Síndrome das cadeiras vazias: ausências que pesam nas festas

As pessoas que não estão mais aqui deixam vazios duradouros. Porém, quando chegam a época das festas, há cadeiras que ficam vazias e esses espaços doem muito mais. Como você lida com essas perdas nesses momentos de reunião e celebração?
Síndrome das cadeiras vazias: ausências que pesam nas festas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 14 dezembro, 2023

Os vazios de quem não está mais ali têm uma propriedade: eles se materializam das formas mais inusitadas e dolorosas possíveis. A pessoa que nos deixou ainda está impressa nas fotografias que guardamos dela. Seus pertences e seus quartos solitários nos falam de um passado em que suas vozes, projetos e costumes se materializavam diariamente.

Os que já faleceram ocupam nossos corações, mas não nossos espaços físicos. E isso é evidente quando as festividades como os aniversários e, claro, o Natal chegam. Nessas horas em que nos vestimos para festejar, nos reunimos e oferecemos presentes, as ausências doem mais do que nunca. Tanto que não sabemos o que fazer com elas.

Não é raro muitos dizerem que talvez seja melhor não comemorar nada e ignorar o brilho, as luzes coloridas, as árvores de natal e as mesas recheadas com pratos deliciosos e iguarias. É como se ousar rir e gozar fosse pouco mais que um ataque, uma falta de respeito com quem não habita mais este mundo. No entanto, isso é o mais adequado a se fazer?

É muito difícil rir e desfrutar da companhia dos outros quando a perda de um ente querido ainda nos dói excessivamente.

Presentes de Natal simbolizando a síndrome da cadeira vazia
O Natal é uma das épocas em que mais nos lembramos daqueles que já não estão.

O que é a síndrome das cadeiras vazias?

Você perdeu um ente querido ao longo deste ano? Então, talvez a proximidade das festas de Natal seja motivo de tristeza para você, podendo até dificultar o seu processo de luto. Você vê como as cidades se enchem de luzes, como seu ambiente está animado para fazer planos, procurar presentes e se deixar levar por esse turbilhão tão típico dessas festas.

Quem passou por uma perda costuma sofrer do que é conhecido como síndrome das cadeiras vazias quando chega esse tipo de comemoração. Consiste em uma intensificação das emoções e um sentimento mais profundo dessa ausência. Muitos experimentam um revés em sua tentativa de aceitar a nova realidade, bem como uma nova enxurrada de memórias associadas à morte de um ente querido.

Por outro lado, muitas vezes surgem pensamentos doentios, que tornam a ferida maior. Ideias como “Queria fechar os olhos e, quando abrir, nada disso teria acontecido”, “Não sei o que vou fazer sem essa pessoa” ou “Minha vida depois disso não será mais para comemorações” criam nuvens mentais de grande sofrimento. Quase sem perceber, encistamos o próprio processo de luto.

A dor de uma perda é como as ondas de um oceano. Às vezes essas ondas de dor são suaves e suportáveis e outras vezes nos atingem até nos deixar à deriva, sem saber como reagir. Todos nós somos obrigados a aprender a navegar no processo de luto.

Como enfrentar as festividades sem um ente querido?

A particularidade das festividades, como o Natal, é que, em geral, costuma reunir pessoas que sofreram a mesma perda. As crianças podem ter perdido a mãe ou o pai. É possível que um dos avós ou mesmo um irmão tenha partido. São eventos em que as ausências são vividas coletivamente e isso as torna mais desafiadoras.

As cadeiras vazias dos que não estão são imagens metafóricas dessas ausências. Algo para o qual ninguém está preparado, mas que mais cedo ou mais tarde devemos assumir. Mortes e lutos são aprendizados forçados que a vida nos traz. Enfrentá-los em momentos de festa é mais uma oportunidade de seguir em frente, de aceitar a situação. Vamos ver como.

1. A não comemoração aumenta a dor: digamos sim ao reencontro familiar

Seria mais fácil recorrer à evasão, a não comemorar a véspera de Natal, o Natal e o Ano Novo. Porém, ao evitar esses momentos, o que fazemos é intensificar a dor. É aconselhável manter a normalidade e favorecer esses momentos de união com outros entes queridos.

2. Organizar uma pequena reunião para decidir o que fazer e como

Quando uma família está de luto, as tarefas podem se acumular e nos sobrecarregar. Não deixemos nada ao acaso ou para o último momento, caso contrário, o estresse surgirá e as emoções se intensificarão. O mais adequado nesses casos é determinar o que faremos, quem está a cargo de cada tarefa, o que é necessário e como cada tarefa e processo será realizado.

3. Optar pela simplicidade

A síndrome das cadeiras vazias tem a particularidade de afastar nossos sentimentos. As festas não são momentos fáceis e as energias estão baixas. Optemos por celebrações muito simples e elementares, aquelas que favorecem exclusivamente a ligação com os nossos familiares.

Não é necessário sair para jantar ou ter uma casa onde a decoração de Natal inclua até vestir a nossa mascote. Vamos evitar a artificialidade e focar em estar juntos.

Durante as comemorações convém “reinterpretar” o espaço de quem já não está. Podemos mudar de lugar aquela cadeira em que a pessoa se sentava e deixar que outros a ocupem ou podemos deixá-la positivamente lembrando de quem partiu.

4. Não vamos minimizar as emoções, expressá-las é permitido

Uma pesquisa da Universidade de Granada, por exemplo, destaca como o viés de processamento emocional do luto se instala em nós. É comum evitar, reprimir ou esconder o que sentimos, achando que é o mais adequado, o mais lícito para os outros. Vamos deixar claro que essa é uma ideia completamente errada.

Durante as festas de Natal é permitido falar, emocionar-se e até chorar se for preciso. Da mesma forma, é bom entender que cada membro da família expressa sua dor de uma determinada maneira. Nesses casos, é preciso dar atenção às crianças, deixando que se expressem, lembrem da pessoa ausente como quiserem, por exemplo, com desenhos.

5. Lembretes positivos daqueles que não estão mais lá

A síndrome das cadeiras vazias é mais um processo de luto em si. Em algum momento, chegará um aniversário, um Natal ou qualquer evento que nos fará lembrar quem não está mais lá. Mais de um arrependimento, mais de uma raiva e uma lembrança dolorosa virão à mente. No entanto, nesta jornada para a aceitação, devemos lidar com esses momentos.

Dessa forma, uma maneira de fazer isso é relembrando aqueles momentos positivos, mágicos e maravilhosos que vivemos junto com aquele ser. Fazer isso coletivamente e em família pode ser curador. É uma forma de celebrar a vida, de iluminar a ferida para que seja honrada a marca de quem nos deixou.

Família caminhando no Natal pensando na síndrome das cadeiras vazias
Relembrar quem já não está, entre todos os momentos positivos que evoca, será catártico e saudável para nós.

A importância do apoio emocional e social

Ninguém disse que sentir o luto seria fácil. Também não é um processo rápido que atende a padrões fixos. Cada um precisa do seu tempo e cada um sentirá alívio ao abraçar alguns atos e não outros. Assim, algo que devemos entender é que as perdas sempre vão doer, mas virão como as ondas do mar. Algumas serão suaves e suportáveis e outras nos desestabilizarão um pouco mais.

É comum sentir maior tristeza e nostalgia durante as festividades. É normal e compreensível. Vamos nos apoiar uns aos outros e guardar a memória de quem não está mais em nossos corações. É lá onde a pessoa ausente viverá para sempre e, no final, poderemos conviver com essa ausência.


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