A sabedoria das pessoas mais velhas

A sabedoria das pessoas mais velhas
Cristina Calle Guisado

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Calle Guisado.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

A sabedoria das pessoas mais velhas é infinita; elas só precisam que nós estejamos dispostos a escutar com o coração as suas histórias de vida e sobre a vida. Que nós estejamos dispostos a apreciar a sabedoria que só os anos permitem adquirir. Eles nos aconselham se baseando na sua própria experiência, seus triunfos e suas derrotas. Aqueles que, devido à sua variedade e diferenças, são muito ricos.

Não existe vida sem dificuldade, nem existe vida sem um instante de felicidade.

A vida tem as suas nuances, nem tudo é branco ou preto; na realidade existem poucas coisas que sejam assim, e quando você escuta as suas histórias, percebe isso. Se você prestar atenção, vai descobrir como as diferentes vivências vão construindo uma vida. Uma vida onde os momentos-chave e instantes inesquecíveis são os que irão marcar a nossa personalidade e construirão a nossa história de vida. Momentos e instantes relacionados com o amor e a família ou, inclusive, com algo tão inevitável como a morte.

Trabalhar em um serviço de assistência domiciliar para idosos me permitiu conhecer muitas histórias de usuários e seus familiares. Isso me deu a oportunidade de escutá-los, compreendê-los e, também, de mergulhar no seu carinho e, logicamente, na sua sabedoria, a sabedoria das pessoas mais velhas.

“Envelhecer é como escalar uma grande montanha; enquanto você sobe as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a vista mais ampla e serena”.
– Ingmar Bergman –

Mulher idosa no campo

Amor

Os conselhos sobre o amor e a importância de escolher bem o seu companheiro de vida fazem parte da sabedoria das pessoas mais velhas. Como muitos deles contam, especialmente, como muitas senhoras dizem: cedo ou tarde, os filhos vão embora de casa. Isso é inevitável. Essa partida pode deixar um vazio ao provocar mudanças importantes na dinâmica familiar.

Alguns pais ou mães podem chegar a padecer da síndrome do ninho vazio. Nesse momento, quando os filhos já não estão em casa e a pessoa se aposenta, ela dispõe de mais tempo livre e grande parte desse tempo é compartilhado com o companheiro amoroso. Por isso, é aconselhável ter um bom relacionamento, entender-se bem com o cônjuge. Caso contrário, a solidão dói apesar da presença do companheiro.

Por outro lado, conversar com pessoas mais velhas ajuda a acreditar no amor com mais força do que nunca. Casais que duram mais de trinta, quarenta, cinquenta, ou até sessenta anos juntos, superando dificuldades de todo tipo, como uma grande equipe.

Viúvos ou viúvas que, com grande tristeza, sentem falta do seu cônjuge. Recordam com carinho e gratidão, lembrando de grandes e pequenos detalhes como o grande pai ou mãe que ele foi, suas piadas, seus passatempos, como gostava de ir ao campo ou brincar com os netos…

Outros devem se separar do seu companheiro ao longo da vida, em alguns casos, do amor da sua vida, quando um deles entra em um asilo e o outro fica sozinho em casa. A grande maioria visita o seu companheiro praticamente todos os dias. Importa muito pouco a doença que ele tenha ou se consegue falar ou lembrar.

“A idade não te protege do amor. Mas o amor, até certo ponto, te protege da idade”.
-Jeanne Moreau –

Solidão

A solidão é a moldura da tristeza que muitas pessoas mais velhas sentem. Conhecer a solidão também faz parte da sua sabedoria. Solidão que sentem, às vezes, por não querer incomodar, porque se afastaram da família, ou porque não têm ou contam com poucos parentes ou amigos.

Existem histórias de todo tipo. Muitos filhos não querem saber nada dos seus pais, com motivo ou sem motivo, não sou eu quem vai julgá-los. Mas tenho a suspeita de que, se algumas pessoas mais velhas pudessem voltar no tempo, fariam as coisas de outra maneira.

Quando somos jovens nunca pensamos que algum dia seremos velhos e que os nossos atos de hoje podem ter graves consequências amanhã. Que não tratar bem as pessoas, não nos esforçar nas relações com os outros, pode nos isolar dos seres humanos, da sociedade e, inclusive, dos seres mais queridos.

Olhar de pessoa idosa

Todos nós precisamos dos outros porque, no final das contas, somos animais sociais. Ter passatempos ou saber encontrá-los em qualquer idade é importante, é uma grande cura para a solidão. Alguns desses passatempos servirão para estar em companhia, e outros, pelo contrário, para estar sozinho, mas seja como for, eles ajudam a socializar.

É o caso de uma cliente de 85 anos que ganhou um tablet de presente dos netos. Nele, ela joga diferentes jogos, como o famoso Candy Crush. Graças a esse novo passatempo, ela passa horas distraída, ao mesmo tempo em que treina a mente e, além disso, favorece a vinculação afetiva com os netos.

