Um tapa nunca será capaz de educar como o carinho educa
Este artigo é dedicado a todas as pessoas que pensam que “um bom tapa a tempo é o que as crianças precisam para que parem de besteira”. Falo sobre o tapa, aquele famoso que as pessoas dão nas crianças para corrigir seus problemas de comportamento. Falo sobre isso para que possamos pensar em quão triste é.
Passamos de um modelo educativo no qual as crianças não podiam abrir a boca a uma mistura de modelos que desorientam os pais e criam um caos nas referências das próprias crianças. Uma espécie de Torre de Babel na qual o relativismo impera: tudo é questionável, tudo pode ser ruim, tudo pode ser bom. Depende, como dizia a canção.
Então, nem tudo é questionável. Na educação, como em qualquer âmbito, também existem linhas vermelhas que nunca deveríamos ultrapassar. Uma delas é a da violência.
Um tapa é violência, um beliscão também é violência
“Se eu não bater no meu filho, se não lhe der um tapa de vez em quando para que ele se comporte, ele vai se esquecer de quem manda”, “Na verdade, dói mais em mim do que nele”, “Não gosto, mas às vezes é a única opção que me resta”. Bom, em primeiro lugar, se ensinarmos aos nossos filhos que a violência – independentemente do tipo que seja -, serve para conseguir um propósito, é isso que eles vão aprender.
Pense que nossas ações para educar, no fim, são as que mais educam: não há nada que ensine mais do que o exemplo que as pessoas dão como referência.
Eles provavelmente também não vão gostar de bater em seus companheiros de sala, mas vão usar isso como uma opção, já que seus responsáveis, pais ou educadores também usam disso como uma possibilidade. De fato, utilizam isso com ele, que é muito amado; então, por que não usar isso com quem gostamos menos?
“Às vezes não tenho outra opção”. Essa frase conecta a violência à frustração, talvez não em seu enunciado, mas sim na realidade. No tapa ou no beliscão está a frustração de não ter conseguido agir de outra maneira, e muitas vezes esconde a raiva por fazer algo que detesta. Uma emoção, o que implica mais energia para descarregar e, portanto, acaba gerando um tapa mais forte.
Um tapa é triste, um beliscão também é triste
Triste porque podem causar dor, triste porque podem causar medo, triste porque podem causar lágrimas. Triste porque podem causar as três coisas ao mesmo tempo, sem ensinar nada. Esta punição , como todas as punições, concentra o foco de atenção em algo negativo, que não seria necessário fazer. Um beliscão não fala de comportamentos alternativos. Pode ser que você diga ao seu filho que ele não deve bater nos seus colegas de sala, mas se ele sentir que precisa reagir a algo, diante de uma negativa, é isso que ele vai fazer.
Dessa forma, a criança pode passar de bater a ameaçar, a discriminar, a isolar, a insultar. Assim, vai receber gritos, beliscões ou tapas por todos estes comportamentos juntos, e vai continuar sem saber como reagir a negativas.
Outro dos comentários populares é “Eu apanhei quando criança e cresci muito bem”. Por sorte, às vezes nos saímos bem “apesar de”, não “graças a”. Provavelmente alguém te ensinou no que você deveria focar para fazer as coisas da forma certa, e a não utilizar a violência como a arma de negociação.
Pense que essa é a questão, não outra. Felizmente, é muito estranho que alguém fique com um trauma devido a um tapa ou beliscão, mas o que eu quero dizer é que é possível educar sem utilizá-los, pode-se educar melhor sem isso. E sim, isso requer mais esforço, mais paciência, mais reflexão e tempo compartilhado com as crianças. Tempo de qualidade, e não do que sobra depois de chegar do trabalho, de limpar a casa, passar as roupas, fazer a comida e organizar as compras.
É preciso prestar atenção no que as crianças fazem. Não podemos vê-las somente como moscas que não nos deixam ver TV ou descansar um pouco depois de um dia cansativo.
Se nos dedicarmos a elas, os tapas e os beliscões vão desaparecer, porque simplesmente não vão fazer falta. Não precisamos de uma medida drástica para arrumar uma árvore que ficou muito retorcida, podemos conseguir resolver com carinho.
Isso não dói em ninguém. E pense, existe algo mais bonito? Além disso, as crianças também têm seus assuntos importantes…