Sapiossexualidade: sua conversa interessante me fascina

Para os sapiossexuais, poucas coisas são mais sedutoras do que uma conversa interessante, íntima e enriquecedora. Para esta parte da população, o desejo sexual vai além da pele e da mera aparência física, surge da inteligência.
Sapiossexualidade: sua conversa interessante me fascina
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

A sapiossexualidade chegou para ficar. Muitas agências e páginas de namoro online já incluem esse termo como uma identidade sexual a mais.

O New York Times também revelou, em 2014, que boa parte da população se excita mais com uma conversa interessante do que com um corpo escultural. Talvez algo esteja mudando na linguagem de nossa atração?

A sapiossexualidade é definida como o fascínio pela inteligência dos outros, na qual um diálogo interessante constitui um jogo sexual entre duas mentes e onde a palavra se levanta como uma poderosa arma de sedução.

Na realidade, a intelectualidade como forma de erotismo não é um fenômeno novo. Ela sempre existiu e foi o próprio Platão quem falou sobre isso no ano 380 a.C.

Atualmente, estamos testemunhando não somente a sua popularidade, mas várias tentativas de reconhecimento científico desse termo que parece definir um bom número de pessoas.

Conhecer alguém habilidoso nos mais variados conhecimentos, capaz de acender a nossa mente e despertar essa mistura entre curiosidade, mistério e admiração, cria um jogo que vai além da pele.

“Os cérebros, assim como os corações, vão aonde são apreciados”.
– Robert McNamara –

Casal conversando

A sapiossexualidade: quando o cérebro é o atributo mais sexy da pessoa

Existe um tipo de crítica que aparece com mais frequência em torno do termo “sapiossexualidade”. Muitos veem neste conceito uma forma de discriminação e elitismo orgulhoso.

Assim, a atração criada entre pessoas de elevada inteligência deixa de fora, supostamente, aqueles com QI médio ou baixo e, é claro, pessoas com deficiências.

Agora, os sapiossexuais dizem que não há arrogância alguma nesta forma de atração. Além disso, esse tipo de sexualidade não se desperta apenas estando com alguém muito inteligente.

Na realidade, a sapiossexualidade procura encontrar alguém com quem o diálogo se torne uma forma de intimidade, reflexão, para se conectar emocionalmente através da palavra, conhecimento e emoção.

Inteligência e mente como fator de atração interpessoal

O New York Times publicou em 2017 um artigo interessante que reuniu o testemunho de vários sapiossexuais. Nesta época em que muitos relacionamentos têm início através de redes e contatos on-line, não faltam aqueles que se sentem frustrados e chateados com o tipo de interação que ocorre nesses cenários virtuais.

A troca de fotos e conversas banais, a exaltação do valor da aparência física é, em muitos casos, uma decepção. Agora, quando conseguem encontrar alguém capaz de manter uma conversa brilhante, que aprofunda aspectos de uma maneira hábil, empática e interessante ao mesmo tempo, se ativam a atração e a excitação.

Então, uma pessoa pode realmente se sentir sexualmente atraída por alguém apenas por meio de conversas?

Em um estudo realizado na University of Western Australia, os pesquisadores concluíram que cerca de 8% dos jovens entre 18 e 35 anos são sapiossexuais. Por outro lado, páginas de namoro como a OkCupid apontam que a sapiossexualidade é cada vez mais comum em pessoas entre 30 e 45 anos.

Além disso, Gilles Gignac, autor deste trabalho, concluiu que a inteligência é, para algumas pessoas, um fator de atração sexual. O homem ou a mulher inteligente gera excitação sexual porque, de certa forma, nos separa das convenções e da superficialidade cotidiana.

Também lhes atribuímos qualidades como respeito, boa tomada de decisão, entendimento e senso de proteção pelo outro.

Como ocorre a atração entre duas pessoas

Acariciar o cérebro: a inteligência é a beleza que vai além da pele

Muitos veem o assunto da sapiossexualidade com algum ceticismo. De certa forma, esses novos paradigmas lexicais vêm aparecendo com cada vez mais frequência.

Termos como pluviófilos (amor pela chuva) ou bibliófilos (amor pelos livros) são rótulos recentes que dão nome a realidades que sempre existiram. No entanto, quando falamos de sapiossexualidade, não estamos nos referindo a um hobby ou a um tipo de orientação sexual.

Especialistas da área, como a Dra. Debby Herbenick, educadora em saúde sexual e professora de saúde pública na Universidade de Indiana, apontam que estamos diante de um tipo de identidade.

Existem muitos heterossexuais, homossexuais e bissexuais que se identificam e se definem como sapiossexuais. A inteligência os seduz, e eles não consideram a aparência física um fator relevante quando se trata de sentir-se sexualmente atraído por alguém.

É verdade que algumas pessoas acreditam que não é bem assim. Ninguém desviará o olhar diante de uma mulher ou um homem atraente. No entanto, os sapiossexuais não são cegos diante da beleza e nem a negam.

A única particularidade é que ela não desperta muito desejo ou um fascínio particular. A conversa, o diálogo e a palavra são o que flui e deslumbra, aprisiona e aprofunda nos mais diversos assuntos com sucesso e elegância, o que realmente seduz e apaixona.

Acariciar o cérebro em vez da pele é, para muitos, a forma mais interessante de sexualidade.


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  • Gignac, G. E., Darbyshire, J., & Ooi, M. (2018). Some people are attracted sexually to intelligence: A psychometric evaluation of sapiosexuality. Intelligence66, 98–111. https://doi.org/10.1016/j.intell.2017.11.009
  • Walton, M. T., Lykins, A. D., & Bhullar, N. (2016). Beyond Heterosexual, Bisexual, and Homosexual: A Diversity in Sexual Identity Expression. Archives of Sexual Behavior, 45(7), 1591–1597. doi: 10.1007/s10508-016-0778-3

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