Stimming: compreendendo a importância do comportamento autoestimulante

O stimming é um comportamento comum no autismo que alivia a sobrecarga sensorial e emocional. Entretanto, ele pode interferir no funcionamento diário da pessoa. Agora, por que e como isso acontece?
Stimming: compreendendo a importância do comportamento autoestimulante
Elena Sanz

Escrito e verificado por a psicóloga Elena Sanz.

Última atualização: 17 março, 2023

O autismo é um espectro e, como tal, acomoda realidades muito diferentes. Nem todas as pessoas com autismo têm o mesmo funcionamento social, o mesmo QI ou as mesmas habilidades ou interesses. Porém, há uma característica que ocorre com frequência e que, aos olhos do observador, pode ser não só marcante como também incompreensível e perturbadora. É o que conhecemos como stimming.

Este termo refere-se ao que conhecemos como comportamento autoestimulatório ( self-stimulatory behaviour) e consiste em uma ação repetitiva sem propósito aparente, mas que ajuda a pessoa a se regular. Esses comportamentos também são conhecidos como estereótipos e não são exclusivos do autismo. Podem ocorrer em pessoas com vários defeitos sensoriais ou neurológicos, em pessoas com TDAH e até em pessoas sem nenhum tipo de patologia.

O debate que surge em torno do stimming é: devemos tentar eliminá-lo ou reduzi-lo? Ou, ao contrário, devemos entendê-lo e respeitá-lo? Exploramos ambas as posições abaixo.

menino piscando
Stimming é um comportamento autoestimulante que ajuda a pessoa a se autorregular.

O que é stimming?

Como dissemos, o termo stimming se refere a esses comportamentos rítmicos e repetitivos que são reproduzidos de forma estereotipada e que a pessoa usa para se regular internamente. Essa autoestimulação pode envolver qualquer um dos cinco sentidos e assumir muitas formas.

Por exemplo, uma pessoa pode roer as unhas ou emaranhar o cabelo com os dedos quando está entediada ou nervosa, e ninguém que esteja assistindo ficaria surpreso. No entanto, quando alguém balança ritmicamente, bate as mãos ou bate a cabeça, as pessoas ao seu redor ficam extremamente surpresas. Na realidade, a função subjacente é a mesma e a diferença se encontra no tipo e na intensidade da estimulação, de forma que uma é mais aceita e normalizada que a outra.

Como exemplo, podemos classificar os seguintes tipos de stimming :

  • Visual: como piscar repetidamente.
  • Auditivo: como emitir gritos agudos ou repetir frases ou palavras.
  • Tátil: como esfregar a pele ou bater com os dedos.
  • Olfativo ou gustativo: como cheirar objetos ou lambê-los.
  • De movimento: como pular ou balançar para frente e para trás.

Compreendendo o comportamento autoestimulatório

Embora stimming aparentemente não tenha propósito, a verdade é que é uma forma de autoestimulação e

. É um mecanismo de adaptação que a pessoa usa em certas situações complicadas e transbordantes. Assim, algumas de suas principais funções são as seguintes:

Autoestimulação

Como o próprio nome indica, o comportamento stimming ou autoestimulante serve para fornecer à pessoa aquela estimulação que ela não obtém do ambiente. Quando ela se encontra entediada, em ambientes pobres ou atividades monótonas, ela pode recorrer a esses estereótipos.

Regulação sensorial

Também pode ter a função oposta, que é distrair ou “proteger” a pessoa de um ambiente muito estimulante. Luzes muito fortes, barulhos altos, agitação, multidões e outros elementos semelhantes podem sobrecarregar os sentidos, sendo incapazes de processar tal estimulação.

Assim, o stimming ajuda a compensar o distúrbio na integração sensorial e proporciona sensações agradáveis de alívio, relaxamento, segurança e bem-estar.

Gestão emocional

Esses comportamentos também são úteis quando a pessoa está enfrentando um transbordamento emocional. Por exemplo, quando os outros exigem muito dela, quando a situação social é estressante ou complicada, ou quando o ambiente é desconhecido ou ameaçador, ela pode não saber como lidar. O stimming ajuda a regular essas emoções intensas e a reduzir a ansiedade.

Comunicação e expressão

Finalmente, às vezes também tem um papel importante na comunicação e na expressão emocional. O stimming pode ser a forma pela qual a pessoa expressa seu desconforto, para que o ambiente reduza as demandas ou ofereça suporte ou apoio. Mas também pode ser uma expressão de emoção, felicidade e alegria, por exemplo. É, em última análise, um meio de comunicação.

menino tocando seus pés
O stimming pode interferir no funcionamento diário se se tornar frequente e intenso.

O stimming deve ser eliminado?

Tradicionalmente, considera-se que os comportamentos autoestimulantes ou estereotipados devem ser controlados e corrigidos. Assim, foram elaborados protocolos de intervenção para atuar sobre eles. Porém, nos últimos tempos, muitos profissionais, especialistas e adultos com autismo acreditam e defendem que o stimming deve ser compreendido e respeitado, tendo em vista as funções que cumpre para quem o executa. E é que constitui um mecanismo de enfrentamento útil e muito relevante.

Existem alguns pontos que levam a considerar que pode ser necessário intervir a este respeito. Por exemplo:

  • Às vezes, o stimming pode ser autolesivo, por exemplo, quando a pessoa bate a cabeça.
  • Pode ser que distorça a atenção e isso dificulte a aprendizagem e o desenvolvimento normal da pessoa.
  • Esses tipos de comportamento alimentam a si mesmos; isto é, ao serem gratificantes, eles se reforçam. Assim, eles podem levar a pessoa a se tornar excessivamente autoabsorvida, ou aumentar tanto em frequência e intensidade que interferem no funcionamento diário normal.
  • Pode ser estigmatizante, pois certos estereótipos não são compreendidos ou vistos favoravelmente pela sociedade. Isso pode dificultar as relações sociais e causar rejeição.

Desta forma, antes de intervir sobre comportamentos autoestimulantes, é importante determinar se eles causam algum dano ou interferência ou se, pelo contrário, são uma ferramenta útil para a pessoa. Caso seja necessário intervir, será importante entender o que causa o aparecimento de stimming e ensinar à pessoa outros recursos com os quais lidar e se regular sensorial e emocionalmente.

Além disso, a pessoa pode ser instruída a realizar uma ação alternativa e incompatível com o stimming, que seja mais aceita e menos perturbadora. Da mesma forma, atuar sobre certos elementos ambientais (como o grau de estimulação ou demanda) pode ser de grande ajuda.


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