Por que algumas pessoas não têm sensibilidade ao sofrimento alheio?

Por que algumas pessoas não têm sensibilidade ao sofrimento alheio?

Última atualização: 03 janeiro, 2018

Todas as espécies de animais que vivem em grupo estão dotadas da capacidade de se sensibilizar perante a dor e o sofrimento de seus pares. A solidariedade faz parte do material genético porque na maioria dos casos funciona como uma garantia para a sobrevivência da espécie. Por que, então, algumas pessoas não têm sensibilidade ao sofrimento alheio? Como é possível se fechar emocionalmente ao que está fora de nós mesmos? O que acontece para que uma pessoa se torne insensível?

Há várias respostas possíveis para essas perguntas. As causas que estão por trás da insensibilidade vão desde a existência de graves patologias até uma vulnerabilidade extrema. Os caminhos para tornar-se insensível também são muitos e incluem diversas manifestações.

 “Desejar o impossível e ser insensível aos sofrimentos alheios: aí estão as grandes enfermidades do espírito.”
-Bías de Priene-

Geralmente, a insensibilidade não se aplica a tudo. Ou seja, a não ser que exista um transtorno mental muito incapacitante, as pessoas não são totalmente insensíveis. Há uma variação de grau, uma variação de objeto, e variam também as circunstâncias. Em outras palavras, pode ser que alguém seja completamente insensível ao sofrimento de alguns e, ao mesmo tempo, muito sensível à dor de outros em um determinado momento.

Causas e manifestações da falta de sensibilidade ao sofrimento alheio

No caso de viver em uma avenida muito movimentada, o mais provável, salvo que sua casa se encontre muito isolada, é que passe o dia ouvindo ruídos da rua. Se você não estiver acostumado ou habituado com essa situação, pode ser que cada um dos ruídos o incomode. Mas, depois de um certo tempo, pode ocorrer o contrário. Basicamente você poderá deixar de prestar atenção e, de fato, experimentar uma sensação estranha quando tudo ficar em silêncio. Dito de outro modo, você se torna insensível ao ruído.

Pessoa com baleia

No mundo das emoções ocorre algo similar, mas não igual. Quem já passou por grandes sofrimentos emocionais costuma ser mais empático e mais sensível à dor dos demais. Mas se essa dor ultrapassa certos limites, ou se ocorre em um contexto de extrema vulnerabilidade, ocorre o efeito contrário: a pessoa se torna insensível.

O desconcertante é que também pode ocorrer o fenômeno contrário. Ou seja, quem nunca experimentou ou passou por nenhum tipo de sofrimento, ou passou mas em uma medida muito pequena, também pode se tornar insensível. A pessoa não consegue atribuir um significado ou um valor emocional ao sofrimento dos outros. Sua capacidade de empatia não é desenvolvida, e o que ocorre é um tipo de ignorância afetiva que impede o sujeito de se solidarizar com o sofrimento ou com a alegria dos demais. A insensibilidade não ocorre apenas para emoções negativas.

O homem insensível ao sofrimento dos outros se manifesta de muitas formas. Não tem a ver só com permanecer indiferente perante o estado de necessidade ou o pedido de ajuda de alguém. Também se inclui aí todo comportamento em que outro ser humano é visto como um organismo, instrumento ou meio sem ser um fim do comportamento ao mesmo tempo.

Quando somos sensíveis e insensíveis ao mesmo tempo

O mais comum é que uma pessoa seja sensível e insensível ao mesmo tempo. Também é frequente que existam momentos de insensibilidade em quem normalmente é sensível e empático. Há muitos fatores que se misturam para que isso ocorra. Se alguém atravessa um período de grave sofrimento, provavelmente não tem naquele período a energia emocional suficiente para ter empatia com o sofrimento dos outros.

Homem triste

Há pessoas que temem o sofrimento e, sem se dar conta, desenvolvem estratégias, mecanismos ou modos de se tornar insensíveis. Isso ocorre, por exemplo, no caso dos vícios.

O consumo de drogas psicoativas levanta também uma barreira de insensibilidade perante o sofrimento dos outros. É uma bolha que atua como isolante. Construir e nutrir uma personalidade excessivamente rígida é uma outra estratégia de insensibilidade. De fato, é um modo de controle muito severo sobre as emoções, de modo que toda a energia se direciona a contê-las.

O amor e a solidariedade, se são genuínos, também são universais. Diz-se que se alguém ama um ser humano, ama também a humanidade. Fazendo uma analogia com esse ditado, poderíamos dizer também que é impossível ser sensível ao sofrimento de um ser humano sem, ao mesmo tempo, sensibilizar-se com a dor de todos os outros seres humanos. Costuma ser assim, ainda que em diferentes intensidades.

Nesse sentido, aquele que não é receptor da sensibilidade alheia pode se sentir afetado, mas é certo que o problema é na verdade com aquele que não manifesta sensibilidade. A inclinação instintiva para a solidariedade não é um capricho da natureza. É uma capacidade transmitida geneticamente, uma informação instalada na nossa espécie como uma garantia de sobrevivência. Ajudar e ser ajudado é uma das estratégias que a vida possui para se perpetuar. É uma estratégia que, portanto, os humanos possuem para continuar a existir.

Homem com rosto de plantas

Imagens cortesia de Elicia Edijanto, Molly Strohl


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