Sonambulismo e estresse: qual é a relação?

Emoções intensas, como ansiedade e estresse, costumam estar por trás dos fenômenos do sonambulismo. Escrevemos este artigo para que você conheça um pouco mais sobre essa associação.
Sonambulismo e estresse: qual é a relação?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Sonambulismo e estresse possuem uma relação muito próxima. Este distúrbio da vigília é mais comum em crianças; no entanto, os adultos também o experimentam em vários estágios da vida. Fatores como exaustão, insônia, problemas de saúde e, principalmente, fatores emocionais são os gatilhos mais comuns.

A verdade é que essa relação não foi muito estudada pela ciência até muito recentemente. Agora sabemos que os processos de estresse e ansiedade aumentam o aparecimento das parassonias. Assim, quem sofre ou já sofreu de sonambulismo entre os 20 e os 50 anos só precisa se perguntar algo específico.

Eu tinha alguma preocupação naquele momento? Havia algo perturbando a minha calma psicológica? Geralmente, o fator emocional se correlaciona muito significativamente com o que os neurologistas chamam de “distúrbio da excitação do sono não REM”.

O sonambulismo pode ter várias origens genéticas, emocionais, e também associadas aos efeitos colaterais de alguns medicamentos, como o zolpidem.

Homem sofrendo de sonambulismo e estresse

Qual é a relação entre o sonambulismo e o estresse?

Estima-se que o sonambulismo seja uma experiência comum entre crianças de 3 a 13 anos de idade. Nessa idade, sua incidência é reduzida e um repouso mais profundo e maduro é adquirido. No entanto, isso não significa que na vida adulta estejamos completamente livres dessa parassonia.

Isso ocorre por uma série de razões. A primeira é que, como revela um estudo da Universidade de Helsinque (Finlândia), estamos diante de uma doença genética. É comum que grupos de irmãos sofram com ela e a tenham herdado, por sua vez, de um dos pais. Por outro lado, há um fato marcante.

Existem pessoas que, embora nunca tenham experimentado nenhum episódio de sonambulismo na infância, o fazem na idade adulta. Eventos causadores de níveis elevados de estresse, como a perda do emprego, um colapso emocional ou a perda de um ente querido, podem ativar os mecanismos neurais que regem essa experiência.

As parassonias e os distúrbios emocionais

Chamamos de parassonia o distúrbio de comportamento que surge durante o sono e que ocorre com despertares repentinos. Assim, este rótulo diagnóstico inclui despertares confusionais, terrores noturnos e episódios de sonambulismo. No entanto, é verdade que quem vivencia este último fenômeno não acaba acordando propriamente, e se encontra naquela fronteira tênue entre o sono e a vigília.

Livros como Ansiedad y trastornos del sueño (Ansiedade e Distúrbios do Sono, em tradução livre), publicado pelo professor da Universidade de Valencia (Espanha) Mariano Chóliz, apontam algo notável. As variáveis sonambulismo e estresse aparecem com mais frequência na idade adulta, geralmente entre os 20-50 anos.

Além disso, segundo pesquisas como as conduzidas na Universidade Chinesa de Hong Kong, o sonambulismo é comum em pessoas com problemas psiquiátricos. O complexo é que, às vezes, os próprios medicamentos para tratar estados elevados de ansiedade e insônia, como o zolpidem, também aumentam o fluxo dessas parassonias.

Sonambulismo e transtorno de estresse pós-traumático

O estresse pós-traumático é uma condição psicológica causada após uma experiência de grande impacto emocional. Ter sofrido maus-tratos, abusos sexuais, ter presenciado ou vivenciado um acontecimento violento na própria pele, ou sofrer a perda repentina de um ente querido, constrói os alicerces deste transtorno.

Nesses casos, o sonambulismo e o transtorno de estresse pós-traumático também constroem um relacionamento significativo. Os sintomas são muito amplos nessas realidades clínicas, e uma dessas manifestações são as parassonias. É comum sofrer de terrores noturnos e episódios de sonambulismo. Nesses casos, eles costumam ser acompanhados de grande intensidade emocional, visto que é comum reviver o evento traumático durante o sono.

O fator “medo” e distúrbios do sono

Sabemos que o sonambulismo e o estresse às vezes são dois lados da mesma moeda. No entanto, essa parassonia surge especialmente em momentos de alta intensidade emocional. Medo, situações altamente estressantes e ansiedade costumam ser os gatilhos mais comuns.

Sentir-se ameaçado, vivenciar uma grande incerteza, lembrar de algo chocante que vimos ou sentimos… Tudo isso deixa uma marca em nosso cérebro que aumenta os episódios de sonambulismo. Esse componente emocional faz com que surja uma alteração durante o estágio IV do sono não REM, momento em que a pessoa pode se levantar durante a noite enquanto dorme.

Homem preocupado porque sofre de sonambulismo

Como reduzir esse tipo de parassonia?

Não existem tratamentos para as parassonias. Sabemos que o sonambulismo nas crianças desaparece com o tempo e que, nos adultos, o essencial é identificar os gatilhos que o causam. Portanto, é importante observar que, quando uma pessoa vivencia essas experiências, muito provavelmente está passando por um momento de vida estressante.

O que podemos fazer nesses casos? Estas seriam algumas chaves:

  • Identifique problemas de saúde pré-existentes.
  • Identifique os estressores que causam esses problemas do sono noturno.
  • Verifique que tipo de medicamento a pessoa toma. Existem drogas que causam sonambulismo.
  • Aprenda técnicas de higiene do sono noturno. A terapia cognitivo-comportamental para problemas de sono, por exemplo, é muito eficaz nesses casos.

Para concluir, uma vez que o sonambulismo e o estresse estão significativamente relacionados, não hesitemos em pedir a ajuda de um especialista. Se tratarmos os gatilhos, ganharemos qualidade de vida e bem-estar.


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