Tenho ansiedade todos os dias: o que posso fazer?
“Tenho ansiedade todos os dias, vivo com o caos de pensamentos sempre ameaçadores e com aquela pressão eterna no peito que me impede de respirar.” Muitas pessoas descrevem essa realidade psicofísica exaustiva. É difícil ser produtivo nessas circunstâncias, é difícil manter um relacionamento e até encontrar coragem para se levantar todas as manhãs.
Alguns descrevem esse estado como se alguém repentinamente ligasse um botão. Então, a pessoa vai da calma para a opressão absoluta em um instante. A taquicardia aparece, as emoções são interrompidas e a fábrica de preocupações é acionada. Assim, embora a ansiedade seja um estado físico e mental normal, o problema surge quando ela excede as habilidades de gerenciamento da pessoa.
É como dirigir um carro e, de repente, sentir que a direção não está funcionando. O mundo está se acelerando e o sentimento de angústia e de que “algo terrível vai acontecer” é uma constante. É importante entender que, quando esse estado se torna cotidiano, podemos estar diante de uma condição psicológica mais complexa.
A ansiedade generalizada é uma condição mais estável ao longo do tempo que costuma afetar significativamente a vida da pessoa.
Por que tenho ansiedade todos os dias?
A verdade é que todos sentimos uma certa ansiedade no dia a dia. Nosso ritmo de vida inocula em nós, de vez em quando, aquela sensação de falta de ar, de vazio no estômago e de relativa pressão que a maioria de nós conhece. Porém, são experiências que dominamos e que desaparecem quando relaxamos e desfrutamos de momentos de lazer.
Agora, há quem se sinta incapaz de descansar, pensar com clareza e desfrutar de alguma coisa, porque a ansiedade é persistente e deixa tudo opaco. Certos pensamentos se tornam intrusivos e ameaçadores. Muitas vezes sofremos de insônia, o cansaço é uma constante, o amanhã está sempre cheio de ameaças, preocupações com a saúde, preocupações com o trabalho, o futuro, o provável e ainda mais o improvável.
A vida se torna um emaranhado sufocante de angústia, embora a própria pessoa saiba que tudo o que teme é injustificado. Qual é a causa? Por que uma pessoa pode sofrer de ansiedade persistente?
Ansiedade generalizada, tão comum quanto negligenciada
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é uma condição psicológica estável ao longo do tempo e, em muitos casos, tem seu início já na adolescência. Não estamos errados se dissermos que essa realidade é o que está por trás da pergunta de por que tenho ansiedade todos os dias.
Esse distúrbio condiciona completamente a vida de quem sofre com ele. O mais complicado é que muitas pessoas sofrem em silêncio sem receber um diagnóstico. Às vezes, essa maneira de pensar e reagir às coisas é considerada um traço de personalidade.
A verdade é que estamos diante de uma doença tão prevalente quanto grave. Pesquisas como as realizadas na University of Sherbrooke, por exemplo, mostram que, em muitos casos, junto com a ansiedade generalizada, a depressão se desenvolve.
Estas são as características que definem este tipo de ansiedade de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5):
- A evolução do transtorno é flutuante e crônica (às vezes vai embora, mas sempre volta) e piora em momentos de estresse.
- Surgem preocupações persistentes e difíceis de controlar.
- Surge junto com outros problemas clínicos, como fobias, depressão e transtornos do pânico.
- Pessoas com ansiedade generalizada experimentam exaustão quase todos os dias.
- Perturbações do sono.
- Problemas de concentração.
- Ocorrem inúmeras somatizações, como dores de cabeça, tonturas, problemas digestivos, taquicardias, etc.
Em geral, as pessoas que se perguntam “por que tenho ansiedade todos os dias” sofrem, sobretudo, o efeito físico desse transtorno, que faz com que sua qualidade de vida fique muito reduzida.
Pessoas com ansiedade generalizada têm problemas no trabalho, sociais e familiares. Além disso, é comum irem ao médico muitas vezes devido aos sintomas físicos.
O que fazer diante dessa situação?
“Se tenho ansiedade todos os dias, devo entender que não posso continuar assim.” É necessário buscar ajuda especializada. É preciso entender que essa condição clínica leva, em muitos casos, à depressão maior, e não é conveniente ir a esse extremo.
Da mesma forma, deve-se levar em consideração que essa condição é resultado de múltiplos fatores, incluindo traumas genéticos e também psicológicos.
Portanto, em vez de focar no clássico “por que isso está acontecendo comigo?”, vamos nos concentrar no “o que posso fazer por mim?”. A estratégia mais adequada nesses casos é a psicoterapia e o tratamento farmacológico. Neste último caso, os mais comuns são os antidepressivos e os benzodiazepínicos.
- No que diz respeito à abordagem psicológica, a mais comum e eficaz é a terapia cognitivo-comportamental. Graças a ela, trabalha-se a interação entre pensamentos, emoções e os comportamentos que reforçam a ansiedade.
- A terapia de aceitação e compromisso (ACT) também pode ajudar. Permite-nos administrar pensamentos ansiosos, aceitar/compreender as sensações desconfortáveis, a complexidade da vida e, por sua vez, esclarecer nossos valores para nos engajarmos em objetivos e um estilo de vida mais significativo.
Por fim, só se pode levar em conta que cada realidade é única e cada pessoa se beneficiará de um determinado tratamento/abordagem terapêutica. A ansiedade generalizada é uma condição complexa, e precisamos de um grande empenho para compreendê-la, vivê-la e superá-la.
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