O susto: quando a alma deixa o corpo

O susto: quando a alma deixa o corpo
Francisco Pérez

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Pérez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Se perguntarmos a alguém o que é susto, provavelmente nos dirá que é uma reação de sobressalto. Assim, quando algo nos dá medo, podemos nos assustar. Estamos falando de uma sensação que nasce da percepção/intuição de uma ameaça.

Se consultarmos a Wikipédia, encontraremos a seguinte definição: “o susto, sobressalto ou reação de alarme é uma resposta da mente e do corpo a um estímulo súbito e inesperado, como a luz de um flash, um som alto ou um movimento rápido perto do rosto. No caso dos seres humanos, a reação inclui um movimento físico, uma contração dos músculos dos braços e pernas e, muitas vezes, um piscar de olhos”.

No entanto, não é sobre esse tipo de “susto” que falaremos neste artigo. Existem distúrbios ou conceitos culturais de desconforto que são específicos de certas culturas ou sociedades. O susto é uma doença existente nas lendas populares que agitam o imaginário de alguns povos andinos. Este é o tipo de “susto” do qual estamos falando.

O susto como um conceito cultural de desconforto

As síndromes dependentes da cultura falam de “padrões de comportamento incomuns e experiências perturbadoras, recorrentes e específicas de um determinado local”. Alguns desses padrões são considerados pelos nativos como “doenças” ou, pelo menos, como causas de sofrimento, e a maioria é conhecida por nomes locais.

Essas síndromes são limitadas a sociedades específicas ou áreas culturais, e dão um significado coerente a certos conjuntos de experiências e observações.

Senhora com roupa colorida

Dessa forma, o susto é uma explicação cultural do desconforto e do infortúnio prevalente entre alguns latinos nos Estados Unidos. Também ocorre em pessoas do México, América Central e América do Sul. Na região andina, o susto é conhecido como espanto.

Este conceito não é reconhecido como uma categoria de doença entre os latinos caribenhos. Mas então, o que é o susto? O susto é uma doença atribuída a um evento aterrorizante que faz com que a alma deixe o corpo.

Esta divisão ocorre como resultado da infelicidade e de doenças, além da dificuldade de desempenhar papéis sociais fundamentais. Os sintomas podem aparecer a qualquer momento: podem ser alguns dias até anos depois de sofrer o evento que o assustou. Em casos extremos, pode levar à morte.

O espanto ou susto pode ser definido como um “impacto psicológico” de intensidade variável que acontece como resultado de vários fatores. Entre eles, encontramos aqueles de natureza sobrenatural, fenômenos naturais e circunscritos em experiências pessoais que surgem como eventos inesperados.

Como podemos ver, o susto é uma entidade nosológica com uma afiliação tradicional que se estende praticamente por toda a América Latina. No entanto, as formas pelas quais é conhecido, a propensão para adquiri-lo e as práticas terapêuticas ou rituais preventivos, têm conotações particulares relacionadas às diferentes regiões geográficas.

Como o susto se manifesta?

Não há sintomas específicos que o definam. No entanto, os sintomas muitas vezes aparecem como transtornos alimentares, insônia ou sono excessivo, sono agitado ou pesadelos, sentimentos de tristeza, baixa autoestima, sensibilidade interpessoal e apatia.

Os sintomas corporais que acompanham o susto podem ser desconforto e dores musculares, extremidades frias, palidez, dor de cabeça, dor abdominal e diarreia. Os eventos que o provocam são diversos. Esses eventos incluem fenômenos naturais, animais, situações interpessoais, entidades sobrenaturais, entre outros.

“O susto ou espanto pode ser definido como um impacto psicológico de intensidade variável que acontece como resultado de vários fatores. Entre eles, encontramos aqueles de natureza sobrenatural, fenômenos naturais e circunscritos em experiências pessoais que emergem como eventos inesperados”.

As doenças somáticas são geralmente crônicas e muito diversas. Elas são atribuídos à “perda do ânimo” induzido, como dissemos anteriormente, por um medo intenso, muitas vezes sobrenatural. Em alguns casos, os eventos traumatizantes não são sofridos de maneira pessoal.

Os pacientes são afetados quando outras pessoas (geralmente membros da família), se assustam. Outros sintomas incluem agitação, anorexia, insônia, febre, diarreia, confusão mental ou apatia. Diferentes estudos atribuem alguns casos à hipoglicemia e doenças orgânicas não especificadas. Também têm sido atribuídos aos transtornos de ansiedade generalizada ou estresse causado por conflitos sociais ou baixa autoestima.

Índio com preparação em panela

Tipos de susto

Foram identificados três tipos de susto chamados de cibih na língua zapoteca (falada em algumas regiões do México). Cada um deles tem relações diferentes com diagnósticos psiquiátricos.

O susto interpessoal é caracterizado por sentimentos de perda, abandono e não ser amado pela família. Os sintomas que o acompanham são: tristeza, baixa autoestima e pensamentos suicidas. Esse tipo de susto parece estar intimamente relacionado ao transtorno depressivo maior.

Outra possibilidade é que o susto seja o resultado de um evento traumático que desempenhou um papel fundamental na configuração dos sintomas e no processamento emocional da experiência. Nesse caso, o diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático parece mais apropriado.

Por outro lado, há também o susto caracterizado por vários sintomas somáticos recorrentes, para os quais a pessoa já procurou assistência de vários médicos. Então, é considerado semelhante a um distúrbio somático.

Como vimos, o susto é classificado e tratado como um todo, no qual elementos específicos podem ser reconhecidos. Embora não exista um equivalente exato dessa doença popular, é uma condição que, às vezes, pode ser confundida com outras doenças, devido à complexidade do diagnóstico diferencial. Dessa forma, pode até ocultar diferentes patologias orgânicas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.