A relação entre isolamento e vitimismo

A relação entre isolamento e vitimismo
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O vitimismo, entendido como aquele disfarce que nos permite chamar a atenção para o quanto nos sentimos desamparados, é muito prejudicial. Na maioria dos casos, torna-se uma estratégia para não nos sentirmos responsáveis pelo que acontece em nossas vidas.  No entanto, podemos nos fazer a seguinte pergunta: existe alguma relação entre isolamento e vitimismo?

Talvez tenhamos visto esse modo de agir em algum membro da nossa família. Ele tendia a se isolar, a ficar sozinho e a se sentir mal com isso. Ou seja, no final das contas, estamos falando sobre uma maneira de evitar crescer.

Diante de uma situação difícil, é normal nos sentirmos perdidos e com pouca ou nenhuma capacidade de controlar o que nos acontece. Apesar disso, estas situações não precisam ser algo objetivamente dramático (por exemplo, não encontrar um emprego ou nossos amigos não nos convidarem para um evento).

O desconforto que isso gera pode nos fazer sentir vítimas do que aconteceu. No entanto, depois de algumas horas ou alguns dias, devemos ser capazes de afastar esse sentimento. Se isso não acontecer, corremos o risco de adotar certos hábitos poucos saudáveis. Um deles é o isolamento.

O isolamento é uma forma de vitimização

Quando falamos em isolamento, nos referimos a um ato voluntário. Decidimos nos refugiar em casa ou não ficar com nossos amigos por vários motivos que têm a ver diretamente com nós mesmos. Neste tipo de situação, tendemos muitas vezes ao autoengano. Acreditamos que os outros nos deixam de lado quando, na realidade, somos nós que estamos evitando compromissos sociais.

Nós precisamos sentir que somos importantes para alguém e temos a ilusão de que se nos afastarmos, o outro nos procurará. É nesse momento que nos sentimos sozinhos, sem realmente estar ou sem que realmente estivéssemos antes de nos afastarmos.

“Se você agir como uma vítima, provavelmente será tratado como tal”.
-Paulo Coelho-

O isolamento ajuda a aumentar o sentimento de que somos vítimas, impedindo-nos de aceitar a responsabilidade pelo que nos acontece. No entanto, o que influencia mais? O isolamento na vitimização ou vice-versa?

A verdade é que o isolamento e a vitimização se retroalimentam. Se nos isolarmos, é muito provável que acabemos nos sentindo vítimas pelo que acontece conosco. Se nos sentirmos vítimas, a probabilidade de acabarmos nos isolando dos outros é muito grande.

No entanto, quando nos distanciarmos dos outros, é muito provável que acabemos nos sentindo vítimas. E se muitas vezes nos sentimos assim, é muito possível que acabemos nos isolando.

Isolamento e vitimismo: razões que nos afastam dos outros

Apesar de entendermos o isolamento como um fato derivado de nos fecharmos em casa e não querermos ver ninguém, a verdade é que isso vai muito além. A seguir, veremos algumas das razões pelas quais nos isolamos e por que isso nos leva a aumentar a sensação de que somos vítimas:

  • Nós nos isolamos dos outros para nos sentirmos mal: mesmo que pareça absurdo, as pessoas vitimistas se isolam para potencializar aquele sentimento de “ninguém me ama”, “eles me ignoram”, “não contam comigo” ou “não valho nada”.
  • Buscamos uma distância física e emocional: o fato de fechar-se em casa ou rejeitar certos compromissos é uma forma de não ter contato com outras pessoas. Vemos como eles continuam com suas vidas e respeitam o nosso isolamento nos dando espaço. Isso dói e é usado para aumentar a sensação de sermos vítimas.
  • Queremos chamar a atenção: isolamento e vitimização podem ser usados ​​para que “os outros me procurem”. O que acontece é que isso geralmente não ocorre ou, se acontecer, as pessoas que tentam se aproximar sempre receberão uma negativa ou um “não”. Isso nos fará sentir ainda mais vítimas.

A zona de conforto no isolamento e vitimismo

Uma das razões pelas quais é tão difícil sairmos desse papel de vítimas que adotamos é porque estamos na nossa zona de conforto. Nós reclamamos, lamentamos, mas não fazemos nada para mudar a situação que estamos vivenciando.

Como disse Maximiliano Hernández Marcos em seu artigo ‘O vitimismo, um novo estilo de vida’, esta é uma tentativa de caracterização: “Este boom de vitimismo nas últimas décadas mostra que não estamos diante de uma tendência social de curto prazo, mas sim de uma mentalidade dominante”. Se a situação é tão séria, o que podemos fazer diante disso?

Quando nos isolamos, em vez de dizer “sim” ao pedido dos nossos amigos para sair à noite, dizemos “não”. Agimos dessa forma apenas para aumentar esse sentimento de “como me sinto sozinho”. O problema é que os únicos que estão passando por maus momentos e que não estão felizes somos nós.

Homem diante do mar

Dê o primeiro passo

Para sair do isolamento e do vitimismo é muito importante começar a adotar certas medidas nas quais é altamente recomendável que um profissional nos acompanhe. Isso nos fornecerá algumas ferramentas para sairmos daquele buraco em que nos submergimos e do qual acreditamos que não seremos capazes de sair.

O primeiro passo é o mais difícil, mas o mais valioso. Para começar, temos que nos livrar de tudo o que nos faz sentir como vítimas. Para isso, uma boa ideia é rever as crenças que temos, questioná-las e jogar fora aquelas que só nos trazem dor e sofrimento.

Depois disso, chegou o momento de abrir um espaço para o novo (no começo pode ser difícil). A zona de conforto pode se tornar muito atraente e sempre nos fará acreditar que “não quero” ou “estou muito cansado” ou “me sentirei desconfortável”. No entanto, as viagens para o outro lado valem a pena.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.