Você conhece a síndrome da utopia?

Você conhece a síndrome da utopia?
Beatriz Caballero

Escrito e verificado por a psicóloga Beatriz Caballero.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Autores como Watzlawick et al. (1974) explicam a formação de problemas e as suas possíveis causas. Uma das causas que pode levar à formação de problemas é a síndrome da utopia.

Cada pessoa tem uma visão sobre como são as coisas, e o que é ainda mais importante do que isso, sobre como elas deveriam ser. Quando existe uma discrepância entre essas premissas, exige-se uma mudança para resolver e dar sentido a essa dissonância.

“Enquanto perseguimos o inalcançável, tornamos impossível o realizável”.
-R. Ardrey-

O que é a síndrome da utopia?

Os seres humanos possuem uma tendência de buscar sempre um sentido para a vida. A síndrome da utopia da qual Watzlawick et al (1984) falam se refere à discrepância que o ser humano vive entre o seu “ser” o seu “deveria ser”.

Em relação a esse conceito, os autores falam de uma potencialidade, ou seja, esta discrepância exige uma mudança. Por isso, pode-se deduzir que o ser humano tem recursos que não utiliza ou que desconhece.

Mulher em jardim verde

Quando temos expectativas muito elevadas, podem aparecer problemas como a desesperança e a frustração existencial. A síndrome da utopia seria uma dessas formas de desesperança existencial.

Autores como Kierkegaard, Dostoiévski e Camus fazem referência a esse conceito, que implica a firme convicção de que existe um sentido para a vida, e de que temos que descobri-lo para sobreviver. Diante do reconhecimento de que existe um sentido para a vida, a pessoa trata de defini-lo de forma utópica e isso afeta tanto os instrumentos quanto o caminho que escolhemos para percorrer e alcançar uma mudança.

“Nesse tipo de desesperança existencial, a busca por um sentido ocupa um ponto central e se difunde para todos os aspectos da vida. O pensador coloca um óculos com lentes com esse questionamento para tudo que olha, com exceção dessa única premissa, ou seja, a firme convicção de que existe um sentido e de que temos que descobri-lo para sobreviver”.
-Kierkegaard, Dostoyevsky e Camus-

As três formas da síndrome da utopia

“Foi comprovado por meio de pesquisas que a utopia está além dos limites do mundo conhecido”.
-Guillaume Budé-

Os simplificadores não veem problema algum mesmo onde realmente existe um problema. Por outro lado, os utópicos veem uma solução onde não há nenhuma. Com frequência, o extremismo na solução de problemas humanos parece desembocar em um comportamento designado como a síndrome da utopia, que pode adotar três formas diferentes:

  • Introjetiva: diante do doloroso sentimento de inadequação pessoal, derivado da impossibilidade de alcançar o próprio objetivo, surgem consequências psiquiátricas (fuga, retraimento, depressão, suicídio…). Quando o objetivo é utópico, o mero fato de criá-lo já é um peso e a pessoa acaba se culpando por sua própria incapacidade.
  • Inofensiva: essa segunda variante é menos dramática e possui um certo encanto, já que trata-se de uma demora agradável em direção a um objetivo utópico. Poetas como Constantino Kavafis descreveram essa atitude como a de um navegante que aproveita a viagem, ainda que o caminho seja longo.
  • Projetiva: o ingrediente básico dessa atitude é a rígida convicção de ter encontrado a verdade e, por isso, assumir a responsabilidade de mudar o mundo. Com uma boa dose de persuasão e esperança, a pessoa vai tentar que os demais aceitem a sua verdade, obtendo um resultado totalmente oposto em alguns casos.
Perfil feminino

Os pensamentos com “deveria ser” ou “eu deveria” são pesados e nos prendem. São muito característicos da utopia introjetiva, já que o mapa mental costuma ser bastante rígido. Quando essa obrigação é muito forte, o objetivo não se concretiza e os caminhos para alcançá-lo se convertem em metas difusas.

O aforismo de Stevenson, “É melhor viajar cheio de esperanças do que chegar ao porto”, é muito representativo da utopia inofensiva, também conhecida como delação ou demora. Também são conhecidos como eternos viajantes que nunca conseguem terminar a sua viagem, como, por exemplo, uma pessoa perfeccionista ou um eterno estudante.

Todos nós gostamos que nos escutem e que os outros compartilhem ideias conosco, mas a vida não é sempre assim. Temos que aceitar que cada pessoa possui a sua própria verdade. Em relação a isso, quando um utópico projetivo não consegue que aceitem ou escutem sua ideia utópica, ele pensa que isso ocorre devido a atos de má fé ou inclusive que pretendem destruir a sua ideia.

Como conclusão, a melhor referência é a de Karl Popper, que advertiu que os esquemas utópicos deveriam conduzir forçosamente a outras crises. Em outras palavras, ele diz que é mais fácil propor um objetivo utópico, ideal e abstrato do que resolver problemas concretos. 


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  • Paredes, C. (s. f.). Concepto de hombre en la Terapia Breve y la Logoterapia: Coincidencias y Diferencias, 11.

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