A síndrome do pânico em crianças

A síndrome do pânico em crianças
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

A síndrome do pânico em crianças não difere substancialmente da síndrome do pânico em adultos. Talvez o elemento mais diferenciador sejam as várias interpretações dos sintomas. Mas, antes de mais nada, vamos ver o que é a síndrome do pânico.

Uma síndrome do pânico é um transtorno de ansiedade. A ansiedade é uma emoção humana, muito humana. Consiste em uma ativação do sistema nervoso autônomo frente a estímulos ou situações que são identificadas como ameaçadoras. Possui, portanto, um caráter adaptativo, pois contribui para a sobrevivência ativando os recursos do organismo.

A ansiedade se torna problemática quando alcança uma intensidade muito elevada ou aparece em situações em que não existe um perigo real. Nesse caso, perde seu valor adaptativo, provocando mal-estar e um funcionamento anômalo da pessoa.

A ansiedade em crianças

As crianças e os adolescentes, assim como os adultos, podem manifestar um transtorno de ansiedade. Determinados acontecimentos, como, por exemplo, o início da fase escolar, o nascimento de um irmão, a perda de um familiar ou uma mudança de casa podem levar ao aparecimento do problema.

Apesar de compartilhar muitas semelhanças com a ansiedade de um adulto, a reação da criança aos sintomas difere significativamente. As consequências negativas da ansiedade infantil podem afetar mais do que na vida adulta, já que os recursos que uma criança possui para lidar com a ansiedade ainda não estão desenvolvidos.

Criança com síndrome do pânico

Especialmente determinados acontecimentos, suscetíveis de provocar um impacto emocional muito forte, podem interferir no processo de crescimento e amadurecimento no qual a criança se encontra. Além disso, as repercussões podem se manifestar no âmbito social, escolar, pessoal e familiar da criança, e podem evoluir para patologias mais graves.

Alguns transtornos de ansiedade são mais frequentes na infância do que outros, como, por exemplo, a ansiedade generalizada. Outros são problemas característicos de determinada idade ou de fatos muito específicos, como quando a criança se separa dos mais ou das figuras de apego.

A síndrome do pânico em crianças

A síndrome do pânico se caracteriza pela presença recorrente de ataques de pânico que duram minutos ou horas. Esses ataques consistem em sintomas aversivos (fisiológicos) e cognitivos que atingem sua maior intensidade nos dez primeiros minutos. Depois, diminui gradualmente.

Os sintomas mais característicos de um ataque de pânico são os seguintes:

  • Palpitações ou aumento do ritmo cardíaco.
  • Sudorese.
  • Tremores.
  • Sensação de falta de ar.
  • Sensação de sufocamento.
  • Opressão ou desconforto no tórax.
  • Náuseas ou desconfortos abdominais.
  • Instabilidade, vertigem ou desmaio.
  • Sensação de irrealidade ou despersonalização.
  • Medo de perder o controle ou ficar louco.
  • Medo de morrer.
  • Paratesias.
  • Ondas de calor ou calafrios.

Nas crianças, os sintomas mais frequentes são as palpitações, os tremores, a dificuldade respiratória e a vertigem (Last e Strauss, 1989). Como podemos perceber, nas crianças, os sintomas cognitivos são menos comuns (medo de morrer ou de perder o controle). O que predominam são os sintomas somáticos ou fisiológicos.

A síndrome do pânico na infância é mais frequente em meninas do que em meninos. Sua incidência é baixa em idades mais precoces. Observa-se uma incidência de 1% nos adolescentes (Lewinsohn, Hops, Roberts, Secley e Andrews, 1993). Geralmente, começa no final da adolescência ou por volta dos 30 anos de idade.

Por vezes, a síndrome do pânico em crianças pode aparecer junto com agorafobia. A agorafobia, por sua vez, é definida como o medo intenso de estar em situações das quais é difícil escapar ou pedir ajuda caso algum sintoma se manifeste.

Síndrome do pânico em crianças

Qual é o modelo explicativo da síndrome do pânico em crianças?

Ley (1987) considera que a ansiedade e o estresse são os dois desencadeadores mais comuns da hiperventilação, independentemente do fato de que esta possa ter outros motivos (condições médicas, exercício físico, consumo de cafeína, etc.).

A hiperventilação leva a uma respiração excessiva da criança para suas exigências metabólicas. Assim, a ventilação se torna muito alta em relação à taxa de produção de dióxido de carbono. Isso produz uma redução da pressão arterial de dióxido de carbono, abaixo dos valores normais.

As sensações que aparecem junto com a hiperventilação (sudorese, taquicardia, palpitações, vertigem, alterações na visão, sensação de asfixia, dificuldade para respirar, cãibras, etc.) provocam medo na criança. Dessa forma, essa sensação desencadeia o mecanismo de luta-fuga, aumentando os sintomas de hiperventilação e o medo das sensações.

Em suma, o aumento dos sintomas e o conseguinte medo representam um círculo vicioso que pode culminar com o aparecimento de um ataque de pânico. No entanto, a hiperventilação não é o único fator que explica o ataque de pânico. Outros fatores são a predisposição biológica e o condicionamento pavloviano, que explica os ataques de pânico por processos de associação.

Como vimos, a síndrome do pânico em crianças é muito parecida com o que os adultos podem sentir. Talvez a diferença mais significativa seja a interpretação dos sintomas, assim como a maior ou menor presença de sintomas físicos ou cognitivos.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.