O que é a síndrome do personagem principal?

Você apresenta seu verdadeiro jeito de ser nas redes sociais, finge ou mostra um personagem que não é? Estamos falando sobre a síndrome do personagem principal.

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 09 novembro, 2021

Você já ouviu algo a respeito da síndrome do personagem principal? Todos nós já sonhamos em algum momento que éramos os protagonistas de um filme ou de uma história de ficção. Neles, podemos nos imaginar como heróis, ou mesmo vítimas de uma história trágica, romântica ou engraçada que encenamos perfeitamente em nossas mentes.

A maioria de nós, sonhadores, passa a vida imaginando o presente como um nó no qual muitas rotas possíveis começam, onde interpretamos personagens que podem ser parecidos conosco, mas não são exatamente como nós. Isso sempre acontece em nossa mente, um espaço que ninguém acessa, a menos que queiramos compartilhá-lo expressamente.

O que é a síndrome do personagem principal?

Atualmente, dado o uso crescente das redes sociais, nas quais também usamos a nossa mente e a colocamos a serviço da tecnologia, essa ficção pode se tornar realidade sem sequer percebermos, a ponto de atingir a nós mesmos e as pessoas à nossa volta.

Estamos falando de uma nova síndrome a nível psicológico, não de uma condição médica – pelo menos ainda. Ela começou a ser discutida por especialistas em saúde por exibir uma série de comportamentos que consistem em alguém se apresentar como o líder absoluto da sua própria vida ou de outra pessoa, entre outras coisas.

Uma vida que se apresenta e se desenvolve através das redes sociais, e cuja consequência mais imediata é o irreprimível desejo natural de ser reconhecido e validado, a todo custo, mesmo apresentando-se como uma pessoa que não está na sua vida real.  

Autopromoção ou MCS?

A chamada main character syndrome ou MCS (na sua sigla em inglês) se refere a observar o mesmo rosto repetidamente em diferentes ambientes. No Instagram, por exemplo, é muito comum ver como alguém “promove” sua vida como se fosse uma história em capítulos, onde relata os lugares que já visitou, ou escreve sobre cada lugar que frequenta, seja para jantar ou tomar café da manhã..

Mas isso não é uma coisa nova; na verdade, hoje isso é visto como uma coisa normal, mas será que realmente é? Em algum momento, muitos de nós já fizemos isso. Então, onde está o problema?

Por um lado, a autopromoção é um comportamento que tenta transmitir alguma informação sobre si mesmo ou sobre a sua imagem para outras pessoas. É uma forma de expressar a nossa personalidade por meio da exposição de nossos gostos e nosso modo de viver; é uma espécie de motivação no comportamento humano.

Um estudo denominado Self-Presentation Theory: Self-Construction and Audience Pleasing , publicado por especialistas em psicologia social, a define como motivações humanas que são ativadas quando nos sentimos avaliados por outras pessoas, mas também pelo conhecimento dos outros, que pode ser a motivação para que alguém se comporte assim.

“As redes são sonhos e os sonhos, redes são…”

Quando adotamos comportamentos diferentes dos nossos repertórios ou costumes habituais para destacar aspectos da nossa própria personalidade, isso é algo válido e normal até certo ponto.

O problema das pessoas com a síndrome do personagem principal surge quando querem parecer alguém completamente diferente para agradar, fingir, demonstrar, buscar reconhecimento ou fama e, em última instância, deixar sua marca nas redes sociais apresentando um culto exagerado ao ego.

As muitas plataformas que já existem para a comunicação digital tornam mais fácil cair na armadilha da síndrome do personagem principal. O anonimato proporcionado pelas redes permite que muitas pessoas se reinventem e, em casos extremos e muito perigosos, apresentem falsas versões de si mesmas que podem levar a problemas psicológicos como o transtorno de personalidade narcisista.

Para o psicólogo e escritor especialista nos efeitos sociais da tecnologia Phil Reed, esses tipos de fantasias podem levar a comportamentos que, às vezes, imitam aqueles observados em transtornos de personalidade: “Comportamentos fantasiosos mantidos como um escape também podem ser um problema sério para aqueles vulneráveis ao desenvolvimento problemas psicológicos, como ansiedade e depressão, e não apenas a transtornos de personalidade.”

Para Phil, as redes sociais são um meio em que esses tipos de condições psicológicas podem se agravar, uma vez que a linha que separa o real do ficcional torna-se cada vez mais tênue. “Temos que ter o cuidado de distinguir a síndrome do personagem principal da invenção de um ‘personagem’ de artistas profissionais.”

As redes sociais fazem com que seja muito mais fácil e rápido para qualquer pessoa apresentar uma falsa versão de si, e há um paralelo nesse sentido com as fake news, Elas não são um fenômeno novo, mas foram muito promovidas pelas redes sociais.