A síndrome da criança rica

A síndrome da criança rica
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 17 novembro, 2017

A vida não é fácil para os pais de hoje. A principal dificuldade que eles enfrentam é a de ter que dedicar muitas horas ao trabalho e pouco tempo aos seus filhos. Como consequência, estes últimos podem chegar a experimentar um vazio que às vezes tentam compensar através de caminhos errados. A partir desta encruzilhada pode surgir a síndrome da criança rica.

Esta síndrome não afeta apenas aquelas crianças que crescem em uma família cheia de dinheiro, trata-se de um fenômeno que afeta tanto as crianças com famílias ricas quanto as de classe média. A expressão “criança rica” é devido às características da criação, não pela questão financeira.

Não eduque seu filho para que seja rico, eduque-o para que seja feliz. Quando crescer, ele vai saber o valor das coisas, e não o seu preço”.
-Anônimo-

A síndrome da criança rica também é conhecida pelo nome de “ricopatia”. Ela está relacionada com a criança que é mimada e malcriada, fruto de uma educação baseada no excesso. Portanto, esta síndrome não é uma condição associada à classe social, mas ao tipo de educação e relacionamento que os pais estabelecem com seus filhos.

O que é a síndrome da criança rica?

A síndrome da criança rica é definida como o conjunto de distúrbios que ocorrem em uma criança quando ela tem tudo em excesso. Na verdade, “tudo” não. Mais precisamente “tudo” que elas pedem. Além disso, ao que as crianças querem também se acrescenta o que os pais dão por conta própria: privilégios, acesso a aprendizagens adicionais e experiências que, segundo eles, podem torná-las crianças melhores.

A questão é que o comportamento dos pais, superprotetor ou facilitador de bens materiais excessivos, tem como consequência problemas e dificuldades de desenvolvimento emocional em seus filhos.  

Menino emburrado sentado em seu brinquedo

Ralph Minear, professor de pediatria da Universidade de Harvard, propõe uma série de perguntas para avaliar se uma criança está sendo educada dentro da síndrome da criança rica:

  • Você costuma comprar presentes caros com frequência sem que haja ocasiões especiais?
  • Você deixa de ter gastos com o lar com o propósito de satisfazer algum desejo da criança?
  • Você permite que a criança veja mais de duas horas de televisão por dia?
  • Você a matricula em diferentes tipos de atividades extracurriculares, sem que ela tenha pedido?
  • Você lhe dá uma recompensa em dinheiro, ou em espécie, quando ela faz uma boa ação?
  • A criança se queixa frequentemente de que está entediada? Ela não sabe como se entreter, mesmo tendo a casa cheia de brinquedos?

Se você responder “sim” a qualquer uma dessas perguntas, é provável que você esteja educando o pequeno para que desenvolva a síndrome da criança rica. Isto se deve, na maioria dos casos, ao fato de que os pais não têm disponibilidade suficiente para seus filhos. A forma de compensar essa falta é dando-lhes um excesso de liberdade, flexibilizando as normas e sufocando-as com objetos e experiências. Eles acreditam que, assim, estão proporcionando ao seu filho uma “vida melhor” do que a que eles tiveram, e que estão preparando-os para serem “melhores” do que os outros.

O ciclo de criação

A maioria destes pais diz que não faz mais do que trabalhar para poder dar aos seus filhos uma vida cheia de comodidades. Eles assumem que isso é o que as crianças querem: objetos caros, poucos limites e muitas atividades programadas para passar o tempo. Eles acreditam que quanto mais “cheio” de tudo um ser humano estiver, mais feliz ele é. Em contraste, qualquer desejo não satisfeito, qualquer vazio, para eles equivale a sofrimento e infelicidade.

Criança com terno segurando dinheiro

Estes pais também querem colocar seus filhos no caminho do sucesso total, o mais rápido possível. Eles querem treiná-los para estar acima da média. É por isso que os matriculam em um grande número de cursos e atividades extracurriculares. Eles não permitem que as crianças descubram por si mesmas quais são seus gostos e aptidões e que os desenvolvam de forma natural. Assim, as crianças têm acesso ao mundo adulto muito cedo.

No entanto, no final, não encontram aquela criança feliz e plenamente realizada, mas uma criança insatisfeita, infeliz e rebelde, com uma personalidade fraca e, ao mesmo tempo, teimosa.

Pressão e descontentamento

As crianças atuais não são diferentes das de antigamente. No fundo de seus corações ainda existem as mesmas necessidades que tinham as crianças de 20 anos atrás. Elas querem brincar, rir, interagir com a natureza, com os animais. Acima de tudo, elas querem ser amadas. A presença de seus pais lhes dá uma confiança e uma sensação de bem-estar que é insubstituível.

Alguns pais não entendem por que seu filho às vezes fica tão frustrado e chateado, fica doente com frequência ou desenvolve certas fobias. Eles têm boas intenções, mas não conseguem ver a diferença entre apoiar uma criança para ajudá-la a desenvolver todo seu potencial e a agradá-la e pressioná-la.

Menina com o rosto apoiado nas mãos

O pediatra Ralph Minear expressa cinco conselhos para a educação das crianças que vale a pena levar em conta:

  • Quando há muita liberdade, o resultado pode ser a desorientação moral e a falta de disciplina.
  • Muitos presentes materiais costumam ser o substituto da companhia e do carinho genuíno dos pais.
  • Se há muita pressão para que elas se destaquem, é frequente que as crianças respondam com estresse e dificuldade para definir suas próprias metas.
  • Um excesso de informação a uma idade inadequada gera confusão.
  • Proteção em excesso impede que elas se preparem para enfrentar os desafios da vida.

É importante entender que o desenvolvimento saudável de uma criança depende, em grande parte, de um equilíbrio entre os desejos cumpridos e as frustrações, entre as conquistas de liberdade pessoais e os limites que a realidade impõe. Uma boa criação é baseada no amor genuíno, aquele que é capaz de ensinar uma criança a dar valor a cada objeto e, com ele, a cada experiência.

Imagens cortesia de Shiori Matsumoto.


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