para sentir que temos o leme da nossa própria vida.

O problema é que nem sempre percebemos que controlar tudo é uma fantasia. Um propósito irrealizável que, quando esquecido, dá lugar a uma série de comportamentos malsucedidos que só atraem ondas de ansiedade. Nós nos descobrimos constantemente perdendo o controle, e isso nos frustra.

Tudo está em movimento e existem centenas de fatores além do nosso controle. O que está vivo muda constantemente. Hoje avistamos um caminho e amanhã outro. A única coisa da qual temos certeza absoluta é a morte. A vida, por outro lado, se desenrola entre incertezas e fluxos inesperados.

A fantasia de querer controlar tudo

Nós não estamos mais nos tempos em que era possível viver de forma pacífica. Somos constantemente bombardeados por centenas de estímulos. Você se levanta e vêm à sua cabeça muitas ideias e sentimentos que se atropelam entre si. Sentimos que há muito a fazer e pouco tempo para isso.

Todos os dias também enfrentamos sentimentos e emoções contraditórios. Às vezes temos que nos forçar para redirecioná-los, mesmo sem ter aprendido a compreendê-los. Simplesmente temos que funcionar. E para isso é necessário impor limites a nós mesmos, deixar logo os pensamentos ou as emoções incômodas que nos impedem de produzir, alcançar, agir.

Mulher com flor no rosto

Mesmo que não pensemos nisso, queremos poder controlar tudo. É por isso que cada vez que algo sai do plano, ou quando um obstáculo aparece, podemos reagir com irritação. É uma espécie de rebelião contra esses imperativos da realidade que vão contra nossos propósitos.

Nessas circunstâncias, é usual que acabemos imersos em alguns paradoxos. Conseguimos controlar o fluxo de dinheiro, mas não podemos controlar a insônia. Nós nos tornamos capazes de estabelecer o controle sobre nossa fadiga, mas as relações que tanto importam estão fora de controle. Por mais que tentemos, nunca conseguimos controlar tudo.

Observação consciente e atenção plena

Existe uma verdade conhecida pelas culturas não-ocidentais da qual nos esquecemos muitas vezes: a vida não é vivida com a mente, mas com os sentidos. O pensamento está presente o tempo todo, intermediando nossa abordagem à realidade. A mente orienta a nossa vida com base em preconceitos, medos, ambições, etc. Da mesma forma, isso nos priva de experimentar profundamente cada um dos nossos dias.

O que isso tem a ver com essa ânsia de controlar tudo? O que acontece é que o pensamento funciona dessa maneira: ele limita, ele tenta apreender tudo para se apropriar e direcionar em algum sentido. Percepções, sentimentos e emoções funcionam de forma diferente. Eles são mais rebeldes e caóticos, mas também mais gratuitos e autênticos. Eles são aquela área que “sabota” nossas tentativas de impor controle sobre tudo. É também o que nos permite experimentar a felicidade.

Rosto de mulher seccionado

Muitas vezes acabamos lutando contra nós mesmos. Nosso pensamento coloca um conteúdo lá e então nos esforçamos para erradicá-lo. Nós não tentamos entender, mas sim tirá-lo da consciência o mais rápido possível. Sentimos, por exemplo, um acesso à ansiedade e imediatamente tentamos remover a inquietação para fazê-la desaparecer. Talvez se adotássemos uma posição de aceitação e observação, poderíamos nos encontrar com um panorama diferente.

Aprendendo a perceber a nós mesmos, sem julgar, sem pensar, mas simplesmente nos contemplando… Sem querer controlar tudo, mas permitindo que as coisas fluam, tanto interna quanto externamente. Esse é o caminho que nos leva de volta a experimentar a vida de uma maneira mais genuína. Sem apreensões. De tudo isso surge uma nova forma de compreensão, que não se expressa como aprendizagem intelectual, mas vital. Uma forma mais elevada de consciência que leva ao equilíbrio.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.