Síndrome de Capgras: confundir pessoas queridas com impostores

Síndrome de Capgras: confundir pessoas queridas com impostores
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Você já ouviu falar da Síndrome de Capgras?

A capacidade de reconhecer os rostos das pessoas e discriminar entre rostos diferentes está presente desde o nascimento e se desenvolve durante os primeiros anos de vida. Mas o que aconteceria se alguma vez você se desse conta de que não é capaz de reconhecer algum familiar próximo? O que aconteceria se você pensasse que a pessoa foi substituída por um impostor?

Essa sensação tão estranha é o que as pessoas que sofrem da Síndrome de Capgras sentem. Elas acreditam que pessoas queridas foram substituídas por impostores que se fazem passar por elas.

No entanto, antes de nos aprofundar nessa síndrome, é necessário lembrar vários conceitos, como a prosopagnosia e os delírios, para compreender melhor e aprender diferenciar essas duas condições.

A prosopagnosia e os delírios

Em 1891 Sigmund Freud cunhou o termo agnosia para definir a incapacidade de captar o significado de vários estímulos sensoriais. Assim, a prosopagnosia é uma palavra que deriva da união dos termos gregos. “Prósopon”, que significa “cara” e “gnosis” que significa “reconhecimento”.

Como você pode imaginar, na prosopagnosia há a dificuldade para reconhecer rostos familiares. Isso acontece como consequência de lesões cerebrais, especificamente em regiões parietais e parieto-occipitais.

Por outro lado, um delírio é formado por ideias (chamadas delirantes) que são transformações fantásticas da realidade, crenças falsas baseadas em uma interpretação incorreta da realidade por parte do indivíduo.

Existem cinco modalidades de experiências delirantes: a percepção delirante, a interpretação delirante, o juízo delirante, a fantasia delirante e a inspiração delirante.

Feita essa introdução, devemos dizer que as síndromes de falsa identificação delirantes eram consideradas uma curiosidade até pouco tempo, quando passaram a ter mais relevância.

Síndrome de Capgras

Síndromes de falsa identificação

Nas síndromes de falsa identificação a percepção é registrada adequadamente, sendo incorreta a interpretação dessa percepção. Ou seja, o que o indivíduo vê é real, mas o que ele interpreta não é.

Existem quatro variantes da síndrome de falsa identificação delirante:

  • Síndrome de Capgras. O indivíduo sente falsamente que alguém próximo, como um parente ou um amigo, foi substituído por um sósia, que não é completamente igual.
  • Síndrome de Fregoli. A pessoa afetada acredita que um ou mais indivíduos alteraram sua aparência para ficar parecido com pessoas familiares com o objetivo de persegui-la ou enganá-la.
  • Intermetamorfose. O paciente acredita que as pessoas com quem convive trocaram de identidade.
  • Síndrome do duplo subjetivo. O indivíduo está convencido de que existem duplos idênticos a ele.

Qual dessas síndromes de falsa identificação é mais comum? A Síndrome de Capgras é a síndrome mais comum dos delírios de falsa identificação. Foi reportado que essa síndrome está presente em 5% dos pacientes psicóticos.

Síndrome de Capgras

A Síndrome de Capgras foi descrita em 1923 por Jean Marie Capgras e J. Reboul-Lachaux. Uma paciente de 53 anos com uma psicose crônica tinha a convicção delirante de que seu marido e seu filho tinham sido substituídos com o objetivo de prejudicá-la.

Também chamada de delírio de sósias, a Síndrome de Capgras é um transtorno psiquiátrico que consiste na não identificação de pessoas familiares, como já descrevemos anteriormente. A pessoa afetada acredita que as pessoas reais foram substituídas por um duplo, um impostor quase idêntico.

Na Síndrome de Capgras existe um reconhecimento sem sensação de familiaridade. É comum nessa síndrome que o cônjuge ou o filho da pessoa que sofre da síndrome induza um reconhecimento parcial (“se parece com…”), mas insuficiente para que a pessoa esteja convencida de sua identidade real.

O indivíduo duplo, ou impostor, adquire para o paciente os mesmos traços físicos da pessoa “original”. No entanto, sua mente ou sua personalidade não pertencem a ela, mas a um impostor.

O delírio do paciente que sofre de Síndrome de Capgras o leva a imaginar que o impostor age da mesma maneira que a pessoa verdadeira, criando confusões para ele e o colocando em evidência frente ao resto.

Síndrome de Capgras

Qual é a causa da Síndrome de Capgras?

A Síndrome de Capgras foi relacionada com várias patologias, geralmente esquizofrenia, déficit de vitamina B12, hipertiroidismo, diabetes mellitus, intoxicações, demências, etc.

Entre as teorias explicativas dos delírios foram propostas distintas síndromes de desconexão entre as diversas estruturas cerebrais implicadas, assim como outras explicações sobre a lateralização e a localização das disfunções que originam o delírio.

Para estabelecer o diagnóstico da Síndrome de Capgras é necessário que não exista comprometimento de consciência nem uma demência grave, pois nessas condições os erros no reconhecimento são frequentes e variáveis.

Tem tratamento?

Essa estranha síndrome é de difícil tratamento. Foram aplicados medicamentos antipsicóticos, antidepressivos, terapias cognitivas e de conduta com certo sucesso, mas nada garante uma cura.

Na terapia psicológica se utiliza principalmente a reestruturação cognitiva junto com intervenções com a família, devido ao desgaste emocional que essa síndrome representa.

A Síndrome de Capgras constitui um processo complexo, que não se limita a um simples problema de processamento facial. É uma disfunção múltipla baseada em processos cognitivos relacionados com a familiaridade e implicados na interpretação de percepções anômalas e na formação de crenças.

Bibliografia

KAPLAN, H. I., SADOCK, B. J. Sinopsis de psiquiatría. 8ª edición. Madrid: Panamericana – Williams &Wilkins, 1999.

Junqué, J. Barroso, J.. Neuropsicología. Madrid: Ed. Síntesis Psicología; 1999.


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