“É triste ficar velho, mas é agradável amadurecer”.
– Brigitte Bardot –

A família

Valorizar a importância da família faz parte da sabedoria das pessoas mais velhas. Que importante é a família para aqueles que a têm e para aqueles que não têm essa sorte! Não só os filhos são importantes; muitos sobrinhos cuidam dos seus tios e tias como se fossem os seus próprios pais, se preocupam com eles e isso fica evidente quando você os ouve.

“À medida que envelheço, percebo que o que eu mais valorizo é um bom coração”.
– Alice Walker –

A família foi, é e será importante. As lembranças familiares sempre são valiosas, tanto as vividas quanto as que continuam sendo criadas quando você recebe as visitas dos filhos e netos, ou de outros familiares. São muitas as anedotas que eles contam, algumas recentes e outras não tão atuais. Lembro de muitas conversas que me impressionaram:

  • Uma cliente que recitou vários poemas que seu pai havia criado. Não havia chegado a escrever nenhum deles no papel, mas a memória do seu pai se mantinha viva cada vez que ela recitava as suas poesias. Poemas lindos, cheios de vida e de sabedoria popular.
  • Outra cliente me lembrava com carinho do seu pai, que a ensinou, junto com o irmão, a ler e escrever durante as noites. Até hoje, com os seus 80 anos, lembra perfeitamente o título do primeiro livro que ela leu quando tinha sete anos, O patinho aventureiro.
Avô abraçando seu neto

A morte

Aprender a aceitar a morte como parte da vida é um pilar fundamental da sabedoria das pessoas mais velhas. Na verdade, elas aceitam que a morte está perto, mas não deixam de viver. Inclusive, aproveitam muito mais aquilo que têm ao seu alcance, destacando em sua história aqueles pontos em que deixaram de ser anões e se transformaram em gigantes.

No entanto, costuma ser mais difícil aceitar outros tipos de perdas, como a deterioração das próprias faculdades físicas e mentais, ou a perda de pessoas queridas, como amigos e familiares.

A família, assim como na infância, passa a ocupar o lugar mais importante. No entanto, agora não são os pais, mas sim os filhos, aqueles que atraem toda a sua atenção. A maioria deles dorme melhor ou pior em função de como imaginam o seu futuro, de como sentem que contam com apoios sólidos, enraizados e estáveis, que lhes permitam crescer.

A sabedoria das pessoas mais velhas

A gratidão faz parte da sabedoria das pessoas mais velhas. Agradecem pela vida que tiveram, entendendo que o seu caminho foi longo e que o fato de que o seu coração ainda esteja batendo é um presente. Não reclamam ou lamentam as dificuldades; entendem que, graças a elas, eles são o que são, e que foi uma fascinante dialética entre a sorte e a sua vontade que os levou até o ponto onde se encontram.

Eles lembram que o trabalho nos humaniza, constituindo o tapete sobre o qual nós desenvolvemos muitas das nossas habilidades. No entanto, erramos ao convertê-lo no centro de nossas vidas. As pessoas mais velhas costumam se lamentar pelos momentos nos quais elas caíram nessa tentação, e não por aqueles em que abandonaram estas propostas para compartilhar o seu tempo com a família e os amigos.

Resgatam também a sensação de utilidade que o trabalho proporciona. Neste ponto, me lembro do caso de uma pessoa com mais de 80 anos que se matriculou em aulas de pintura sem nunca ter pintado nada. Agora ela presenteia a família inteira com quadros e faz isso com uma sensação impagável de ter capacidade e vontade para gerar valor, apesar e graças aos seus anos.

“E, no final, não são os anos na sua vida que contam. É a vida nos seus anos”.
– Abraham Lincoln –

Homem idoso lendo jornal

Muitas pessoas mais velhas gostam de ler, e seu entorno familiar favoreceu o seu interesse pela cultura, apesar das dificuldades. Elas leem o jornal e livros de qualquer tipo, desde as obras mais clássicas aos ensaios mais atuais. Buscam aqueles conteúdos dos quais gostam e os formatos que estão mais adaptados às suas capacidades físicas, especialmente ao seu grau de visão.

O que podemos aprender se escutarmos as pessoas mais velhas com atenção? Elas têm muito a nos ensinar sobre a vida, tanto pelas suas experiências quanto pelo modo como a enfrentam na atualidade.

As pessoas mais velhas guardam para aqueles que queiram escutar as suas histórias cheias de força e coragem, de sorrisos e lágrimas, de sol e de chuva… Suas histórias estão cheias de anedotas de todos os tipos, de momentos felizes e de momentos não tão felizes, inclusive tristes. O melhor de tudo? Elas estão ansiosas para compartilhá-las.


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