Sem medo de nada

Sem medo de nada

Última atualização: 14 janeiro, 2016

Sou vulnerável. Uma rajada de vento pode fazer cair uma árvore e minha vida terminará. Um motorista pode me atropelar e levar minha vida embora. Enquanto escrevo estas palavras, meu coração pode parar.

Com você  também podem acontecer essas e muitas outras coisas. Você é vulnerável, como eu. E como as pessoas de quem você gosta: sua mãe, seu filho ou seu amigo. Não quero colocar o medo no seu corpo.

Reconhecer que, no fundo, nossa vida não está nas nossas mãos, só nos faz conscientes, só nos traz para a realidade.

Por que falamos de tudo isto? Tenho a sensação de que perdemos a consciência da fragilidade de nossa existência. Isso não é importante, mas sim suas consequências: viver em uma realidade que não existe é um convite para um jantar envenenado.

Marcamos os dias no calendário e dormimos, cansados, em ônibus e vagões de metrô, abrimos uma e outra vez a porta de casa. Somos como a locomotiva que transita por vias marcadas.

Gastamos nosso tempo em presumir, em nos proteger, em atacar, em falar dos outros. Na loja da vida, nos comportamos como o rico que entra e compra todo aquilo que quer como se seu dinheiro não fosse limitado, como se nosso tempo não fosse limitado.

Faça um balanço. Você coloca de um lado os prazeres e do outro as obrigações? Estamos fazendo algo errado.

E não somos apenas nós dois, somos nós como sociedade. O tempo médio que alguém precisa gastar em obrigações para poder sobreviver é enorme.

Nos damos o luxo de dizer às crianças que estudem ou que se formem para que possam trabalhar no que quiserem. Como podemos mentir de uma forma tão vil? Será que todos os trabalhos que a sociedade atual oferece podem ser desejáveis para alguém? Vale a pena refletir.

Outra consequência nefasta da falta de consciência da nossa vulnerabilidade é que somos alheios ao sofrimento. Pensamos que se fizermos as coisas bem, se nos colocarmos no caminho certo com as virtudes do nosso esforço e do sacrifício, tudo vai dar certo.

Então, por que deveríamos ajudar alguém que escolheu livremente não seguir a receita do sucesso? Consentimos a miséria porque pensamos que ela é apenas a consequência dos atos de cada um, porque pensamos que nós nunca iremos sofrer com ela.

Assim, a baixa percepção de invulnerabilidade e a ausência de situações parecidas em nossa vida pessoal nos separam, em nossa mente, das pessoas que sofrem.

Então somente levantamos a vista do livro que estamos lendo, somente recuperamos nossa natureza humana, quando percebemos que essa barreira está se quebrando. E para isso, a percepção precisa surgir cada vez mais perto, e sempre antes de chegarmos a nossa estação de destino.

Imagem cortesia de Annette Shaf.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.