Saber renunciar é a chave para estar bem

Saber renunciar é a chave para estar bem
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 23 abril, 2020

Não é exagero dizer que uma boa parte do nosso bem-estar depende de saber renunciar. Certamente a palavra “resignação” gera animosidade em muitas pessoas, e não é para menos. Vivemos em uma cultura que nos convida o tempo todo a “ter e acumular”, não a renunciar.

Os consultórios dos psicólogos estão cheios de pessoas que não encontram um caminho para se sentirem confortáveis com a realidade em que vivem. Muitas delas se surpreendem com o fato de terem conseguido uma grande parte do que se propuseram: um bom trabalho, certas comodidades e um parceiro estável. As opções podem ser muitas. E apesar de terem conseguido o que desejavam, não se sentem bem.

“A vida é um aprendizado de renúncia progressiva, de limitação contínua das nossas pretensões, das nossas esperanças, da nossa força, da nossa liberdade”.
– Henri-Frédéric Amiel –

Talvez a chave não esteja exatamente no que alcançar. É possível que a solução para essa eterna insatisfação esteja em saber como renunciar. Em alcançar um equilíbrio entre o entusiasmo para obter o que sonhamos e a aceitação para apreciar o que temos.

Um tempo de desconforto

Se há algo comum nos seres humanos é esse desejo de estar sempre bem. E quando estamos bem, queremos estar melhores. É uma certa inconformidade positiva, que nos permitiu construir os conhecimentos, a ciência e as civilizações. Queremos resolver todos os problemas que a realidade nos apresenta para sermos melhores, cada vez melhores…

Pomba voando de frasco

No entanto, nesse nosso tempo, “ter” e “ser” se tornaram praticamente sinônimos. O que você é depende do que você tem. “Ser alguém” significa ter reconhecimento, dinheiro, prestígio, fama ou o que for. O problema é que uma pessoa é valorizada pelo que conseguiu alcançar. Você não é ninguém, se tem menos que os demais.

Da mesma forma, vivemos em uma época em que parece haver uma epidemia de infelicidade. Não é à toa que as taxas de transtornos mentais vêm aumentado nas últimas décadas e que a maioria das pessoas reclamam das suas vidas.

Saber renunciar

Um fato importante é que a vida sempre nos leva a múltiplas renúncias quase todos os dias. Se você faz uma coisa, deixa de fazer outra. É preciso escolher. Se você quer uma casa grande e maravilhosa, provavelmente terá que deixar a sua família sozinha para dedicar mais tempo ao seu trabalho. Se você quer um parceiro estável, deve renunciar aos homens ou mulheres que passam pela sua vida.

Pena em mão

Essa é a parte que muitos não entendem ou não querem aceitar. Acreditam que o verdadeiro bem-estar só é alcançado quando conseguimos alcançar tudo ao mesmo tempo. Saber desistir não está dentro dos seus planos. Pelo contrário, o que eles querem é saber como ter, como acumular, como armazenar o conjunto completo.

É aí que está o engano. Toda decisão que tomamos na vida implica uma renúncia. Toda conquista tem seu preço. Não é possível ter tudo. Agora, cada pessoa define quais são as suas prioridades. É por isso que saber renunciar é fundamental.

A felicidade está dentro de nós

Nós nos enganamos pensando que seremos mais felizes em conseguir isso, sem perder aquilo. Nós queremos o pacote completo e, quando não o conseguimos, nos tornamos infelizes. Ansiamos pelo que renunciamos, em vez de desfrutarmos o que alcançamos graças a essa renúncia. Estamos sempre escolhendo, o que acontece é que muitas vezes não percebemos isso.

Talvez acabemos ficando com raiva de nós mesmos por não conseguirmos incorporar esse ideal de “ser”, e começamos, então, a nos maltratar e exigir muito de nós mesmos. Queremos um trabalho melhor, um status mais elevado, uma harmonia perfeita no casamento, alguns filhos de capa de revista, e um longo etc. Como os ideais são ideais, precisamente porque não estão dentro da realidade concreta, tornamos as nossas vidas um inferno na busca daquilo que não temos.

Pôr do sol e borboleta

Na verdade, ou você é feliz com pouco ou não é feliz. Quando realmente existe um equilíbrio interno, essa ansiedade voraz de ter mais ou de ser mais desaparece. Isso só é possível se você tiver adquirido a capacidade de saber como renunciar. A felicidade é uma atitude na qual existe força suficiente para identificarmos o que realmente nos importa e “corrermos atrás”, renunciando ao restante sem nostalgia.


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